Prática ajuda produtores e empresas do setor a identificarem oportunidades e melhorar o potencial produtivo
A descarbonização da economia brasileira é um tema que vem sendo discutido desde a regulamentação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), instituída em 2009 pela Lei 12.187, com maior ênfase após a celebração do Acordo de Paris, em 2015, com o objetivo principal não permitir que o planeta se aqueça além de 1,5ºC.
A busca pela redução de carbono (o objetivo é reduzir 1,1 bilhão de toneladas até 2030, de acordo com o novo Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC+) do Ministério da Agricultura), é uma tendência que veio para ficar não só pelos benefícios com a comercialização de carbono – que ainda se dá de forma voluntária –, mas pelos prejuízos que as mudanças climáticas causam diretamente na produção agropecuária.
Dados mostram que, só no Estado do Rio Grande do Sul, até fevereiro de 2023, 44 dos seus municípios tiveram a decretação de situação de emergência, o que poderá desencadear em prejuízos de 50% na produção da agricultura, e, consequentemente causar perdas financeiras.
Adequação às normas
Para Patrícia de Pádua Rodrigues, advogada especialista em direito ambiental, reverter esse cenário é primordial para que o agronegócio seja mais sustentável a médio e longo prazo. Para isso, a adequação às normas ambientais e aos processos produtivos mais eficazes é fundamental.
Segundo ela, a adoção de um sistema de compliance ambiental pode ajudar organizações e entidades do agronegócio a alcançarem o carbono neutro com o intuito de garantir que atividade agropecuária e o meio ambiente fiquem sadios, além de manter a competitividade no mercado.
“Quando o produtor produz de forma sustentável, respeitando a legislação e as boas práticas de manejo, ele reduz custo de produção e se torna mais competitivo porque tem todos os riscos da atividade mapeados e mitigados”, destaca e acrescenta que a descarbonização está ligada à inovação e, por isso, tende a acelerar de acordo com a adesão ao desenvolvimento tecnológico.
De acordo com Patrícia, é importante entender caso a caso o quanto o agricultor gera de carbono, conhecer o processo produtivo e, assim, propor ações que possam diminuir a emissão de gases. “É necessário sinergia entre as áreas técnicas e jurídicas, com visitas aos clientes, para identificar os riscos que a atividade causa, pois além das questões regulatórias, são necessárias licenças, alvarás, planos de gerenciamento de resíduos, entre outros requisitos legais”, observa.
Vantagens competitivas
Além das vantagens competitivas que o agro pode garantir no mercado internacional com a adoção de ações sustentáveis, a redução das emissões traz vantagens financeiras com um mercado de crédito de carbono em crescimento. Para a advogada, esse mercado ainda está no começo, mas em evolução.
“Com atuação voluntária no mercado, pode ganhar força a partir da elaboração de uma normativa de descarbonização que está sendo desenvolvida de forma prioritária pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para estipular métricas para medição de carbono e obter selos com reconhecimento nacional e internacional,demonstrando a neutralização de carbono”, avalia a especialista.
Segundo ela, a norma atenderá todos os setores da economia e, diante isso, as análises técnicas realizadas por organizações e entidades de cada setor devem continuar, incluindo as do agronegócio.
“Esta ação surgiu para criar transparência nas medições para todos os elos do setor produtivo, sejam eles fornecedores, investidores e compradores e, com isso, além de agregar mais valor no seu produto, conquistará os mercados mais exigentes”, argumenta Carolina. “Produzir com responsabilidade e sustentabilidade faz parte da nova ordem mundial”, arremata.