Muito procurado para consumo, é importante que o produto avance no reconhecimento de uma identidade original
A manta de carneiro é uma das preciosidades do Sertão dos Inhamuns e, para comprovar a região cearense como o polo de procedência desse item no Brasil, o Instituto Federal do Ceará (IFCE), campus de Tauá e a Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral-CE) submeteram projeto de Indicação Geográfica da manta ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com o objetivo de indicar bens materiais e imateriais das regiões brasileiras.
O projeto também foi contemplado em uma chamada pública da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC). O registro para reconhecimento da Indicação Geográfica da Manta junto ao INPI foi solicitado pela Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos da Região dos Inhamuns (Ascoci), sediada em Tauá.
O produtor rural e presidente da Associação Kleytonn Pedrosa, explica que a carne de carneiro dos Inhamuns já é muito procurada para consumo, mas é importante avançar no reconhecimento de uma identidade original da manta e, por consequência, agregar valor a este produto.
Ele ressalta que os produtores locais têm se mobilizado, nos últimos anos, para garantir certificações que possam ampliar as perspectivas de comercialização dos produtos tradicionais à base de carne ovina da região. “Percebemos que nossos criadores têm se animado, mas, para produzir em grande escala, é necessário ter como escoar essa produção”, afirma.
Notoriedade
Para o pedido de registro, a Ascoci teve apoio do IFCE Tauá, que, em parceria com a Embrapa, elaborou o dossiê de notoriedade do produto e compilou a documentação necessária (artigos científicos, teses, dissertações, reportagens, etc) para comprovar a procedência da manta de carneiro dos Inhamuns.
Também produziu o caderno de especificações técnicas, que foi discutido com os produtores e aprovado em assembleia, bem como o regulamento do Conselho Regulador, que estabelece as normas para uso e gestão da indicação geográfica.
Além disso, organizou os demais documentos necessários para o protocolo da indicação: a delimitação da área, a qualificação dos produtores e os documentos referentes à associação.
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Agregação de valor ao produto
Para a professora do IFCE Tauá, Andréia Nikokavouras, a indicação traz visibilidade e valorização para um produto típico da região, gerando novas oportunidades de mercado e fortalecendo a identidade cultural e econômica local. “Com o registro, espera-se maior reconhecimento da qualidade e autenticidade da manta de carneiro, o que pode estimular o turismo e a economia regional, além de promover a sustentabilidade na produção e preservação das tradições locais”, avalia.
A Embrapa também contribuiu com subsídios técnicos para a documentação que fundamenta o pedido, com destaque para aspectos culturais e para a qualidade do produto.
Sabor diferenciado
De acordo com a pesquisadora Lisiane Lima, da Embrapa Caprinos e Ovinos, um dos aspectos que caracterizam a manta de carneiro da região é a diversidade de espécies vegetais nativas do território do Sertão dos Inhamuns que são consumidas pelos animais, o que contribui para um sabor diferenciado da carne.
“Esse reconhecimento vai ser muito importante para o território e nossa empresa vem trabalhando, junto aos produtores, com soluções tecnológicas para promover uma oferta de qualidade dessa carne e atender aos requisitos da indicação de procedência da Manta. A Indicação vai promover um desenvolvimento ainda maior da ovinocultura e da caprinocultura nesse território”, frisa a pesquisadora.
Impacto positivo
Na avaliação de Paulo Martins Júnior, secretário de Desenvolvimento Rural e Recursos Hídricos de Tauá, um futuro reconhecimento de Indicação Geográfica da manta deve impactar positivamente a economia da região e ampliar os horizontes da cadeia produtiva. “Nosso criador ainda tem o costume de vender animais vivos, não tem o hábito de abater e vender de uma forma industrializada. Uma Indicação Geográfica, além de agregar muito valor ao produto, abrirá um leque de oportunidades para os produtores se inserirem”, ressalta.
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O que é a Manta de Carneiro
A Manta de Carneiro é produto tradicional no território dos Inhamuns, obtida por um processo que começa com a desossa do animal e, posteriormente, com salga e secagem da carne ao Sol, sombra ou em câmaras frias.
Essa carne, obtida a partir de ovinos deslanados, apresenta qualidades nutricionais como menos gordura entre os músculos, menor taxa de colesterol e menos calorias em relação a outras carnes, como a bovina.
Além disso, a produção da Manta de Carneiro dos Inhamuns envolve aspectos culturais e socioeconômicos, pois sua produção integra a tradição de gerações de famílias na região e movimenta a atividade econômica local, como fator de geração de renda para produtores e comerciantes da região.
A Manta de Carneiro é característica de um território em que a ovinocultura tem rebanho de 358.225 animais (dados da Pesquisa da Pecuária Municipal – PPM do IBGE de 2023), distribuídos entre os cinco municípios (Aiuaba, Arneiroz, Parambu, Quiterianópolis e Tauá), configurando o maior polo de produção do Ceará, com destaque para a agricultura familiar.
Entre os estados brasileiros, o Ceará possui o quarto maior efetivo de ovinos, com cerca de 2,5 milhões de animais.