Selo pretende preservar as tradições da cultura, proteger a região produtora e acessar mais e melhores mercados
Parceria formalizada nessa semana entre o Sebrae/SC e a Administração Municipal de Anchieta, no extremo oeste catarinense, para os milhos crioulos de Anchieta, prevê três estratégias prioritárias: estruturação do processo de Indicação Geográfica (IG), ações de mercado e fomento ao empreendedorismo criativo.
Assim, começa o projeto para conquista do selo de IG para o território de produção de grãos, que pretende preservar as tradições dessa cultura gastronômica, proteger a região produtora nos aspectos culturais e econômicos, promover essas variedades, além de acessar mercados, estimulando o empreendedorismo criativo atuante na agregação de valor ao produto.
Estão previstas várias ações que serão executadas nos próximos dois anos como comprovação da reputação e da produção na região, fortalecimento da governança, delimitação oficial da área abrangida, definição dos mecanismos de controle, festivais gastronômicos e, por fim, o pedido de registro junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
De acordo com o gerente regional do Sebrae/SC no oeste e no extremo oeste, Udo Martin Trennepohl, a IG utilizará o nicho de mercado da bioeconomia para promover o território de produção do milho crioulo de Anchieta a partir de estratégias de mercado. “A intenção é dar visibilidade para essa base produtiva, principalmente porque cada vez mais o consumidor busca por alimentos saudáveis e orgânicos”, analisa.
Trennepohl comenta que essa será a primeira IG do oeste catarinense. “O propósito é evidenciar as qualidades e as características vinculadas ao meio geográfico, que podem garantir mercados especiais e um aumento da oferta do milho e derivados à própria comunidade, fortalecendo também a identidade territorial, que é fundamental para ações estruturantes na gastronomia no turismo local”, ressalta. “Toda a atuação será voltada a agregar valor e reconhecimento tanto ao produto quanto aos agricultores familiares envolvidos.”
Para Ivan José Canci, prefeito de Anchieta, o registro da IG representa uma qualidade única e características somente encontrados nesse território, por isso reconhece o trabalho desses empreendedores que buscam uma produção de qualidade, geram empregos e renda. Além disso, faz parte de uma estratégia de desenvolvimento territorial.
Ele acrescenta que a produção (da pipoca e do milho crioulo) ainda se mantém como importante cultura do município e envolve, no mínimo, 200 famílias. “Esse processo é histórico, está enraizado em nossa comunidade e contribuiu para o desenvolvimento de Anchieta”, observa. “Por isso, queremos fortalecer a produção de farinha, bolacha e artesanato, diversificar o uso desses grãos e fomentar outras atividades econômicas como o turismo.”
Histórico
A produção de variedades do milho e das sementes crioulas em Anchieta começou junto com a criação do município. Quando os colonizadores ocuparam a área territorial, na década de 1950, trouxeram sementes para iniciar o cultivo do milho. Atradição foi mantida ao longo dos anos, atingindo o pico de produtores e de guardiãos das sementes na década de 1990.
Atualmente, a Administração Municipal de Anchieta, a Associação dos Pequenos Agricultores de Milho Crioulo Orgânico e Derivados, a Cooperativa da Agricultura (Cooper Anchieta) e o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf) incentivam a disseminação da tradição e a produção das sementes crioulas.
Entre as iniciativas locais está a Festa Nacional das Sementes Crioulas, que iniciou em 2001. O evento recebe visitantes de vários Estados brasileiros que buscam trocar experiências e conhecimentos sobre as sementes. O prefeito antecipa que para as comemorações de 60 anos do município a intenção é apresentar alguns resultados desse trabalho voltado à Indicação Geográfica.
Registros
Além da iniciativa em Anchieta, o Sebrae/SC e outros parceiros lideram o processo de conquista da IG para as Ostras de Floripa, Camarão Laguna, Cachaça e Banana de Luiz Alves, Linguiça Blumenau e Alho Roxo do Planalto Catarinense.
O Eetado está representado por seis IGs: Mel de Melato da Bracatinga do Planalto Sul Brasileiro, Vinhos de Altitude de Santa Catarina, Vinhos e Espumantes de Uva Goethe, Banana da Região de Corupá, Queijo Artesanal Serrano e Maçã Fuji da Região de São Joaquim.