Venda de alimentos folhosos foi um dos itens de maior crescimento. De acordo com levantamento, algumas empresas que entregam em domicílio duplicaram suas entregas
O setor de alimentos orgânicos no Brasil obteve um incremento de vendas na faixa de 30% a 50% em 2020, com variações dependendo do tipo de alimento comercializado. Esse foi o resultado de uma pesquisa realizada pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), por meio do Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos), reunindo diversos produtores.
Ainda segundo o estudo, a venda de alimentos folhosos foi um dos itens de maior crescimento. No caso de empresas que entregam cestas de alimentos orgânicos em domicílio, o estudo mostrou algumas delas duplicaram as entregas.
“Como em outros países, as pessoas entenderam a importância de uma alimentação saudável em épocas de pandemia e a facilidade de se comprar online ou por meio das mídias sociais como uma forma de adquirir produtos sem sair de casa”, disse a diretora da SNA e coordenadora do CI Orgânicos, Sylvia Wachsner.
“Pequenos produtores que comercializavam nas feiras municipais, diante do fechamento de algumas delas, ou da mudança de horários, optaram por entregar as cestas na casa de seus consumidores. Rapidamente adaptaram-se a comercializar via WhatsApp. A pandemia deu uma visibilidade maior aos produtos orgânicos”, destacou Sylvia.
De modo geral, a produção orgânica brasileira registrou um saldo bastante positivo em 2020. Segundo estimativa da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), o setor obteve crescimento de 30% e movimentou R$5.8 bilhões.
Continuidade
Para a diretora da SNA, a tendência de crescimento dos alimentos orgânicos deverá continuar em 2021, mas em nível menor que o salto observado em 2020, “em razão da retração econômica do País e também pela redução da ajuda emergencial do governo que movimentava o dinheiro em circulação”.
Sylvia acredita que o crescimento das compras de cestas online, que garantem entregas em casa, deverá se manter este ano.
Grupos de empresas
Como parte dos esforços do setor atingir o grande público, a diretora da SNA observou que há uma tendência de formação de grupos de empresas que comercializam e distribuem orgânicos, sobretudo de hortifrútis, que estão ganhando escala devido a fatores como tecnificação, controle de qualidade, utilização de insumos adequados e planejamento da produção.
“São empresas de São Paulo, Paraná e Brasília que, ao mesmo tempo que produzem, formam parcerias com outros produtores e comercializam seus produtos. Conseguem escalar a produção e criar uma logística de fornecimento constante de hortaliças, com qualidade e variedade a preços competitivos que permite abastecer o grande varejo”, explicou Sylvia.
“Isso é interessante para os consumidores, mas devemos lembrar que no Brasil contamos com agricultores familiares e produtores menores que têm dificuldade de concorrer com esse tipo de distribuição”.
Agricultura familiar
Outro aspecto ressaltado por Sylvia é que, durante a pandemia, devido ao fechamento das escolas, a compra de alimentos da agricultura familiar foi bastante prejudicada.
Segundo ela, em 2019, os volume arrecadado com vendas para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi de R$ 27 milhões. Até setembro de 2020, a rentabilidade do programa foi de R$ 3.6 milhões, uma redução considerável, prejudicando, sobretudo, os produtores de folhosas.
“É importante que os gestores municipais respeitem a legislação que indica que 30% das compras para a merenda escolar deve ser realizada pela agricultura familiar e não priorizar a compra das grandes redes. Isso prejudicou também os agricultores familiares que fornecem alimentos orgânicos”, enfatizou Sylvia.
Carência de dados
Além disso, a especialista voltou a criticar a carência de estatísticas oficiais sobre o setor. “O Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura é uma tabela Excel, bastante incompleta, na qual faltam informações de volumes produzidos, tamanho das propriedades, etc.”.
Sobre as exportações brasileiras de orgânicos, acrescentou Sylvia, “a situação e ainda pior, pois o Pais não conta com nenhuma informação oficial sobre quais são os produtos exportados, para quais mercados foram vendidos, quem exporta, volumes, entre outros detalhes”.
Na última semana, o CI Orgânicos realizou uma pesquisa no site do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA, e ficou constatado que, com sua base de dados, é possível conhecer os produtos que são comprados do Brasil, com a respectiva indicação dos compradores.
“Na produção orgânica norte-americana, essa base de dados permite a realização de pesquisas”, disse Sylvia, acrescentando que “a obtenção de informações oficiais é uma antiga reivindicação da SNA”.