O Brasil é o maior produtor mundial de maracujá, com um milhão de toneladas da fruta por ano, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
A produtividade alcançada, no entanto, é considerada baixa – a média é de 14 toneladas/ha/ano. E isso deve à qualidade das variedades.
Como é um produto agrícola bastante requisitado pelas indústrias de sucos prontos, polpa de fruta e consumo familiar, desenvolver novas variedades de maracujazeiro é sempre bem vindo, principalmente por causa das mudanças climáticas e do consumo de água. Foi com esse foco que cientistas da Embrapa Semiárido lançaram a BRS Sertão Forte.
“Quando o produtor adota cultivares melhoradas geneticamente e tecnologias adequadas ao sistema de produção, a produtividade pode ultrapassar 50 toneladas por hectare ao ano. O maracujá é uma excelente alternativa para geração de emprego e renda no campo e na cidade”, destaca a estatal no documento “Maracujá – o produtor pergunta, a Embrapa responde”, da coleção “500 perguntas 500 respostas” (link encurtado: ow.ly/mZnr30drV97).
Combinações de espécies
A nova cultivar de maracujá foi desenvolvida a partir de uma combinação de espécies, após mais de uma década de pesquisas, resultando na primeira variedade dessa fruta nativa da Caatinga, que é recomendada para cultivo comercial. Ela é resultado do melhoramento genético realizado por pesquisadores da Embrapa Semiárido, em parceria com a Embrapa Cerrados (DF).
Seu desenvolvimento foi possível depois de variados acessos a maracujazeiros silvestres (Passiflora cincinnata), que foram coletados em diferentes áreas de Caatinga, no Nordeste brasileiro. Em comparação com as plantas nativas, a BRS Sertão Forte apresenta maior produtividade e maior tamanho e rendimento dos frutos.
Vantagens
O maracujá da Caatinga ou maracujá do mato apresenta vantagens em relação a outras cultivares comerciais de maracujá azedo (Passiflora edulis), especialmente por ter maior tolerância ao estresse hídrico, já que é adaptado, de forma natural, às condições do Semiárido.
De acordo com a Embrapa, a nova cultivar apresenta ainda um ciclo produtivo mais longo, o que significa que a planta vive e produz por mais tempo no campo, com maior tolerância à fusariose, uma das principais doenças que ataca o maracujazeiro azedo.
Os frutos
Os frutos da BRS Sertão Forte, quando maduros, têm coloração verde clara, e pesam de 109 a 212 gramas. A polpa é bastante ácida, própria para o processamento, de coloração esbranquiçada ou amarelo clara, com 8 a 13°Brix. O rendimento da polpa chega a 50%, quando extraída em despolpadora rotativa; e em torno de 35% se for extraída, manualmente, com uma peneira.
“Essa variedade pode ser cultivada com baixo custo tecnológico e com limitação de água. Por isso, é bastante apropriada para a agricultura familiar das áreas dependentes de chuva, com foco principalmente na produção orgânica”, destaca o engenheiro agrônomo Francisco Pinheiro de Araújo, da Embrapa Semiárido, responsável pelo desenvolvimento da nova cultivar.
Conforme a estatal, há um bom tempo, agricultores pernambucanos viram no maracujá, de modo geral, uma boa alternativa para complementar a renda das famílias. Hoje, elas já comercializam produtos como geleia, calda e mousse, e ainda vendem o fruto in natura.
Desempenho
A BRS Sertão Forte, além de ser indicada para as áreas com restrição hídrica da Caatinga, também apresenta bom desempenho em áreas irrigadas.
De acordo com as pesquisas, seguindo as mesmas recomendações técnicas para o maracujazeiro azedo comercial, é possível produzir de 14 a 29 toneladas da variedade por ano.
Segundo o pesquisador Francisco Pinheiro, a cultivar silvestre tem ainda potencial para ser plantada nas bordas dos cultivos de maracujá amarelo. isso porque suas flores abrem por volta das cinco horas da manhã, enquanto as de variedades de maracujazeiro azedo abrem no final da manhã ou à tarde.
A cultivar silvestre, nesse caso, atrai os polinizadores para as primeiras horas do dia e aumenta o tempo e, consequentemente, a eficiência da polinização natural, o que está diretamente ligado ao aumento da produtividade.
Testes no Cerrado
A BRS Sertão Forte, além da sua região nativa, também foi testada no Cerrado do Distrito Federal, na região Centro-oeste do país, onde apresentou boa produtividade em sistemas de produção em espaldeira e latada.
Pesquisador da Embrapa Cerrados, Fábio Faleiro avalia que “essa cultivar, desenvolvida a partir de uma rica biodiversidade brasileira, será uma opção a mais para os produtores, tanto para diversificar sua produção quanto para melhorar a eficiência da polinização manual do maracujazeiro azedo, que é uma das práticas que demanda muita mão de obra nos cultivos comerciais”.
Sementes
A Embrapa já está disponibilizando as sementes do maracujá BRS Sertão Forte para viveiristas interessados na produção e comercialização de mudas, por meio de edital encerrado no último dia 30 de junho.
Logo após o licenciamento, a estatal divulgará os nomes e contatos desses viveiristas para os agricultores interessados na aquisição de mudas.
Fonte: Embrapa Semiárido