A produção de derivados da jabuticaba é feita artesanalmente, a partir de várias receitas tradicionais passadas de geração em geração. Após a certificação de Indicação Geográfica (IG) na categoria Indicação Procedência (IP), em 2018, o “ouro negro de Sabará” ganha novos rumos
Fazendo jus à tradição e ao conhecimento, produtores de jabuticaba do município de Sabará, em Minas Gerais, se destacam pelo plantio e comercialização da fruta e derivados especiais, transformando a cidade, oficialmente, na “Terra da Jabuticaba”.
Considerados o “ouro negro de Sabará”, seus derivados fazem parte da lista de quatro novos produtos que entraram na versão 2019 do Mapa das Indicações Geográficas do Brasil, atualizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Produtos feitos a partir da fruta colhida na região – como licores, geleias, molhos, cascas cristalizadas e compotas – foram certificados pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em outubro de 2018, com o selo de Indicação Geográfica (IG) na categoria Indicação de Procedência (IP).
“Foi feito um levantamento histórico, a caracterização do produto e a demarcação geográfica de onde ele está inserido. Além disso, foi elaborado um manual de normas técnicas, que deve ser seguido pelos membros da associação [Associação dos Produtores de Derivados de Jabuticaba de Sabará] que fez o requerimento do registro”, explica Carlos Castro, auditor federal e especialista em IG do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de Minas Gerais.
A produção é feita artesanalmente, sendo utilizadas diversas receitas tradicionais passadas de geração em geração. Segundo o INPI, “é um elemento da manifestação cultural capaz de intensificar o envolvimento da comunidade no conhecimento de sua própria tradição, da sabedoria popular e especialmente da gastronomia”.
Gastronomia
O município mineiro realiza, há 27 anos, o Festival da Jabuticaba de Sabará, entre os meses de outubro e dezembro, dependendo da safra da fruta. O evento é uma oportunidade de integração social e econômica, que compõe o patrimônio cultural da cidade. Ali, os visitantes podem ter contato direto com os produtores rurais e provar pratos feitos com jabuticaba e quitutes típicos da região.
A produção da fruta tem característica “temporária”, levando em conta que é produzida somente em épocas de chuva, o que as tornam indisponíveis no mercado ao longo do ano. A maneira encontrada para se aproveitar a safra, visto que os frutos maduros apodrecem rapidamente, foi produzir diversos derivados.
Sobre a tecnologia de processamento da fruta, Sabará conta com um diferencial competitivo, pois seus processos produtivos são bem específicos.
“A IG é uma estratégia para ter produtores mais profissionalizados e produtos mais qualificados. É um ponto de convergência para que, no mercado, possamos atender a um consumidor ávido por um produto mais seguro, com origem e sistema de produção conhecidos. Pensando sempre em ser um produto de preço acessível, mas que também remunere o produtor”, relata Feliciano Nogueira de Oliveira, diretor técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), que auxiliou na capacitação dos produtores para a conquista do selo IP.
Demarcação
A área delimitada para a Indicação de Procedência “Produtos Derivados de Jabuticaba de Sabará” fica estabelecida nos limites político-administrativos do município de Sabará, região metropolitana de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.
Por conta da Indicação Geográfica, concedida em nome da Associação dos Produtores de Derivados de Jabuticaba de Sabará, o uso do nome da “Jabuticaba de Sabará” está restrito aos agricultores prestadores de serviço da região, evitando que pessoas de outros lugares tentem vender os itens como se fossem do local.
“O selo da IG potencializa toda a cadeia produtiva. Ser reconhecida oficialmente como a ‘Terra da Jabuticaba’,contribui muito para o desenvolvimento turístico e econômico da cidade de Sabará”, afirma Wander Borges, atual prefeito do município.
O cultivo
A fruteira é adaptável a diversos tipos de solo, mas o cultivo deve ser feito preferencialmente em solos silico-argilosos, profundos e bem drenados, além de férteis e ricos em matéria orgânica.
O crescimento da árvore é lento e sua produção de frutas começa a partir do oitavo ano, prolongando-se por 35 anos, em média.
Uma jabuticabeira produz de 200 a 1.000 quilos de frutos, anualmente, o que se intensifica com a adubação. Os principais fatores que restringem a expansão do plantio são os custos, a dificuldade de colheita e a precariedade de conservação de seus frutos, considerando que a jabuticaba deve ser colhida pronta para o consumo.
IGs em Minas Gerais
Existem dois tipos de Indicação Geográfica: a Indicação de Procedência (IP) e Denominação de Origem (DO). A primeira está relacionada ao nome geográfico do território (país, cidade, região ou localidade), que ganhou fama como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto.
A Denominação de Origem, por sua vez, apresenta o nome do território cujo produto possui qualidades ou características exclusivas ao meio geográfico, incluídos fatores humanos (know-how) e naturais, como solo, clima e topografia.
Em Minas Gerais, nove produtos já obtiveram o registro de IG: o café do Cerrado Mineiro, o café da região da Serra da Mantiqueira, o queijo Minas Artesanal do Serro, o artesanato em estanho de São João Del-Rei, o queijo Canastra, a cachaça de Salinas, o biscoito de São Tiago, os derivados de jabuticaba de Sabará e a própolis verde de uma região que abrange 102 municípios do Estado.
Outros produtos mineiros estão em fase de obtenção do registro, entre eles: o café das Matas de Minas, os queijos de Araxá e da Serra do Salitre, o azeite de Maria da Fé, a banana de Delfinópolis, o mel de aroeira do Norte de Minas e a farinha de mandioca de Morro Alto, do município de Bocaiuva.