Reconhecida pelo INPI com o selo de Indicação de Procedência (IP), desde 2016, a goiaba de Carlópolis vem ganhando cada vez mais consumidores no Paraná, no Brasil e em território europeu, destacando-se não só pelo sabor e aparência como também pela técnica em sua forma de produção
A goiaba de Carlópolis produzida no Estado do Paraná, que já alcança diversos mercados no Brasil, recentemente começou a ser exportada para países da Europa. E esse sucesso não veio por acaso, especialmente porque, ao longo dos anos, seus produtores vêm adotando tecnologias agrícolas mais sustentáveis, como o controle biológico de doenças e pragas.
Outra técnica usada – a do ensacamento – é feita entre 70 e 80 dias antes da colheita, quando os frutos atingem de dois a três centímetros de diâmetro. Esse processo evita o surgimento de insetos e pragas e reduz os níveis de resíduos químicos a zero.
“Depois do procedimento cessam as aplicações de defensivos e inseticidas nas plantas”, conta Noriaki Akamatsu, produtor e presidente da Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis (Coac).
Segundo ele, esse tem sido o diferencial na produção de goiaba no município de Carlópolis, interior do Paraná. Akamatsu explica que os produtores plantam a variedade Tailandesa, de cor vermelha, desenvolvida em Valinhos (SP), cujas primeiras mudas foram trazidas ao Paraná em 2006 e se adaptaram bem à região.
A goiaba começou a ser cultivada na cidade em 1973, por conta da grande influência da comunidade japonesa que ali se instalou. O clima ameno e o solo foram características que proporcionaram o desenvolvimento de um fruto graúdo e com paladar muito agradável ao consumidor. Além disso, essa goiaba se caracteriza por ter uma vida útil prolongada nas prateleiras e por sua aparência atraente.
As goiabas de Carlópolis apresentam as características de cultivares bem definidas, são inteiras, limpas e estão dentro da classificação adequada, relacionada à coloração da casca da goiaba e às características varietais de coloração da polpa (vermelha ou branca), obedecendo ao limite de defeitos. A fruta da região é obtida por sistema de poda total, dividido por talhões, por meio do qual é possível produzir o ano todo.
Consolidação da produtividade
De quatro anos para cá, a produção de goiaba vem se consolidando e está atraindo cada vez mais produtores interessados em fazer consórcio com o plantio de café, cultura que também se destaca pela qualidade na produção.
Segundo Noriaki, o casamento é perfeito tendo o café como cultura anual e a goiaba que garante uma produção o ano inteiro, dependendo das podas feitas nas plantas. Outra vantagem é que a goiaba se adapta a pequenos espaços.
A comercialização da fruta no mercado interno vai muito bem e a fruta é enviada para as regiões de Londrina, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e algumas cidades do Nordeste. Os produtores estão satisfeitos com a rentabilidade alcançada, acima dos custos de produção – avaliado em R$ 1,70 o quilo. Atualmente, os produtores estão vendendo a fruta entre R$ 2,00 e R$ 3,00 o quilo, o que permite uma boa margem.
A preocupação dos produtores é manter o equilíbrio na produção, para garantir a renda acima dos custos de produção. Eles pretendem exportar cerca de 30% da produção e manter 70% no mercado interno.
Dedicação que dá resultado
A produção de goiaba no município de Carlópolis é impulsionada pela dedicação de técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) especializados no manejo com a fruta. Em 2015, quando o interesse pelo plantio de goiaba vinha se consolidando, o município contava com 415 hectares plantados, lembra Franc Oliveira, do Departamento de Economia Rural (Deral), do Núcleo Regional da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, em Jacarezinho. Já em 2019, a área plantada praticamente dobrou e soma 850 hectares, com uma produtividade média de 30 a 40 toneladas por hectare.
De acordo com o gerente regional da Emater, Maurício Castro Alves, a entidade trabalha com a organização dos produtores em associação e cooperativas e também presta assistência técnica e orientação aos produtores.
Atualmente, o município conta com uma associação de produtores de goiaba, a Associação dos Olericultores e Fruticultores de Carlópolis (APC), que congrega 72 produtores dedicados a diferentes cultivos, e uma cooperativa, a Coac, com 20 membros. A Emater colabora na organização e gestão dessas instituições para que prestem bons serviços aos produtores.
São essas instituições que estão orientando o agricultor a produzir volumes com qualidade para atender a demanda dos mercados internacionais, diz Alves.
Ele destaca também a entrada da iniciativa privada na atividade, com a participação de empresários que compram a goiaba em Carlópolis e vendem para o Brasil inteiro, o que está atraindo cada vez mais produtores para a atividade.
Números
De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), Carlópolis é responsável por 78% da produção de goiaba no Paraná. A produção estadual em 2018 foi de 33 mil toneladas, com um Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de R$ 58 milhões.
Só o município de Carlópolis produziu 25,6 mil toneladas, que proporcionou um faturamento bruto de R$ 45,6 milhões aos produtores. O VBP da goiaba corresponde a 20% do VBP do município que somou R$ 230 milhões no ano. Segundo o Deral, a goiaba é o segundo produto na pauta de faturamento dos produtores locais, superado apenas pelo café que é a primeira produção de Carlópolis.
Exportação
A goiaba já foi parar na Europa. A exportação da fruta está na fase experimental, mas o volume disponível ainda é insuficiente para atender a demanda prospectada no continente europeu.
Mas essa possibilidade de abertura de novos mercados, concreta, é o suficiente para estimular os produtores a superarem os desafios de oferecer estabilidade na quantidade e qualidade da produção, conforme exigência dos países compradores.
Até agora, a goiaba de Carlópolis foi enviada, experimentalmente, para Portugal e Suíça, e há negociação com a Espanha para envio de mais um lote experimental. Foram enviados 600 quilos da fruta para Portugal, a título de amostra e divulgação, e mais 300 quilos da fruta para a Suíça. A aceitação foi boa e o desafio agora é a organização dos produtores para produzir volume suficiente de fruta para atender a demanda já manifestada por esses países.
A produtora rural Inês Sato Sasaki , que trabalha no campo há mais de 20 anos, conta que em 2016, quando o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae/PR) apresentou o projeto para a busca pela IG, ela ainda não plantava goiabas.
“Acreditei naquela proposta porque tinha confiança de que produtos certificados e que o trabalho cooperado são mais eficientes e têm mais chances de conquistar novos mercados. Plantei meus primeiros pés e abracei a iniciativa. Estou muito feliz com a exportação, é a realização de um sonho, uma alegria imensa”, comemora Inês.
“A expectativa é que o mercado externo ajude a sustentar o preço da goiaba no mercado interno, evitando quedas drásticas de preço como ocorrem quando há superprodução no mercado, diz Noriak Akanatsu.
A goiaba de Carlópolis está se inserindo na Europa graças à certificação de Indicação Geográfica e ao selo GlobalG.A.P, duas conquistas importantes alcançadas com a ajuda do Sebrae, que abrem mercados, afirma Akanatsu.
A GlobalG.A.P. é um conjunto de regras de Boas Práticas Agrícolas (BPA), que envolve a segurança do alimento, a proteção do meio ambiente e bem-estar dos trabalhadores, através da adoção de técnicas de produção integrada, redução do uso de defensivos agrícolas, rastreabilidade desde a origem e um sistema de gestão da qualidade.