Triciclos da Somos Casca recolhem nas casas cerca de 12 de toneladas de lixo orgânico por mês que depois virarão adubo
Quatro amigos de longa data se juntaram para fundar a Startup Somos Casca, que oferece serviço de compostagem doméstica para quem se preocupa em dar um destino correto e sustentável ao seu lixo orgânico.
Os sócios Joana, Breno, Nicholas e Felipe começaram a compostar o próprio lixo no quintal da casa do Nicholas. O interesse de outros amigos e contatos sobre a compostagem orgânica foi aumentando, até que eles decidiram transformar a ideia em um negócio.
“O projeto surgiu de forma bem orgânica. Nós quatro somos amigos desde pequenos, tivemos formações diferentes, mas acabou que todos nos unimos para trabalhar com meio ambiente e sustentabilidade”, conta Joana Willemsens, em entrevista à Revista A Lavoura.
Criada em 2019, a startup hoje recolhe mensalmente, pela Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, cerca de 12 toneladas de resíduos de mais de 400 famílias, restaurantes, escolas, de um hotel e uma fábrica de alimentos para pets.
“Se fala muito do lixo reciclado, enquanto o orgânico não é tão comum. À medida que fomos aumentando a rede, vimos o interesse das pessoas. Sabíamos que tínhamos espaço no mercado, porque o lixo é infinito, se gera o tempo todo”, explica.
Hoje, a Somos Casca realiza a coleta de resíduos em treze bairros do Rio: Gávea, Leblon, Ipanema, Copacabana, Lagoa, Jardim Botânico, Humaitá, Botafogo, Laranjeiras, Flamengo, Urca, Catete e São Conrado. Mas os planos da empresa são de expandir, em breve, para pelo menos Barra da Tijuca e Tijuca.
“Queremos chegar a cada vez mais pessoas e a mais regiões do Rio”, ressalta Joana.
Como funciona?
Os clientes interessados pagam uma mensalidade que varia de acordo com a frequência da coleta. O plano “cascalho”, com coleta a cada quinze dias, o plano “casquinha”, uma vez por semana, e o “casca grossa”, que conta com duas coletas semanais.
A startup entrega os baldes vazios e recolhe os baldes cheios, que depois são levados, em triciclos elétricos, até bases de despacho. Daí, a carga segue em um pequeno caminhão até a da sócia OrganoSolos, que transforma esse resíduo em adubo.
Os assinantes, além de terem direito de receberem até dois quilos de adubo por mês, também possuem benefícios na hora de comprar com empresas parceiras, que trabalham com produtos, alimentos e cosméticos naturais.
“Agregamos valor com um clube de benefícios com parceiros, de marcas que acreditamos que se alinham aos nosso valores de sustentabilidade e bem-estar. E nosso cliente tem desconto para fazer compras direto como esses parceiros”, pontua.
Mais consciência sobre o lixo orgânico
Joana chama a atenção para o que está por trás do interesse das pessoas na hora de aderir a um serviço de compostagem doméstica.
“A motivação dos clientes vem muito de querer fazer a diferença, de fazer a sua parte dentro do todo. E não é um esforço tão grande, é só uma mudança de hábito”, conta Joana.
Segundo ela, a relação das pessoas com o resíduo é muito dissociada.
“Você joga o lixo no saco preto, na lixeira do prédio, alguém passa e leva para um lugar que você não sabe onde é, não o que acontece. É difícil gerar essa preocupação do que acontece com meu lixo, para onde vai, o que vira. E isso é uma coisa que buscamos muito aqui, essa questão da educação ambiental”.
Joana explica que depois da pandemia essa consciência a respeito do próprio lixo cresceu, o que levou o número de clientes a duplicarem em apenas dois meses.
“Estamos vendo está tendo mais procura, as pessoas estão um pouco mais ligadas (…) Na pandemia, as pessoas ficaram mais em casa e tiveram mais noção do quanto geravam de resíduo”.
A fundadora do Somos Casca lembra da importância da educação ambiental.
“Fizemos várias oficinas e palestras em escolas. Além de ser uma estratégia para atingir pais e mais clientes, é uma tática para preparar a próxima geração para vir mais consciente. Aprender desde pequeno a virar parte da rotina. É muito difícil depois que você começa a compostar ou criar qualquer outro hábito sustentável, você regredir e abandonar esse hábito”.
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Joana também defende o papel do poder público no estímulo a atividades de compostagem de resíduos orgânicos.
“Um tema central a ser debatido é a questão do IPTU Verde, que já existe, mas não contempla resíduo orgânico para compostagem. Estamos procurando mecanismos para bater nessa tecla e incluir a gestão de resíduos como fator para abater o IPTU. Outros Estados já têm movimentação em relação a esse tema”, pontua.