Produtores rurais de Claraval, no sudoeste mineiro, aproveitam essa técnica nas culturas de café, hortaliça e frutas
Em Claraval, no Sudoeste de Minas, muitos agricultores familiares filiados à Cooperativa das Agricultoras e Agricultores Orgânicos de Claraval e Região (Coorgânica), que engloba também produtores de mais sete municípios próximos, aderiram homeopatia para cuidar de suas plantações de café, hortaliças e frutas, cultivadas no sistema. A técnica é também utilizada na pecuária leiteira.
Segundo o técnico do escritório local da Emater-MG de Claraval, Enes Pereira Barbosa, a Coorgânica começou a usar a homeopatia a partir de 2018, após ele e alguns produtores participarem de um curso de Agro-homeopatia, no campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Florestal.
“Foi a partir daí que replicaram as técnicas e as práticas da homeopatia com os demais cooperados. Foi um processo de demonstração de resultados, por meio de dias de campo, encontros, palestras, reuniões, oficinas e seminários”, explica.
Além disso, foram criados grupos de estudos formados também por produtores locais e dos municípios de Pratápolis e Capetinga, com o objetivo de estudar, praticar e aplicar os preparados homeopáticos. “Atualmente todos os cooperados utilizam algum tipo de homeopatia em suas propriedades”, afirma.
Atualmente, a Coorgânica contar com um grupo de estudos virtuais, formado por extensionistas e agricultores, que se reúne semanalmente. “Participam do grupo 57 produtores, mais os técnicos, para discutir sobre os medicamentos homeopáticos, quando e como utilizá-los, criando uma troca de experiência para o fortalecimento do grupo e a melhoria dos processos de produção”, explica o extensionista.
De acordo com o técnico, essa é uma tecnologia inovadora, de baixo custo, que muitas vezes utiliza insumos da própria da propriedade e que tem trazido excelentes resultados. “Podemos destacar, casos de hortas e lavouras de café atingidas pela geada. Como vinham sendo tratadas com homeopatia, a recuperação foi muito melhor que as lavouras não tratadas”, garante.
Prevenção
A agricultora familiar Adelina Maria Pereira de Souza e seu marido Luciano Riarto Santana estão entre os primeiros cooperados da Coorgânica a usarem a homeopatia em suas plantações, no Sitio dos Ipês, no distrito de Três Barras, em Claraval. A iniciativa teve início em 2017 e algumas aplicações têm sido de forma preventiva.
“A gente usa produtos homeopáticos como prevenção, frequentemente, e são excelentes os resultados”, afirma Adelina, citando como ficou o cafezal, após forte geada na região, no ano passado. “Mesmo com uma queda, porque a geada foi bem forte, o café aguentou bem e a brotação foi boa, diferente do vizinho, cujos pés de café queimaram e a brotação foi atrasada”, conta
O casal também utiliza os preparos homeopáticos no controle da ferrugem do cafeeiro, doença provocada por um fungo que causa manchas nas folhas de uma coloração que vai do amarelo escuro a marrom, provocando a desfolha da planta. “Com a aplicação de Arnica Montana 6CH, a ferrugem foi aniquilada. A homeopatia fez com que a planta reagisse contra a cercoesporiose. O café está uma maravilha”, comenta Pereira.
A propriedade de Adelina e Luciano tem 5,8 hectares e possui seis certificações. Uma delas é o Certifica Minas, concedido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). A produção é orgânica e bem diversificada. O casal possui 12 mil pés de café, cultiva hortaliças variadas (alface, almeirão, chicória, cheiro verde, tomate, cenoura, beterraba, chuchu e pimenta) e frutíferas (banana, manga, goiaba, jabuticaba, pitanga, morango e seriguela).
Toda a produção é certificada, sendo que o café é exportado e vendido a particulares. As hortaliças e frutas são comercializadas para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e para os 120 clientes particulares o casal realiza entregues em domicílio semanalmente, desde o início da pandemia.
Cooperativa
A Coorgânica começou em 2017, a partir da ação de 12 mulheres que queriam vender verduras orgânicas para o Pnae e tinham necessidade de emitir nota fiscal. Elas se organizaram e fundaram a cooperativa, que hoje tem 63 cooperados, entre homens e mulheres, de 16 municípios de Minas Gerais e de seis municípios de São Paulo.
Dirce de Souza Rodrigues, presidente da cooperativa, está começando a usar os preparos homeopáticos, mas afirma que os relatos dos cooperados sempre destacam os impactos positivos da homeopatia nas culturas. “Pelo que tenho ouvido aqui dos testemunhos, no nosso grupo, os resultados são excelentes”, garantiu.
Com a ajuda do extensionista Enes Pereira, ela aderiu à experiência e no dia 27 de janeiro deste ano aplicou pela primeira vez a Arnica Montana 6CH, na lavoura de café convencional. “Fizemos o experimento para combater a broca e a ferrugem. Agora estamos aguardando os resultados”, relata.
Dirce é proprietária do Sítio Capoerão, de 15,8 hectares, no distrito de Porteira da Pedra, em Claraval. No local, ela também produz hortaliças, mandioca e banana no sistema orgânico. Os produtos são comercializados para o Pnae, em Claraval, e Franca, município paulista. Ela também vende as hortaliças para clientes particulares.