Couro acabado do Vale do Sinos é o único certificado no mundo

Diferentemente de outras Indicações Geográficas do Brasil, que costumam ter seus ambientes como grandes diferenciais, no caso do couro acabado do Vale dos Sinos, a arte de trabalhar com esse material faz toda a diferença, o que transforma a região do Rio Grande do Sul em uma referência internacional na fabricação desse tipo de produto

O couro acabado do Vale do Sinos, no Rio Grande do Sul, é a primeira Indicação Geográfica (IG) de um produto industrial brasileiro e o único couro certificado no mundo. Ele foi destaque da edição impressa nº 701 da Revista A Lavoura, que está disponível em plataforma online.

Conquistada em 2009, a IG abrange 44 municípios do Estado, que obedecem à produção industrial altamente controlada. Suas normas rígidas visam à qualidade e incluem desde o recebimento da matéria-prima até o produto final. Os vários tipos de couro produzidos e acabados do Vale do Sinos são utilizados para a confecção de calçados, vestuário, estofamentos, entre outros produtos.

Após a conquista do selo de Indicação Geográfica, a regulamentação da produção passou a ter referências em normas técnicas nacionais e internacionais, protegendo-a nos mercados interno e externo e seguindo rígidos padrões de controle ambiental.

Essas mesmas regras também otimizam os processos de produção das indústrias, gerando ganhos e promovendo qualidade. Sete empresas, que geram 550 empregos diretos, estão autorizadas a exportarem o couro com IG.

Flexibilização

A instalação da indústria calçadista no século XX levou ao aperfeiçoamento da atividade produtora de insumos: a indústria de curtumes na região. Foto: Sebrae

Segundo o presidente da Associação das Indústrias de Couro do Rio Grande do Sul (Aicsul), Moacir Berger de Souza, as regras rígidas têm impedido o crescimento da certificação no Vale do Sinos.

“Estamos tentando junto ao MAPA flexibilizar um pouco as regras a fim de facilitar a entrada de outras, entre as 100 empresas estimadas na região, mas com cuidado para não prejudicar os pioneiros nesse processo, que tanto lutaram por esse diferencial”, diz Moacir Berger.

Segundo ele, pesquisas recentes de mercado revelaram que o consumidor ainda não sabe o que é uma IG, nem mesmo seu valor, o que demonstra a necessidade de mais divulgação.

Colonização alemã

A produção de couro acabado do Vale do Sinos tem suas origens na imigração alemã, iniciada em 1824, no Rio Grande do Sul. O contingente de imigrantes era composto, em sua maioria, por artífices – alfaiates, tecelões, sapateiros, seleiros, curtidores de couro, marceneiros e carpinteiros. Aliado a isso, o Rio Grande do Sul possuía, então, o maior rebanho bovino do país.

A demanda de mercado, impulsionada pelas guerras do século XIX e pela instalação da indústria calçadista no século XX, levou ao aperfeiçoamento da atividade produtora de insumos: a indústria de curtumes. Essa mão de obra qualificada foi fundamental para a consolidação da atividade coureira na região, uma IG baseada na arte do saber fazer.

A produção de couro acabado do Vale do Sinos tem suas origens na imigração alemã, iniciada em 1824. Foto: Sebrae

O Brasil é um dos maiores fabricantes de couro do mundo, atrás apenas dos Estados unidos e da união Europeia. A indústria de elaboração de couros e peles bovinas agrega aproximadamente 800 empresas, que processam cerca de 40 milhões de peles por ano.

Procedência

Registro IG 200702 INPI

Indicação de Procedência/2009

Área Geográfica Delimitada: 1.398 km²

(44 municípios da região metropolitana de Porto Alegre-RS)

Informações

Aicsul (Associação das Indústrias de Couro do Rio Grande do Sul)

Tel.: (51) 3273-9100

www.aicsul.com.br

Fonte: Revista A Lavoura Edição 701