Especialista compartilha vantagens e desafios do segmento para 2025 (Foto: Damian Lugowski_Shutterstock)
Quando se fala na indústria da celulose, a maioria das pessoas pensa apenas em papel. Porém, ela vai muito além dele. O papel é só um dos mais de cem produtos oriundos dessa indústria. “Provavelmente, todos nós aqui estamos com celulose na roupa, nos óculos, na cadeira ou no carro, e até mesmo nos remédios que tomamos”, exemplifica o gerente geral florestal da Hexagon, Ronaldo Soares.
O especialista comenta que essa versatilidade coloca o Brasil em destaque no cenário mundial como o maior exportador de celulose. De acordo com o Relatório Anual da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), em 2023, o país movimentou US$ 7,9 bilhões.
O setor florestal brasileiro está passando uma das fases mais agressivas em relação ao crescimento de sua história. “As empresas estão anunciando investimentos que giram em torno de quase R$ 140 bilhões. Nunca vi um volume assim em quase 30 anos de atuação no setor”, comenta Soares.
Grandes nomes do setor lideram a construção de novas fábricas e a ampliação de ativos florestais, com foco na competitividade global. “O Mato Grosso do Sul está se tornando o Vale da Celulose”, compara o executivo, que considera impressionante o nível de modernização que está sendo implementado, tanto no campo quanto na indústria.
Cenário
O uso de tecnologias avançadas tornou-se imprescindível para atender ao mercado internacional e manter a liderança brasileira. Diante disso, Soares reforça a importância do planejamento estratégico na adoção dessas inovações.
“As empresas precisam pensar em soluções que as atendam pelos próximos três anos, não em adotar todas as novidades que aparecem. Assim como escolhemos um celular que vai nos servir por um bom período, as tecnologias empresariais precisam seguir o mesmo raciocínio”, pontua.
Ele destaca ainda os avanços do Brasil na adoção de tecnologia, muitas vezes superando países europeus. “Estamos em um ritmo impressionante, especialmente no campo da inovação aplicada. Quando visitamos centros do setor em outros países, a impressão é que estamos voltando ao que víamos aqui nos anos 70”, comenta.
Apesar disso, ele alerta que os gargalos logísticos continuam sendo um entrave para o pleno potencial do setor. “Produzimos muito bem, mas esbarramos na logística. O transporte no Brasil ainda é caro e ineficiente, principalmente por depender tanto do modal rodoviário. Uma gestão mais eficiente dos transportes ferroviários poderia reduzir significativamente os custos e aumentar ainda mais a nossa competitividade global”, analisa.
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Outros desafios do segmento
Além da infraestrutura, o impacto da tecnologia no setor é outro ponto central abordado por ele. Hoje, as operações florestais contam com monitoramento em tempo real, redução de desperdícios e previsibilidade de problemas. No entanto, a tecnologia só traz benefícios reais quando há suporte humano adequado.
“O potencial de ganho é enorme, mas exige que as empresas estejam preparadas para essa nova realidade. Se a empresa não tiver uma equipe preparada para interpretar as informações e tomar decisões, a tecnologia pode acabar gerando mais confusão do que benefícios. Às vezes, é melhor não saber que você tem um problema do que descobrir algo sem ter como resolver”, explica.
Outro grande desafio está na gestão de dados, um aspecto que Soares considera crítico. Ele destaca a necessidade de as empresas priorizarem as informações que realmente importam e utilizá-las de forma eficiente. “Geramos quase 100 informações por segundo no nosso sistema. A pergunta é: o que eu faço com esses dados?”, questiona.
Segundo o gerente, o excesso de informações pode ser tão prejudicial quanto a escassez. “Se eu não tiver alguém analisando esses dados e gerando insights práticos para auxiliar nas tomadas de decisões, isso vira um acúmulo que só ocupa espaço nos meus sistemas e, no final, não gera nenhum valor”, avalia.
Por fim, Soares cita que o setor florestal brasileiro tem um papel estratégico na economia global e precisa equilibrar investimentos em infraestrutura, avanços tecnológicos e gestão estratégica. “A tecnologia é um instrumento poderoso, mas sem pessoas capacitadas e um planejamento bem estruturado, ela não entrega o potencial que promete”, conclui.