A evolução da relação entre a humanidade e os alimentos ao longo dos anos, por Matth de Cezaro
Quatorze bilhões de anos separam o início do universo até o dia de hoje. Se a teoria do Big Bang está certa, então só quatro bilhões de anos distanciam o hoje do surgimento do planeta Terra, e dois bilhões de anos do surgimento das primeiras células, da primeira forma de vida aqui.
Seguindo, os dinossauros surgem a 245 milhões de anos. E nós, os Homo sapiens, aparecemos há cerca de duzentos mil anos. Se esse tempo todo fosse demonstrado em um relógio com 24 horas, a parte em que nós humanos estamos aqui seria de apenas dois segundos.
Exato, 24 horas para tudo se formar/organizar e dois segundos para tudo ser dominado: cadeia alimentar, criação de cidades, formação de culturas e cultivo do próprio alimento.
Agora, se dermos um zoom nos duzentos mil anos de humanos no planeta Terra, veremos que 188 mil deles foram como nômades, caçadores, coletores. Sobrando os últimos doze mil até agora.
Esse é o período aonde começou a ocorrer a transição de um modelo de vida caçador para o agricultor. Digo “começou” porque historiadores seguem encontrando vestígios de que foram necessários cerca de seis mil anos para que a agricultura de fato se tornasse o sistema de subsistência oficial dos humanos.
No nosso relógio imaginário do planeta Terra isso representaria 0,06 segundos ou 6 centésimos de história.
Contas feitas, a essa altura você provavelmente já percebeu que o ser humano não é agricultor por natureza, nós não nascemos nem evoluímos como produtores agrícolas. Talvez nem se quisesse isso.
“Sedentarismo humano”
O pesquisador Michael Gross na revista científica Cell em 2013, traz a seguinte indagação:
“Se é possível colher o fruto que quiser nas florestas e caçar o bife para o churrasco, então por que os humanos trabalhariam na terra para produzir alimentos que você corre o risco de nem colher meses depois?”
Faz muito sentido.
Analisando a biologia de um humano caçador/coletor e um produtor é possível notar distinções claras nos estilos de vida, tanto em termos de saúde física – visto que o caçador tinha mais, força, desenvoltura e estrutura corporal – quanto em nutrição – a dieta do caçador era mais rica e diversificada.
Por isso, tantos pesquisadores referenciam a agricultura como o início do sedentarismo humano – que provavelmente esteja vivendo seu ápice nos dias de hoje.
Quando humanos começam a cultivar plantas, domesticar animais, alimentar esses animais com as plantas cultivadas, criar um sistema novo, alterar sua própria dieta e habitat, então estamos de frente à uma mudança de rota do caminho evolutivo, uma evolução que deixa de ser guiada pela natureza para agora ser direção de humanos.
O seu salgadinho, a polenta e a pipoca jamais teriam existidos não fosse o que humanos fizeram com o “Teosinto”.
Este senhor era o milho em sua origem ancestral que crescia nove mil anos atrás, no México. Preste atenção na parte B da figura como era a antiga espiga do Teosinto e como é atualmente.
Organismos geneticamente modificados
Nessa evolução guiada por humanos, podemos por exemplo avançar até o sucesso dos atuais OGM’s (organismos geneticamente modificados), que precisaram pouco mais de vinte anos desde sua implementação a campo para dominarem as terras das Américas.
Nos Estado Unidos, por exemplo, mais de 90% do milho, soja e algodão são geneticamente modificados, e entre 75 a 80% dos alimentos processados convencionais à venda possuem ao menos um ingrediente OGM.
Enquanto isso, quase como se fosse uma luta, outros países países europeus como: França, Alemanha, Áustria, Grécia, Hungria, Holanda, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Bulgária, Polônia, Dinamarca, Malta, Eslovênia, Itália e Croácia não permitem que produtores cultivem OGM’s e exige rotulagem em produtos que contenham Organismos Geneticamente Modificados.
Quem está no caminho certo?
Quem sabe num próximo artigo possamos conversar sobre. Fato é que a mão do homem transformou as plantas, e todos os cultivos em grande escala conhecidos atualmente.
Os humanos que um dia escolheram as espécies que mais lhe agradavam para cultivar, hoje escolhem as enzimas a serem colocadas em seu estômago, a população microbiana de seu intestino, o nariz novo, o implante de cabelo e até o filho saudável através de análise genética dos pais…
A pesquisadora Theresa Phillips. em seu artigo para Nature, cita o termo “brincar de Deus,” no que se refere às modificações genéticas de plantas e animais, é o senso do homem sendo o comandante, o provedor e a peça principal do jogo.
Se assim for, essa posição exigirá homens agricultores, produtores, mais fortes do que nunca.
Referências:
https://www.cell.com/current-biology/pdf/S0960-9822(13)00977-9.pdf
https://www.cambridge.org/engage/coe/article-details/60e1c1255cb3f6e5a99224e0
https://gmowatch.com/where-are-gmos-banned/
https://www.pnas.org/content/116/12/5643
https://www.journals.uchicago.edu/doi/full/10.1086/701789?af=R
https://www.prnewswire.com/news-releases/studies-show-gmos-in-majority-of-us-processed-foods-58-percent-of-americans-unaware-of-issue-104510549.html#:~:text=GMOs%20are%20now%20present%20in,on%20Food%20and%20Biotechnology%20study