Hortas orgânicas mostram que é possível plantas e insetos conviverem de forma harmoniosa. Na foto, uma abelha mamangava polinizando uma flor de maracujá
Já ouviu falar em “Agroecologia”? De forma simplificada, refere-se à prática de desenvolver a agricultura de uma maneira mais ecológica, sustentável e prezando pelo convívio de todo o ecossistema.
Um exemplo prático são as hortas orgânicas, caracterizadas, principalmente, por não utilizar nenhum tipo de adubos, fertilizantes, defensivos agrícolas químicos em seu cultivo. O que muitos não sabem, no entanto, é que não só é possível, como necessário, que as plantas e insetos convivam de forma harmoniosa para garantir uma horta saudável.
Oldemar Diniz, agrônomo, técnico em agropecuária e estudante de biologia, é um dos defensores deste tipo de manejo. Dedicando-se ao cultivo caseiro desde os seis anos, ele entende que há uma diferença na produção em larga escala, mas que existem outros caminhos para a agricultura.
Fazer diferente
Ele explica que quando começou a plantar, não optou por cultivar uma horta convencional, apesar de entender o valor deste tipo de plantio.
Segundo o agrônomo, “não podemos menosprezar uma cultura grande, necessária para suprir a demanda de alimentos da população. Mas eu sempre pensei, vou construir uma horta no quintal da minha casa e por que não fazer diferente? Por que não conviver com todos os insetos? Eu posso fazer dentro da minha casa de forma sustentável e optar pelo manejo diferente”, considerou.
De acordo com o especialista, para fazer o controle de insetos, sem precisar exterminá-los, a dica é simples: fazer o manejo correto, ou seja, irrigação, adubação, um substrato de qualidade, além de acompanhar o desenvolvimento da planta e ir identificando suas necessidades, orienta.
Organismo vivo
O agrônomo explica que a horta é um “organismo vivo”, então, ela necessita conviver com todos os seres. “Quando eu retiro uma joaninha, por exemplo, outro inseto pode se sobressair e, mesmo ele não sendo praga, pode acabar se tornando, por ter acontecido um desequilíbrio naquele ambiente”, salienta.
Segundo ele, isso acontece porque um organismo de uma fauna foi retirado. “Dessa forma, não se deve remover nenhum elemento, tudo está conectado. Em ecologia, nós aprendemos que as plantas e os insetos coevoluem juntos”, explica Old – como é conhecido o agrônomo.
Para o especialista, tudo tem um papel importante no processo, até mesmo aquelas formigas que, quando surgem na horta, costumam deixar seus cultivadores preocupados. “Elas, na verdade, estão ali para realizar uma ‘troca justa’. Muitos não sabem, mas as plantas costumam liberar açúcares, são os nectários extraflorais. É uma forma de proteção da planta, que fornece alimento para as formigas, que, em troca, a defende”, ensina.
Abelha mamangava
Outro caso é o pé de maracujá, cita o agrônomo. “Existe uma abelha chamada mamangava, cujo tamanho se encaixa perfeitamente na peça floral do maracujá, o que a torna uma grande polinizadora dos maracujazeiros”.
Old explica que esta espécie de abelha “é supersensível aos defensivos agrícolas químicos e, até mesmo, a alguns inseticidas caseiros. Se não houver a polinização exata, não haverá frutos, então, quando se modifica a harmonia da natureza, tudo dá errado”, alerta.
Receitas caseiras
O profissional também chama a atenção para a utilização de “receitas caseiras”, como água e sabão, para combater pragas em plantas. “Já viu a folha da couve como é? Tem uma ‘cerinha’ que a protege, é uma camada chamada cutina e, se usamos água com sabão, essa proteção é eliminada. Em zonas mais quentes, inclusive, essa substância pode ‘queimar’ as folhas e, com isso, abrir uma ‘porta’ de entrada para doenças fúngicas e viróticas”.
Assim como Old, o engenheiro agrônomo da Forth Jardim, Marcos Feliciano acredita na produção das hortas orgânicas e, por isso, defende que, tão importante quanto manter o cultivo em pleno equilíbrio, é investir em insumos de qualidade. “O substrato, o fertilizante, as sementes utilizadas, tudo precisa ser orgânico, ou sem tratamentos químicos, para que o plantio orgânico caminhe da forma correta e se desenvolva.
“Optar por utilizar o substrato como base para sua horta em vasos ou jardineiras, no lugar da terra simples, é vantajoso porque te garante um plantio mais “limpo”. Ao contrário da terra, o substrato é livre de sementes de mato, o que significa que você não precisará se preocupar em ter que controlar outros “matinhos” nascendo junto com a sua horta”, orienta o agrônomo.
Projeto Verdejar
Oldemar Diniz está à frente do “Projeto Verdejar” desde 2015, que tem como proposta difundir práticas de agroecologia. Inicialmente trabalhando em um projeto social de sua cidade, ele dava aulas presenciais para um grupo de senhoras para ensinar o manejo e cultivo correto de plantas e hortaliças. Incentivado pelas próprias alunas, passou a produzir conteúdo nas redes sociais levando informação para mais pessoas.
A ideia deu tão certo que hoje Old, além dos posts diários, realiza lives semanais para orientar os seus mais de 42 mil seguidores “por conta do número cada vez maior de pessoas interessadas em fazer o seu próprio cultivo da forma mais natural possível”, explica.