Sucesso da prática demanda dedicação e envolvimento no processo (Foto: Divulgação)
Prática milenar originária da China e difundida para o mundo pelo Japão, o cultivo e os cuidados de um bonsai são considerados uma verdadeira “arte hortícola”. Entretanto, apesar de muitas pessoas pensarem que é uma atividade extremamente complexa, o seu cultivo não é muito diferente de qualquer outra atividade de jardinagem convencional.
“O grande diferencial de cultivar os bonsais é a dedicação e o envolvimento durante o processo”, destaca o engenheiro agrônomo da Forth Jardim, Marcos Estevão Feliciano. Segundo ele, toda planta, ao ser cultivada, vai exigir algum grau de envolvimento e cuidado.
“Não deixa de ser uma troca, nós regamos, adubamos, oferecemos todos os cuidados e, em troca, elas nos presenteiam com flores, frutos, dando mais vida e beleza aos ambientes, entre outros benefícios”, complementa.
No caso dos bonsais, ele informa que, como há o controle do seu crescimento e a modelagem é feita lentamente a cada poda, é possível preservá-la durante anos e, por isso, esse envolvimento inevitavelmente é maior e ainda mais prazeroso. Para quem ainda considera muito difícil se dedicar a arte de cultivar bonsais, o profissional dá o caminho de quais são os principais cuidados.
Ambiente e Rega
Segundo Feliciano, é preciso lembrar que bonsais são plantas comuns cultivadas em “bandejas” (vasos rasos), dessa forma o ambiente vai depender da genética da planta escolhida para se tornar um bonsai. A grande maioria dos bonsais são de ambiente externo, mas hoje já existem alguns de ambientes de meia sombra sendo cultivados.
“Vale lembrar também que, muitas vezes, por conta da quantidade de substrato ser limitada à rega, deveria ser feita mais de uma vez ao dia, e, se você só consegue molhar apenas uma vez ao dia, terá que adaptar a planta de sol à meia sombra para que ela não sofra”, orienta.
No caso do cultivo interno, o especialista informa que o ideal é optar por espécies de folhas maiores, que têm mais capacidade de fazer fotossíntese com menos horas de luz, como os Ficus. No entanto, por se tratar de ambientes internos, deve-se prever um local que tenha boa luminosidade e ventilação.
“O ideal é mantê-la em uma sacada, varanda ou próximo a uma janela, de preferência que ela permaneça aberta em algum momento do dia. A distância que a planta deve ficar da janela é outro ponto a ser considerado, sendo indicado mantê-la de 50cm a 1m, evitando deixá-la colada ao vidro, pois isso pode causar um “efeito lupa” e “queimá-la”, sugere.
O especialista reforça que, no caso das plantas que ficam dentro de casa, como elas só tem uma fonte de luz, o ideal é mudá-la de posição a cada 15/20 dias, para que ela possa receber luz de todos os lados. A tendência das plantas com pouca luz é que os brotos cresçam demasiadamente e que forme “entrenós” mais longos.
Ele pontua que, no caso dos cultivados na área externa, os benefícios são ainda maiores, inclusive sofrendo as intempéries da natureza, recebendo garoa, chuva e sol direto. A planta exposta ao tempo pode ter desenvolvimento e saúde melhor.
A rega é outro ponto considerado fundamental nesse tipo de cultivo, uma vez que mais de 90% dos bonsais acabam morrendo por falta de água. Além disso, é importante, inclusive, saber que a estrutura do bonsai está preparada para o excesso de água.
“Não existe uma regra geral, portanto a observação e o bom senso é o que geralmente irá ditar a frequência. Para os iniciantes, o ideal é regar uma vez por dia, sempre pela manhã. É difícil criar uma regra porque a necessidade depende de vários fatores”, menciona.
A copa da árvore, a quantidade de folhas que ela tem, o tipo de substrato em que ela está, tudo isso pode influenciar na frequência de rega. Vale lembrar que o excesso de água também é prejudicial, mas em uma porcentagem bem menor, podendo causar fungos e podridão de raiz, por exemplo.
Outro ponto destacado pelo especialista é a quantidade de água, pois a rega deve ser feita no substrato e em profundidade. É possível fazer com um regador, desde que regue e deixe encharcar, espere uns 30 segundos até a água penetrar na terra e repita o processo mais umas duas vezes, até que saia o excesso de água pelos orifícios de drenagem.
“O pulverizador pode ser usado, mas não para regas. Geralmente, é mais indicado para os bonsais que ficam em ambientes mais fechados, servindo tanto para eliminar poeira, quanto para ajudar a planta a se adaptar um pouco melhor, pois vai umidificar mais o ambiente”, cita o agrônomo.
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Adubação e podas
A adubação é a grande responsável pela reposição de nutrientes das plantas, sendo que um dos principais indicativos que falta adubação nos bonsais são as folhas ralas ou amareladas, ou até a perda de folhas. “Da mesma forma, ao adubar, é fácil perceber os benefícios, notando a planta mais verde e brotando”, comenta.
Feliciano informa que os adubos de liberação lenta são os mais indicados, principalmente para quem não tem muita familiaridade com fertilizantes, pois, ao mesmo tempo que ele manterá a planta bem nutrida por um longo período, fornecerá a quantidade ideal de fertilizante, sem correr o risco de a planta receber uma superdosagem e, como consequência, sofrer queimaduras.
Por outro lado, ele informa que os adubos de liberação rápida, que garantem um resultado mais rápido, também são bem-vindos, principalmente em questões específicas como: para frutíferas ou espécies de flores nos períodos de produção. “Além disso, fertilizantes que são diluídos, ou pronto uso, quando seguido de forma correta, as indicações de uso, não há o risco de uma superdosagem”, completa.
A poda, conforme destaca o especialista, é um dos pontos mais característicos do tipo de cultivo do bonsai, sendo assim, é muito importante fazer podas periódicas de manutenção, para manter o formato e para que a planta continue se desenvolvendo em um “design” que já foi pré-definido.
“O ideal é usar a ferramenta adequada, uma tesoura para bonsai, mas também é possível utilizar uma tesoura de jardinagem comum, desde que esteja bem afiada”, ensina.
Para plantas de folhas pequenas, como a Serissa, por exemplo, ele indica fazer essa poda de manutenção a partir do momento que ela tenha crescido 3 a 4 dedos, para que volte ao formato original. O corte pode ser feito de forma mais “livre”. A sugestão, segundo o agrônomo, é idealizar uma silhueta e ir mantendo-a, pois isso é importante, inclusive, para que a planta continue brotando com uma boa ramificação.
Quanto às frutíferas, ele afirma que a poda tem que ser um pouco diferente, porque, dependendo da espécie, ela vai produzir frutos em diferentes regiões da planta. A romã, por exemplo, produz frutos bem na extremidade do ramo, então, nesse caso, tem que escolher entre manter a forma da planta ou deixar os frutos se desenvolverem.
“Já na amoreira, para manter os frutos é possível tirar os brotos maiores que ela vai continuar desenvolvendo os frutos e mantendo o formato. No momento que se tira um broto que consome muita energia da planta, a energia vai se voltar para o fruto”, explica.
No caso de outras espécies, com folhas grandes, como bonsais de espécies de Ficus e Ligustrum, na avaliação do especialista, não é indicado podar de forma indiscriminada, pois dessa forma, pode acabar cortando folhas pela metade, o que vai prejudicar a estética e favorecer o aparecimento de fungos.
“O ideal é procurar os brotos que precisam ser podados e tirá-los por completo, dessa forma preservará o formato sem prejudicar a estética”, finaliza o engenheiro agrônomo.