Em entrevista para a Revista A Lavoura, o professor, bioengenheiro e presidente do JBS Biotech Innovation Center, Luismar Porto, explica como funciona essa técnica, que consiste em produzir alimentos a partir de células animais. Ele também aborda a evolução deste mercado, as perspectivas para o segmento e sua importância para o desenvolvimento da indústria de alimentos.
Revista A Lavoura: Considerando o aumento da demanda por comida nos próximos anos, qual a importância do desenvolvimento de novas tecnologias para a indústria alimentar?
Luismar Porto: Para dar conta de alimentar a crescente população mundial, que deve chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050, de acordo com estimativas da ONU, será necessário olhar para opções alternativas de produção de proteínas. Nesse contexto, entendemos que a proteína cultivada também é uma importante alternativa. Vale ressaltar que não é um investimento em substituição, mas em complementariedade, pois a JBS tem convicção de que os modos tradicionais de produção de proteínas também são essenciais para o futuro da humanidade.
A Lavoura: Como a bioengenharia e a biotecnologia podem contribuir para oferecer ao mercado novas opções em alimentos?
LP: No caso da proteína cultivada, a tecnologia é essencial e tem potencial para a produção de proteína bovina, de frangos, suínos e pescados, entre outras opções. É por isso que a JBS está investindo pesadamente em tecnologia, com a criação do JBS Biotech Innovation Center, em Santa Catarina. Acreditamos que a união entre o conhecimento tecnológico e a reconhecida capacidade de produção da JBS será capaz de acelerar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada no Brasil e no mundo.
A Lavoura: A proteína cultivada é uma novidade em relação à indústria de alimentos. Quais as perspectivas sobre esse nicho de mercado?
LP: Entendemos que as perspectivas são positivas e que a tecnologia para produção de proteína cultivada já está em fase escalável e que, em breve, vários produtos estarão disponíveis para consumo. A proteína cultivada chega para complementar o portfólio diversificado da companhia, que está atenta e ampliando sua plataforma global para atender às novas tendências de consumo e ao crescimento da população global.
A Lavoura: Quais os benefícios da proteína cultivada e quando ele estará disponível para o consumo?
LP: Acreditamos que a proteína cultivada será uma opção capaz de atender parte importante da população, de maneira sustentável. A expectativa é que os primeiros produtos estejam aptos a acessar o mercado em 2024. Importante dizer que, quando estiver em fase comercial, a proteína cultivada chegará inicialmente aos consumidores na forma de alimentos preparados, como hambúrgueres, embutidos, almôndegas, entre outros.
A Lavoura: Quais as tecnologias envolvidas na produção de proteína cultivada?
LP: O processo para a produção da proteína cultivada é repleto de tecnologia. Inicialmente, são retiradas células-tronco de animais vivos. Na sequência, essas células são cultivadas com nutrientes específicos para a sua proliferação. O próximo passo é a utilização de biorreatores que ampliam a capacidade produtiva das células e, em seguida, essas células são selecionadas e estruturadas para que seja possível a sua finalização. Por fim, a proteína resultante pode ser utilizada na produção de alimentos, como hambúrgueres, embutidos, almôndegas, entre outros.
A Lavoura: Como esse novo processo produtivo vai impactar a indústria de alimentos e a cadeia alimentar?
LP: Entendemos que as formas alternativas de produção, como a proteína cultivada, são complementares aos meios tradicionais de produção. Os investimentos para o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada são parte do esforço para garantir a disponibilidade de alimentos para 10 bilhões de pessoas no planeta até 2050. Não é uma tarefa trivial, é essencial aumentar a produção de alimentos para dar conta dessa demanda global dos próximos anos, por isso, a diversificação é tão importante.
A Lavoura: Quais investimentos têm sido feitos para viabilizar a produção de proteína cultivada no Brasil?
LP: O investimento as empresa no mercado de proteína cultivada é, de longe, o mais relevante entre as companhias brasileiras. No total, a previsão é de aportes superiores a US$ 100 milhões, nos próximos anos.
No Brasil, a empresa está investindo US$ 60 milhões na construção do JBS Biotech Innovation Center, que será o primeiro centro de pesquisas com foco no desenvolvimento de tecnologia para a produção de proteínas cultivadas do Brasil. No espaço, um novo centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) de 10 mil metros quadrados de área construída, com possibilidade de expansão para futuros projetos da JBS, terá uma estrutura inicial com laboratórios especializados para o desenvolvimento de tecnologia 100% nacional para a produção de proteína cultivada.
Vale dizer que o movimento da empresa conta também com um importante investimento no exterior: a aquisição do controle da companhia espanhola BioTech Foods, uma das líderes no desenvolvimento de biotecnologia para a produção de proteína cultivada, por US$ 41 milhões, com o apoio e financiamento do governo espanhol e da União Europeia. O aporte prevê a expansão da BioTech, que já opera uma planta-piloto na cidade de San Sebastián, na Espanha, e tem a expectativa de alcançar a produção comercial em meados de 2024, com a construção de uma unidade fabril com capacidade de 1 mil toneladas por ano.
Redação A Lavoura