Produção artesanal do socol garante sabor especial, sem perder a essência da receita tradicional
Originário da região do Vêneto, no nordeste italiano, o socol, um tipo de presunto cru, tem uma relação especial com a história de Venda Nova do Imigrante, cidade localizada no interior do Espírito Santo. Os imigrantes italianos que se instalaram no município trouxeram com eles a tradição de preparar essa iguaria para celebrar ocasiões especiais. Porém, esse foi apenas o começo da história.
Com a promoção do agroturismo no município, o aperitivo ganhou visibilidade e espaço no mercado para complementar a renda das famílias desses imigrantes. O resultado é que, em 2021, o socol celebra, pelo terceiro ano seguido, a certificação de Indicação Geográfica (IG), registro concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) aos produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem.
“O socol é um bem do Município que tem muita história. Ele ganhou espaço, visibilidade, capacitação e a indicação geográfica. A produção desse tipo de embutido atrai turistas e pretendemos ampliar o acesso a isso”, destaca Jorge Uliana, secretário Municipal de Turismo, Cultura e Artesanato.
Produto
Essa iguaria é um tipo de embutido de lombo suíno cru, temperado com sal, pimenta e alho. A produção artesanal desse aperitivo teve algumas melhorias, mas preserva a essência da receita passada pelos imigrantes de geração em geração. Após o tempero, a carne é envolvida pelo peritônio, uma membrana que recobre a parede abdominal do porco, e depois é armazenada por cerca de seis meses para a cura e a maturação, até chegar ao produto final. Ele é servido em fatias finas para realçar o sabor.
“O socol não é só um pedaço de carne que é vendido no mercado. Ele carrega a história de um povo. Na bagagem do imigrante, com certeza, havia socol. Esse embutido faz parte da história de superação e sucesso da imigração italiana de Venda Nova”, destaca o presidente da Associação de Produtores de Socol (Assocol), Alexandre Zanete Cesquim.
Ele acrescenta que, além das características históricas, o presunto se destaca pelo versatilidade para consumo. “Pode-se harmonizar o socol com bebidas como vinhos e cervejas artesanais da região. Ele pode ser consumido puro, com azeite ou limão a gosto. A alta gastronomia o utiliza na composição de pratos bem elaborados como em molhos, coberturas e recheios de massas tanto de macarrão quanto de pães, na produção de risoto e hambúrguer artesanal”, informa.
Fabricação
Um dos produtores de socol de Nova Venda, o Sítio Lorenção tem total identificação não só com o produto como também com a história do município. A trabalhadora rural e proprietária do sítio, Bernardete Maria Lorenzoni Lorenção, conta que, antes de começar a produzir o socol, tanto ela quanto a família se dedicavam a outras atividades no campo.
“Somos adeptos da agricultura familiar, sempre trabalhamos na roça produzindo brócolis, cenoura e outras verduras para levar para o Ceasa. E o meu marido, José Lourenço, ‘roubava’ socol que a mãe dele fazia, para comer com os amigos tomando cachaça”, lembra Dete, como é conhecida na região. “Nesse meio tempo, ele percebeu que todos gostavam do socol, como tira-gosto, e começou a fazer algumas pecinhas para vender, com a ajuda dos amigos, para comprar a carne que servia de matéria-prima para a produção.
Segundo ela, o socol era apenas um meio de conservação da carne, pois, à época, não tinha geladeira. “Assim, quando matávamos os porcos, fazíamos o socol como forma de conservar a carne”, explica.
Com o passar do tempo, de acordo com a empresária rural, eles foram, aos poucos, produzindo uma quantidade cada vez mais da iguaria. “Com a entrada do agroturismo aqui na cidade, o socol passou a ser conhecido também pelos turistas, através da propaganda boca a boca”, informa Dete.
Por conta do reconhecimento e do aumento da procura pelo socol do Sítio Lorenção, a proprietária começou a fazer outros produtos, como os antepastos. “O primeiro foi o tomate seco. Com isso, fomos saindo um pouco da roça e conseguindo nos manter com o agroturismo, que agora é a nossa maior fonte de renda”, pontua.
Equipe
A proprietária do Sítio Lorenção destaca o trabalho em família como um dos segredos do sucesso da atividade. “Depois de longa caminhada, os filhos estudaram, e voltaram, e, hoje, trabalhamos eu, meu marido José Lorenção e meus filhos Bernardo e Graccielli. Além disso, contamos com a ajuda de outros dois funcionários”, detalha.
Atualmente, o Sítio Lorenção produz 14 tipos de antepastos, o socol (cerca de 600kg por semana) e outro embutido chamado Culatello, que é produzido apenas no inverno e demora um ano para maturar. “Os antepastos são feitos de acordo com a saída, pois nossos produtos não têm conservantes e são totalmente artesanais”, pontua.
A empresária explica que a marca Socol era registrada por eles, porém, quando eles fizeram a Associação do Socol para obter a IG, tiveram que ceder a marca para a Associação. “Hoje temos o Selo Arte para o Socol, que permite que possamos vender em todo território brasileiro, e também a IG, que foi uma forma de proteção do nosso produto, da nossa receita e história”, arremata Dete.