A partir da década de 70, o arroz produzido em 12 municípios do Rio Grande do Sul começou a ser vendido para vários Estados brasileiros e ter sua alta qualidade reconhecida pelo País, após certificação de Indicação Geográfica
Primeira região brasileira a receber a Denominação de Origem (D.O.), no ano de 2010 – uma das categorias da certificação de Indicação Geográfica (IG) concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) –, o litoral norte gaúcho apresenta características climáticas determinantes sobre a lavoura de arroz irrigado, ali produzido.
A localidade abrange 12 municípios localizados em uma península com cerca de 300 quilômetros de extensão no Rio Grande do Sul, entre o Oceano Atlântico e a Lagoa dos Patos. O arroz foi destaque da edição nº 695 da revista A Lavoura impressa.
Essa estreita faixa de terra entre grandes massas de água está sujeita a ventos constantes (nordeste), que proporcionam um equilíbrio térmico e um ambiente diferenciado, determinantes da qualidade do arroz produzido na região e fundamental para a existência da D.O.
A vinculação do produto ao meio ambiente é uma condição para a chancela da Denominação de Origem. Trata-se do chamado “efeito terroir”, termo comum na França, em especial quando relacionado aos vinhos.
As características únicas do arroz cultivado no litoral do Rio Grande do Sul são consequência do grande volume de água e da insolação durante a fase de maturação da planta.
Pesquisas comprovam que a temperatura amena da região influencia diretamente no enchimento do grão, assim como o regime de ventos e a umidade do ar. A comprovação do terroir foi o requisito que faltava para a confirmação da Denominação de Origem.
Grãos diferenciados
Os grãos de arroz formados neste ambiente apresentam melhor aparência devido à disposição das moléculas de amido ocorrer de forma mais uniforme durante o período de enchimento. Assim, formam-se grãos mais duros, transparentes e com maior vitricidade quando polidos.
Tais características, valorizadas tanto pela indústria beneficiadora quanto pelos consumidores, resultam num grão com maior quantidade de amido, melhor rendimento na panela e melhores características de cocção, garantindo um arroz “solto” e de fácil preparo.
Produzido em total harmonia com o meio ambiente, o arroz do litoral norte gaúcho agrega modernas práticas da sustentabilidade ambiental, social e econômica.
Os produtores devem obter licenciamentos ambientais, racionalizar o uso de água nas lavouras, controlar o uso de defensivos agrícolas e utilizar apenas sementes certificadas. Além disso, há necessidade de se registrar e controlar todas as etapas da produção, possibilitando a rastreabilidade completa do produto, da lavoura ao prato do consumidor.
Controle de toda a cadeia
A Associação dos Produtores de Arroz do Litoral Norte Gaúcho (Aproarroz), por meio do Conselho Regulador, controla desde a produção, beneficiamento, até o produto final para o consumo.
O objetivo é agregar valor, não só para os agentes envolvidos na cadeia produtiva, através da implementação de processos, mas para o próprio consumidor, que terá acesso a um produto com garantia de origem e qualidade.
Já a sustentabilidade envolve uma série de fatores, desde a pesquisa e produção, passando pelo desenvolvimento de ações que promovam a organização e preservação do meio ambiente, até o estímulo e promoção do potencial turístico da região e o aprimoramento sociocultural dos associados, seus familiares e da própria comunidade.
Cosméticos são nicho de mercado
Segundo o presidente da Aproarroz, Clovis Terra Machado dos Santos, a Indicação Geográfica só desempenhará seu poderoso papel de instrumento de agregação de valor quando o consumidor conhecer e desejar o arroz certificado. Para isso, é fundamental investimentos em divulgação.
Para a associação são necessárias várias ferramentas de apoio ao desenvolvimento das IGs, entre elas políticas públicas, incentivos e novas tecnologias para o desenvolvimento de matéria prima que atenda à indústria de cosméticos e de produtos farmacêuticos.
Ele lembra que a indústria cosmética usa substâncias extraídas do arroz para a produção de pós, talcos, perfumes e cremes, como as grifes japonesas Shiseido e Kenzo, que cada vez mais retiram do arroz insumos para seus produtos. Do arroz também é extraída a hydrolat, substância rica em aminoácidos e açúcares, que estimula a síntese do colágeno. Da casca do arroz, foi isolada uma substância eficiente como filtro solar, orgânico e antialérgico.
Um pouco de história
Entre 1936 e 1937 italianos, alemães e lavradores da região começaram a produzir o arroz no litoral norte gaúcho, propiciando uma miscigenação de povos e culturas. A Lavoura, que já nasceu comercial, facilitou o desenvolvimento naquela região, transformando-a em grande produtora de arroz.
Novas tecnologias, implementadas a partir dos anos 1970, impulsionaram a produtividade e o cereal produzido naquela região passou a ser comercializado também em diversos Estados brasileiros.