Além de gerar baixo desempenho econômico para o pecuarista, as pastagens degradadas se tornaram elemento-chave em um mundo preocupado com as mudanças climáticas. A recuperação delas e a integração lavoura-pecuária (ILP) – duas tecnologias disponíveis que contribuem para a resolução do problema – vão, juntas, responder por cerca de 12% do compromisso voluntário do governo brasileiro de reduzir em até 38,9% a emissão de gases de efeito estufa até 2020, segundo proposta do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Na prática, a contribuição dessas ações deverá ser ainda maior. É o que avalia o pesquisador Geraldo Martha, da Embrapa Cerrados – unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Como atualmente a abertura de novas áreas para pastagens é uma das causas do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, a recuperação das áreas de pecuária de baixa produtividade já usadas atualmente vai ser fator fundamental para liberar áreas para acomodar a expansão de alimentos, fibras e biocombustíveis sem a necessidade de novos desmatamentos.
Como a redução de desmatamento na proposta do MMA vai ser responsável por 63,59% do compromisso de redução na emissão de gases de efeito estufa, a intensificação da produção animal em pastagens pode ser, direta ou indiretamente, responsável por 76% das ações de mitigação (NAMAs) propostas pelo governo brasileiro para 2020. “Isso demonstra a importância e urgência de investimentos em pesquisa agrícola e em transferência de tecnologia para dar suporte a essas estratégias de mitigação de gases de efeito estufa, por um lado, e em linhas de financiamento adequadas e outros incentivos para a adoção de boas práticas de manejo em larga escala pelos produtores rurais, por outro”, ressalta Geraldo Martha.
Com a integração lavoura-pecuária, a ideia é que a intensificação do uso da terra proporcione ganhos de produtividade. Isso deve evitar o deslocamento direto ou indireto da pecuária para regiões de fronteira e liberar áreas já abertas para aumentar a produção de alimentos, fibras e biocombustíveis sem a necessidade de novos desmatamentos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Embrapa Cerrados, se um pasto de baixa produtividade e com taxa de lotação de 0,4 cabeça por hectare passa a abrigar cinco animais na mesma unidade de área, cada hectare com essa taxa de lotação que é recuperado pela integração lavoura-pecuária libera outros oito para outros usos.
Além de contribuir na redução do desmatamento, o crescimento de produtividade em si redunda em benefícios para o meio ambiente. “Um pasto produtivo pode ser tão eficiente na conservação do solo e da água quanto uma floresta”, explica Geraldo Martha. Segundo o pesquisador, a grande quantidade de raízes no solo contribui para o aumento da matéria orgânica, o que incrementa também a captura carbono da atmosfera e melhora a eficiência de uso da água e de nutrientes no sistema.
Outro grande problema da pecuária relacionado ao efeito estufa é a emissão de metano pela digestão dos bovinos, que também é diminuída pela melhor qualidade das forragens. Estudos da Embrapa apontam que a emissão do gás pelos animais pode cair pela metade quando eles são criados em sistemas com elevada disponibilidade e valor nutritivo de forragem, como em sistemas de integração lavoura-pecuária bem manejados. “E a boa notícia é que o aumento no desempenho animal em pastagens, além de reduzir o impacto ambiental negativo da pecuária, geralmente aumenta o retorno econômico do empreendimento”, acrescenta Martha.
Para o pesquisador da Embrapa Cerrados Lourival Vilela, que coordena os estudos de pesquisa em integração lavoura-pecuária na Embrapa (Prodesilp), pelo menos metade das pastagens brasileiras estão em algum grau de degradação. Nessas condições, o solo é geralmente de baixa fertilidade e assim há menor produtividade do capim, o que aumenta o custo de produção, especialmente em pequenas propriedades. Esse quadro de baixa produtividade das pastagens ainda causa perda de matéria orgânica, erosão e compactação do solo. Por outro lado, a integração lavoura-pecuária, além de beneficiar o meio ambiente, permite maior eficiência no uso de fertilizantes, redução de plantas invasoras e ganhos de produtividade tanto nas lavouras quanto na pecuária.