Em entrevista à Revista A Lavoura, o CEO da Santa Colomba fala sobre a trajetória da fazenda que tem foco a produção de algodão, tabaco sustentável (para medicamentos e destinado a produtos livres de fumaça), grãos (milho e soja) e cacau
Após afastar-se das atividades da Marinha no Rio de Janeiro, o comandante Fernando Prado vislumbrou as oportunidades e o potencial da agricultura no sul da Bahia. Tomador de risco e um entusiasta em todos os projetos com os quais se envolveu, em 1976, o empresário adquiriu uma propriedade no município de Cocos e mudou-se para a região em um período que não existia estrada asfaltada ligando Goiás ao Estado baiano, muito menos energia e telefonia.
Nesse cenário, surgiu a Fazenda Santa Colomba que cresceu bastante nas duas últimas décadas e acelerou ainda mais o processo de desenvolvimento a partir de 2011, época em que já plantava cerca de 1.300 hectares de café e 3 mil hectares de soja. Miguel Prado, o CEO da propriedade, conta para A revista A Lavoura sobre a história de sucesso e a trajetória de crescimento da propriedade.
A partir de 2013, com a introdução de recursos mais fortes em agricultura irrigada, profissionalização e fortalecimento da governança corporativa, a companhia chegou a outro patamar. “Para se ter uma ideia, a propriedade saltou de pouco mais de 1 mil hectares cultivados para um plantio anual de 35 mil hectares. Atualmente, as principais culturas são algodão, tabaco sustentável (voltado para medicamentos e destinado a produtos livres de fumaça), soja, milho e cacau”, cita o executivo.
Diferencial em gestão
A companhia utiliza ferramentas de gestão em todas as esferas, da produção aos sistemas, passando pelas áreas administrativa e de contabilidade. “No modelo de produção da companhia, introduzimos desde 2020 o sistema de gestão lean. Buscamos os principais motivos de perda de tempo e produtividade, estudando as raízes desses problemas para então alcançarmos uma eficiência operacional cada vez maior”, conta Prado.
O CEO da Colomba diz que a gestão lean está muito relacionada com a assertividade operacional, ou seja, executar determinada atividade com uma quantidade específica de insumo na hora certa. “Embora as intempéries climáticas e operacionais não permitam a perfeição, como ocorre em outras indústrias, é possível alcançar essa meta através de três pilares”, afirma o executivo.
Segundo ele, esses pilares são planejamento ativista (uso de tecnologia/digitalização dos processos para responder de forma mais ágil aos problemas), disponibilidade de máquinas alta (para manter a confiabilidade dos equipamentos com planejamento e controle de manutenção) e time focado em processos e padrões de operações agrícola . “Este foco permite que a operação tenha uma organização, desde a largada, com períodos de parada para limpeza, padrões de velocidade entre outras características”, assinala Prado.
Tecnologia e insumos
Um conceito importante utilizado no processo produtivo é o agronômico, baseado em dados/ciência (agricultura de precisão) e na introdução de produtos biológicos em busca da regeneração do solo e do custo eficiente. “Esse conceito está ligado tanto ao uso de fertilizantes e defensivos, como a um insumo muito importante para o irrigante, a água”, relata o executivo.
No aspecto água, o CEO da Santa Colomba diz que a proposta inclui cuidados com as nascentes e as margens dos rios. “Não cultivamos nada a uma distância de pelo menos 1000 metros dos rios e colocamos como limite 500 metros, parâmetro 10 vezes maior que o exigido Pelo Código Florestal”, compara. “A água é peça chave do nosso modelo de negócios. A perenidade e o respeito a recurso é o que nos garantirão a longevidade.”
No mesmo sentido, Prado o cita a instalação de uma série de sensores ao longo do percurso da água, de modo a garantir que a captação e a utilização desse insumo estão de acordo com os padrões de sustentabilidade.
“Também investimos em pesquisas feitas por mestrandos e doutores, voltadas para a utilização mais eficiente da água”, informa e destaca como resultado das pesquisas a redução de 40% no uso de água, em uma das culturas, e o aumento de 15% na produtividade, em outra lavoura, com a mesma quantidade de água ao longo do ciclo.
Gestão de pessoas
Um fator essencial para o sucesso dos negócios é o investimento em recursos humanos. Nesse aspecto, companhia aposta no desenvolvimento de seus colaboradores, em especial nos treinamentos em habilidades técnicas, comportamentais e normativos. “Nossa proposta é reter os colaboradores na companhia, afinal, gente treinada faz muita diferença para o negócio”, argumenta o CEO.
Anualmente, a empresa realiza uma pesquisa de satisfação com os colaboradores, para entender os principais gargalos na companhia. “Com base nessas pesquisas, nos últimos anos melhoramos o transporte e a alimentação, que não são descontados dos salários dos funcionários”, observa.
O bem-estar dos colaboradores é prioridade, em especial porque eles ficam durante toda semana na empresa e se dedicam para atingir os resultados propostos. “Nesse sentido, a acomodação de nossos funcionários é importante, por isso, respeitamos todas as normas e vamos além com itens que promovam o bem-estar, como, por exemplo, a instalação de ar-condicionado”, cita. Prado acrescenta que o projeto é aumentar as opções de lazer. Entre os exemplos estão a academia e o campo de futebol society construídos neste ano.
Segundo o executivo, o modelo de gestão utilizado está pautado em gente boa, treinada e com incentivos corretos. Por exemplo, atualmente, 46% dos colaboradores têm algum tipo de remuneração variável e, até 2023, a previsão é que 90% dos colaboradores estejam em algum programa de remuneração variável. “Nas pesquisas de satisfação com os nossos profissionais acatamos as principais oportunidades para satisfação e retenção do nosso time”, reforça.
O CEO da Colomba considera um fator de sucesso a “cultura de produção” e destaca a importância de ter um time consistente, com princípios claros, focados em assertividade operacional e utilizando a tecnologia para trazer respostas mais ágeis aos problemas. “Esse posicionamento eleva a produtividade a outro patamar”, argumenta.
O papel das entidades
A Colombo faz parte da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), desde 2018, e da Associação de Irrigantes da Bahia (Aiba), desde 2014. Recentemente, participou com outros produtores da criação da Rede Nacional de Irrigantes (Renai). “O espírito associativista das duas primeiras entidades buscou trazer projetos que elevassem a cotonicultura, e a agricultura baiana de maneira geral, a um nível de competitividade cada vez maior, em escala nacional e global”, atesta Prado.
Conforme explica, a alocação de capital desses projetos é estudada pelos executivos da associação, e, em seguida, analisada, seguindo os critérios de impacto para os associados, impacto na sociedade e seus stakeholders e métricas financeiras. Em sua quase totalidade, ele informa que os projetos do biênio conseguiram atender esses três requisitos.
“Por exemplo, conquistas como ampliação de estradas asfaltadas, reformas de estradas, expansão e modernização da qualidade do algodão baiano deixarão marcas por gerações, assim como projetos de apoio à sociedade, com investimentos em educação, em pesquisa e no fortalecimento da imagem da produção baiana”, cita e ressalta o apoio das entidades, com doações de equipamentos, utensílios e ferramentas médicas, para o combate ao coronavírus, desde que a pandemia foi declarada, em março de 2020.