Iguaria originária de Açores, Portugal, é a 100ª Indicação Geográfica do Brasil e a 12ª do Estado
Um dos símbolos da gastronomia do estado, o Barreado do Litoral do Paraná foi reconhecido como a centésima Indicação Geográfica (IG) brasileira, na modalidade Indicação de Procedência (IP), pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
O prato, que possui preparo típico e segue tradições de mais de 200 anos, é o 12º produto com IG no Paraná – o terceiro estado em número de Indicações Geográficas, atrás de Minas Gerais (16) e Rio Grande do Sul (13).
A Indicação Geográfica foi concedida à Associação de Restaurantes e Similares de Morretes e Região, que engloba 11 restaurantes de Morretes, Antonina e Paranaguá. O pedido de registro teve o apoio do Sebrae/PR e foi protocolado em 24 de abril de 2021.
“A conquista da 12ª IG paranaense é resultado de um trabalho que vem sendo desenvolvido desde 2012, com o Café do Norte Pioneiro, que seguirá para os próximos anos e que está alinhado com a nossa busca pelo crescimento, fortalecimento e desenvolvimento dos pequenos negócios no campo”, celebra o diretor-superintendente do Sebrae/PR, Vitor Roberto Tioqueta.
Marco
O reconhecimento do barreado é também um marco para o Brasil por ser a centésima Indicação Geográfica concedida pelo INPI e ocorre 20 anos após o primeiro registro, concedido em 2002, para os vinhos do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul.
Das 100 IGs, 76 são Indicações de Procedência, onde a região é conhecida por seu produto ou serviço, e 24 são Denominações de Origem, quando o produto ou serviço possui características e qualidades decorrentes de fatores naturais e humanos.
“A IG pertence a uma coletividade, pode ser um instrumento de política agrícola e contribui para o desenvolvimento regional, já que a certificação promove aumento do valor do produto no mercado; acesso a mercados especiais; ampliação das estratégias de comercialização, da quantidade produzida e das pessoas no território; geração de empregos; turismo; produção mais sustentável; conservação da memória histórica e inclusão social”, destaca o diretor de Marcas, Desenhos Industriais e Indicações Geográficas do INPI, Felipe Augusto Melo de Oliveira.
História
O barreado é um produto típico do litoral do Paraná, feito à base de carne bovina cozida exaustivamente em uma panela hermeticamente fechada com goma de farinha de mandioca, de acordo com a tradição originária dos Açores, em Portugal.
Passado um tempo mínimo de oito horas de cozimento após a fervura, produz-se um resultado único, com a carne macia e desmanchando-se, para ser servida, usualmente, com farinha de mandioca branca e banana da terra, segundo a documentação apresentada ao INPI.
De acordo com a presidente da Associação dos Restaurantes e Similares de Morretes e Região e proprietária do restaurante Madalozo, em Morretes, Tania Madalozo, o prato era feito para o dia de festas, em especial para o carnaval. As famílias que viviam em sítios do litoral faziam o alimento de um dia para o outro para ter forças para as festas.
“As pessoas comiam peixe o ano todo e, nessa época, optavam por um prato diferente. Ele também era relacionado às festas de fandango, dança típica da região. Nessas ocasiões, o prato era reaquecido a cada refeição”, explica.
Tradição
O tropeirismo é uma tradição essencial para o desenvolvimento da economia e do povoamento do Paraná como um todo, mas que, na região litorânea, favoreceu ainda a gênese e a afirmação do produto como típico dos três municípios mencionados.
Localmente, o barreado é considerado mais que uma iguaria, sendo um produto resultante da manifestação gastronômica da cultura da região, presente em festividades como casamentos, batizados e aniversários, bem como nas festas comunitárias e religiosas, de acordo com a documentação enviada ao Instituto.
“Esse reconhecimento será muito celebrado e nos ajudará manter a receita original do barreado, contar e unificar essa origem e essa maneira de servir em todos os restaurantes. Vai contribuir ainda para que ele mantenha esse sabor típico, essa história, assim como divulgar esse prato que é uma marca cultural do nosso litoral”, arremata Tania.