Especialista afirma que imprevisibilidade do clima tem sido o maior desafio para produtores agrícolas (Foto: Divulgação)
As mudanças climáticas já são uma realidade que a população mundial deve aprender a lidar. E, dentre as áreas mais afetadas está a agricultura – que precisa conviver com diferentes fenômenos da natureza e depende intimamente do clima para a produção alimentícia no mundo todo.
Países como Espanha e Portugal, por exemplo, têm sido capazes de produzir, atualmente, culturas que antigamente eram impossíveis na região. Apesar de parecer contraditório, essa situação não é confortável para os agricultores. “A imprevisibilidade climática tem sido o seu maior desafio, porque se sentem inseguros com o futuro e não têm confiança de que serão capazes de continuar produzindo de maneira sustentável”, afirma o gerente para controle de máquinas agrícolas da Hexagon, Hugo Fagundes.
Segundo o especialista, avanços tecnológicos no campo podem ajudar a aumentar o controle de safras e, principalmente, monitorar o crescimento das plantações para apoiar decisões para lidar com a imprevisibilidade do clima. “Diferentes condições climáticas demandam soluções específicas para aumentar a eficiência do plantio e, no cenário atual, é importante que as tecnologias embarcadas sejam facilmente adaptáveis”, explica.
Extremos climáticos
Para ilustrar melhor o que pode ser feito para amenizar estes efeitos, Fagundes se aprofunda em alguns impactos dessas mudanças. “Temos acompanhado ondas de calor frequentes acontecendo pelo continente europeu. Com elas, algumas pragas e ervas daninhas ainda desconhecidas podem infestar as plantações na região e trazer impactos ecológicos”, comenta.
Dentre elas, ele cita a Kudzu, planta invasora que pode bloquear a luz solar de outras espécies, a Burdock, ‘erva daninha’ que cresce facilmente em condições adversas, e até Cicuta, erva venenosa que tem se expandido para novas áreas por causa do aumento do dióxido de carbono causado pelo aquecimento global.
Mesmo com o crescimento dessas pragas, é preciso controlar o uso de produtos químicos nas colheitas. “Principalmente na Europa, onde há um controle legal minucioso sobre o uso de defensivos agrícolas, é importante usar soluções tecnológicas que controlem exatamente a quantidade aplicada”, comenta.
Nesse sentido, soluções para controle de seção automatizada podem ser úteis. Segundo o especialista, elas são capazes de controlar automaticamente o corte de seções, minimizar sobreposição na aplicação de insumos e evitar o excesso e as falhas na aplicação das áreas.
Além disso, controlam o fluxo aplicado, garantem a dosagem ideal de insumos, mesmo que a velocidade de operação das máquinas varie. “Ele envia um alarme se a operação estiver fora da faixa compatível do bico selecionado ou da velocidade de trabalho”, explica.
Impactos do excesso de chuvas
Na avaliação do especialista, a irrigação é um fator básico para prever o crescimento das plantas. Como os padrões de precipitação têm sido mais difíceis de prever devido às mudanças climáticas, o especialista observa que o planejamento do agricultor se torna um grande desafio.
“Esta é uma das maiores questões atualmente para agricultores brasileiros. Mas existem ferramentas tecnológicas que usam o monitoramento da safra em tempo real para analisar a necessidade do uso de diferentes produtos, como defensivos ou fertilizantes, de acordo com o quadro e a situação climática”, analisa.
Além disso, ele menciona a possibilidade de uso de sementes mais resistentes a chuvas excessivas. “O obstáculo, neste caso, seria o preço elevado dessas sementes. Por isso, a agricultura de precisão é necessária. Tecnologias de posicionamento podem garantir que não haja excesso de uso de insumos mais caros, tornando o uso economicamente viável”, diz.
Nesse sentido, Fagundes observa que tecnologias de posicionamento de ponta são capazes de identificar a posição das semeadoras com precisão em nível centimétrico, por meio de sinais de satélite e sistemas de navegação GNSS (Global Navigation Satellite System). Assim, eles podem evitar sobreposição das áreas, onde as sementes são plantadas, para evitar desperdícios.
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Cintilação ionosférica
Outro fenômeno climático que influencia as atividades agrícolas, de acordo com o especialista, é a cintilação ionosférica, que envolve variações rápidas e irregulares na intensidade dos sinais de radiofrequência que viajam através da ionosfera, região da atmosfera terrestre que contém partículas ionizadas, o que a torna capaz de refletir e refratar sinais de rádio, como os utilizados em comunicações via satélite e sistemas de navegação GNSS.
Segundo Fagundes, o fenômeno foi agravado este ano com a entrada em um novo pico de explosões solares e tem gerado dor de cabeça para quem depende das tecnologias de posicionamento via satélite para operar as máquinas agrícolas.
“Para lidar com os impactos da cintilação ionosférica, tecnologias de posicionamento combinadas com uma solução PPP (precise point positioning) reduzem o erro de posição e o tempo de inatividade devido à cintilação”, orienta.
“Essas correções são alimentadas por uma rede global expansiva e oferecem cobertura mundial contínua, fornecendo dados para posicionamento seguro e confiável em qualquer lugar, a qualquer hora e em todas as condições climáticas”, conclui o especialista.