Para não perder oportunidades, grandes empresas já iniciaram de inovação voltados para o setor de orgânicos, com novas marcas e produtos que atendem aos anseios do consumidor
As grandes agroindústrias alimentares estão perdendo uma parcela de participação no mercado com o ingresso de pequenas empresas e produtores de orgânicos. A afirmação é da diretora da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos), Sylvia Wachsner.
Segundo ela, para não perder mercado, “algumas dessas grandes empresas já iniciaram programas de inovação, elaboram novas marcas e produtos para atender aos anseios dos consumidores, que estão mais exigentes em relação à qualidade dos alimentos, preferindo os mais saudáveis e, com isso, adquirem poder de escolha”.
Sylvia, que participou esta semana em São Paulo de dois eventos para debater o mercado de orgânicos, disse que os alimentos produzidos sem agrotóxicos e outras substâncias químicas são os que mais crescem em market share, registrando aumento de vendas nos supermercados. “Isso demonstra uma forte tendência”, sinalizou.
Inovações
Durante o debate “Orgânicos na Mesa: da produção ao consumo”, organizado pela Ecocert, Organis, Carrefour, SNA e Maneje Bem, a coordenadora do CI Orgânicos citou algumas inovações que buscam atender às exigências dos consumidores, entre elas, os alimentos produzidos à base de plantas, como a carne vegetal e laticínios. Neste caso, pontuou a diretora da SNA, “é necessário que o consumidor também exija que estes vegetais sejam orgânicos”.
“No varejo e nas feiras especializadas há marcas menores e produtos novos como a quinoa e a chia, que estão ‘na moda’ por razões de saúde. Com isso, aos poucos, os desejos e os anseios do consumidor estão sendo respondidos pelos produtores e varejistas”, acrescentou a especialista.
Indústria
No painel “Orgânicos, Naturais e Veganos”, que fez parte da programação do Summit Future of Nutrition, na Fi South America 2019, Sylvia falou sobre o papel da indústria para alavancar o crescimento da cadeia de alimentos orgânicos.
Na ocasião, a diretora da SNA citou como exemplos a serem seguidos a produção integrada da cadeia de avicultura convencional entre indústrias e produtores, e a cadeia de leite orgânica criada pela Nestlé, que envolve parcerias, serviços de assistência técnica e capacitação de agricultores familiares no cultivo de milho (neste caso, utilizando como base um dos manuais publicados pelo CI Orgânicos).
No mesmo evento, especialistas discutiram questões como a capacidade de manutenção de escala e qualidade para a produção de orgânicos diante do aumento da demanda e o aprimoramento dos modelos comerciais entre indústria e produtores.
Números
Na ocasião do debate “Orgânicos na Mesa”, o diretor da Organis, Cobi Cruz, antecipou alguns dados de uma pesquisa sobre o perfil do setor, que foi lançada há poucos dias (Leia a reportagem da revista A Lavoura clicando em alavoura.com.br/?p=7466).
Ele informou que os orgânicos no Brasil movimentam R$ 4 bilhões por ano, correspondendo a 1% do mercado mundial, e que a penetração dos orgânicos no mercado subiu de 15% (segundo pesquisa realizada em 2017) para 19%.
Além disso, há 20 mil unidades produtivas de orgânicos cadastradas no País (em 2006 eram cerca de 12 mil). O Paraná é o Estado com o maior número de unidades – mais de três mil – e o Sul é a região onde se localiza a maior parte das unidades produtivas. Ainda segundo o diretor da Organis, o mercado de orgânicos no mundo já ultrapassou a barreira dos US$ 100 bilhões.
Saúde
O motivo da procura pelos orgânicos continua a ser o fator saúde. “Devemos falar para o consumidor que o orgânico é muito mais que um benefício individual ou um produto sem agrotóxico. Ele é também um benefício coletivo ambiental e social, que não expõe o trabalhador a insumos nocivos. Quando o consumidor percebe isso, ele passa a entender muito mais o valor do orgânico”, ressaltou Cruz.
Ele destacou ainda que o setor precisa democratizar o acesso à inovação e à tecnologia. “Pequenos produtores muitas vezes não têm condições econômicas para adotar novas técnicas e processos”.