Com a iniciativa, o consumidor tem a certeza que o alimento é produzido pelas agricultoras e agricultores do Juruá
Os visitantes da Expoacre 2022, evento realizado entre 24 de julho e 1º de agosto, no Parque de Exposições Marechal Castelo Branco, em Rio Branco, AC, puderam comprar a tradicional farinha de mandioca de Cruzeiro do Sul direto dos produtores rurais do Juruá, em embalagem com a nova marca de Indicação Geográfica.
O espaço Caminhos do Agro (antiga fazendinha) contou com uma área dedicada à mandiocultura, com forno mecanizado para a produção de farinha e a presença de agricultores de três associações do Juruá, que comercializaram seus produtos.
Esse foi o primeiro lote com uma nova marca da Indicação Geográfica “Cruzeiro do Sul” estampada na já tradicional embalagem de ráfia. Segundo a analista do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa, Sebrae-AC, Murielly Nóbrega, essa forma de comercializar a farinha é adotada há anos na regional Juruá.
“A ideia é valorizar o modo de fazer, inclusive na forma de embalar, e acrescentar o selo de indicação de procedência para que o consumidor tenha certeza que está comprando a farinha produzida pelas agricultoras e agricultores do Juruá”, ressaltou.
Para a produtora rural de Cruzeiro do Sul, Maria José Maciel, o sentimento é de alegria ao ver a produção de farinha reconhecida como um produto de qualidade, pois representa a trajetória dos agricultores que atuaram fortemente para chegar neste momento. “Meu maior orgulho é ver a nossa farinha reconhecida. A nossa embalagem representa a luta, a perseverança e a união dos produtores”, disse Maria José.
De geração a geração
Resultado do costume tradicional, passado de geração em geração pelos agricultores familiares, a farinha de Cruzeiro do Sul obteve a indicação geográfica em 2017, sendo a primeira no Brasil a receber este selo que identifica sua origem e qualidade. A Embrapa, junto com o Sebrae e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), apoiaram o processo de obtenção e manutenção da Indicação Geográfica, que é fruto do protagonismo de agricultores familiares e de esforços de instituições de pesquisa e fomento à produção.
“Conseguimos comprovar que o modo de fabricação é o principal fator responsável pela qualidade da farinha de mandioca produzida no Juruá. Por isso ela ganhou essa indicação geográfica de procedência, como reconhecimento do saber fazer dos produtores rurais. É esse fazer diferenciado que confere qualidade e fama ao produto e a preferência da população”, ressalta a pesquisadora da Embrapa Acre Virgínia Álvares.
Fórum de IG
Durante a Expoacre, foi constituído o Fórum Acreano de Indicações Geográficas e Marcas Coletivas – Origens Acre, com o objetivo de abrir espaço para discussões, promover estratégias de valorização e proteção da identidade, da cultura e da propriedade intelectual no território acreano. Além de estabelecer espaços para representar os produtores rurais e fortalecer seus produtos.
O Fórum reuniu representantes de diversas instituições, como órgãos governamentais, instituições de ensino e pesquisa, sindicatos, associações e cooperativas de produtores rurais, dentre outros segmentos interessados. Em julho, foi registrado, no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), o pedido de indicação geográfica para o açaí de Feijó.
“Vamos discutir quais são os outros produtos potenciais que poderão ter o reconhecimento geográfico e também como podemos melhorar a gestão do selo de Indicação Geográfica, alcançar novos mercados e fazer a defesa e a proteção deste selo, já que sabemos que existem várias marcas no mercado com o nome de farinha de Cruzeiro do Sul”, afirmou a pesquisadora da Embrapa.
Segundo Virginia, conseguir o selo é apenas o primeiro passo para maior inserção no mercado. “Depois disso, há muitos desafios a serem enfrentados, porque esse é um mercado com competitividade e as entidades representativas dos produtores rurais devem ser protagonistas nesse processo mercadológico”, argumentou.
“Vamos debater sobre a farinha de Cruzeiro do Sul, o açaí de Feijó, o cacau nativo do rio Purus e outros produtos artesanais com potencial para obtenção da Indicação Geográfica e para alavancar o desenvolvimento regional do Estado”, acrescentou.