Novo levantamento do Observatório do Brasil Orgânico mapeia pela primeira vez com profundidade os perfis da produção certificada, a aponta crescimento nestas regiões impulsionado principalmente pelo extrativismo sustentável, como o açaí e o babaçu (Foto: Sylvia Wachsner)
Um retrato inédito da produção orgânica no Brasil acaba de ser divulgado pelo Observatório do Brasil Orgânico (IBO), durante o Congresso Internacional da Agricultura Orgânica na Bio Brazil Fair – BioFach América Latina.
A análise, baseada no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), traz dados atualizados até maio de 2025 e revela um panorama detalhado da distribuição, escopos de produção e mecanismos de controle da qualidade orgânica em todo o país.
A Região Sul mantém a liderança em número de unidades produtivas, concentrando 35% dos produtores cadastrados, seguida pelo Nordeste (25%) e pelo Sudeste (20%).
Mas o dado que mais chama atenção é o crescimento consistente nas regiões Norte e Centro-Oeste — impulsionado principalmente pelo extrativismo sustentável, como o açaí no Pará e o babaçu no Maranhão.
“Entender as diferenças regionais e respeitar as particularidades das autoridades orgânicas locais é fundamental para a formulação de políticas públicas eficazes”, afirma Rogério Dias, ex-Coordenador de Agroecologia do MAPA e conselheiro do IBO.
“Cada região tem sua vocação, e isso precisa ser valorizado com estratégias adequadas, construídas com base em dados concretos”.
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Produção vegetal primária ainda dominas

A produção primária vegetal – como frutas, hortaliças, cereais, grãos, legumes, raízes e tubérculos — domina os escopos de produção, representando mais de 60% das unidades cadastradas. Foto: Sylvia Wachsner
A produção primária vegetal – como frutas, hortaliças, cereais, grãos, legumes, raízes e tubérculos — domina os escopos de produção, representando mais de 60% das unidades cadastradas.
O extrativismo sustentável aparece com força no Norte, enquanto o processamento de origem vegetal e animal é mais concentrado no Sudeste e Sul.
Os mecanismos de certificação também refletem realidades distintas: o Norte e o Nordeste têm predominância da certificação por auditoria — viabilizada por empresas processadoras —, enquanto o Sul se destaca pelo uso de sistemas participativos de garantia (SPG) e organizações de controle social (OCS), reforçando a centralidade da agricultura familiar na região.
Para o presidente do IBO, José Pedro Santiago, a sistematização das informações representa um marco.
“É a primeira vez que conseguimos reunir, mapear e cruzar tantas informações com esse nível de profundidade. Isso nos prepara para o lançamento do Atlas dos Orgânicos durante a realização do Congresso Internacional de Orgânicos, que será sediado no Brasil em maio de 2026.”
A análise completa, com gráficos, mapas e séries históricas desde 2013, estará disponível no site do Instituto Brasil Orgânico.
O levantamento consolida o Cadastro Nacional como ferramenta essencial não só para a regulação, mas também para o fomento ao mercado e o desenho de políticas públicas alinhadas às realidades regionais do país.