Instituição não governamental dos EUA com foco na boa alimentação de alunos do ensino público – da pré-escola ao ensino médio – e na adoção da aquaponia por agricultores “menos favorecidos”, INMED completa 25 anos de atuação no Brasil
Trabalhar com crianças e adolescentes da pré-escola ao ensino médio, focando na saúde e nutrição, incentivando e colaborando com a instalação e desenvolvimento de hortas escolares e promovendo o envolvimento dos ‘pequenos’ e suas famílias com a alimentação mais saudável.
Esse tem sido o principal desafio da INMED Partnerhsips for Children, que ainda divulga e orienta, tecnicamente, sobre a facilidade de adoção do sistema sustentável de aquaponia, voltado para populações mais carentes de diversos países, dentre eles o Brasil.
Fundada em 1986 pela presidente e CEO da instituição, Linda Pfeiffer, a organização não governamental norte-americana tem levado a várias partes do mundo, incluindo as mais distantes, propostas em torno da importância de promover a segurança alimentar em todo o planeta.
Doutora em Arqueologia e Antropologia pela Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara (Estados Unidos), a executiva ressalta que seu trabalho começa pelo treinamento de professores e merendeiras, gestores de escolas públicas e agentes comunitários de saúde e educação.
“Na visão da INMED, a educação e a cognição dependem da nutrição, portanto, crianças saudáveis têm um futuro brilhante. Foi assim que nasceram nossos programas, sempre executados com a parceria de fundações, corporações e filantropos”, conta Linda, em entrevista à revista A Lavoura.
Ela está de passagem pelo Brasil, onde cumpre uma extensa agenda entre os dias 25 de novembro e 6 de dezembro de 2018.
Importância das parcerias
Para a doutora, as parcerias são fundamentais, especialmente quando o intuito é promover a segurança alimentar de crianças, adolescentes, adultos e idosos mais vulneráveis, do ponto de vista socioeconômico, em todo o mundo. E foi assim que descobriu o poder da união: logo no início de sua carreira profissional, após concluir os doutorados e realizando trabalhos de campo no México e na América Central.
“Vivendo com e aprendendo com moradores de vilarejos paupérrimos, acendeu uma luz em mim. Passei, então, a dirigir programas em agências humanitárias, a partir dos ensinamentos que aprendi na universidade e das regras do Banco Mundial, antes de fundar a INMED Partnerships for Children, hoje conhecida apenas como INMED”, lembra Linda.
Os sistemas e soluções da instituição visam “quebrar complexos de pobreza e gerar oportunidades de autossuficiência”, principalmente para produtores rurais familiares ou mais pobres, que não contam com recursos tecnológicos mais avançados e acessos ao crédito.
Produção de alimentos
Com olhar mais amplo sobre a produção agrícola de menor porte – porém, não menos importante – e levando em conta que hoje, no Brasil, a agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos que chegam aos lares do País, Linda avalia: “De fato, reconhece a FAO (Organização das Nações para a Agricultura e Alimentação) que, para eliminar a fome no mundo até 2030, 40% dos acréscimos da produção de alimentos do planeta virão do Brasil”.
Nos últimos 25 anos, pelo menos uma vez ao ano, ela tem visitado diversas regiões do território nacional, sempre percorrendo locais distantes e populações mais carentes. Nesse período, a INMED já impactou, positivamente, a vida de mais de 3,5 milhões de crianças e adolescentes, em 17 Estados brasileiros.
Em sua segunda viagem ao Brasil em 2018, entre outras atividades, ela fará uma visita ao município de Tucumã, Estado do Pará.
Depoimentos sobre a INMED no mundo
Na visão da CEO, “o ciclo de pobreza somente será quebrado com investimentos sociais, responsabilidade que a sociedade civil também deve assumir”.
A INMED, além dos EUA, está presente na América Central com ênfase na Jamaica. “Na América do Sul, destacamos o Peru e Brasil e no continente africano, a África do Sul”, informa a executiva.
Para reforçar a importância do trabalho da instituição, Linda repassa, à revista A Lavoura, alguns depoimentos de alunos e seus familiares, além de dirigentes de escolas públicas, que abordam as transformações que a presença da organização norte-americana provocou em suas vidas.
“Estávamos sofrendo muito e a INMED mudou nossas vidas. Vejo muito sucesso em nosso projeto e vamos gerar muito mais lucro”, diz Pietrus Moshoeshoe, líder de uma cooperativa agrícola na África do Sul.
“A INMED nos mostrou o caminho. Agora, é nossa responsabilidade cuidar do solo, seja ele de cascalho, barro ou terra. Nosso trabalho é conseguir o equilíbrio do pH correto e impulsionar nossa missão, alimentando e educando nossa nação com o que aprendemos”, comenta o jamaicano Norman Walters, participante da IACA – Increasing Access to Climate-Smart Agriculture (Aumentando o Acesso à Agricultura Inteligente pelo Clima, em tradução livre para o português).
“Sou supervisora e estou muito satisfeita com o programa ‘Ação Saudável’ (da INMED). É uma pena que o programa só tenha a duração de três anos, porque eu estou aqui, atuando no município há seis anos, e durante esse tempo nunca tinha tido uma parceria tão boa quanto essa”, relata Carla Faria, da Escola Maria Ozanira, em São Paulo, Brasil.
Adoção da aquaponia
Linda informa que, além das hortas escolares e comunitárias, a INMED também orienta sobre a adoção da aquaponia, sistema que utiliza a agricultura inteligente e adaptável às circunstâncias regionais e com uso de materiais locais.
“Essas unidades (de aquaponia) são baratas e escaláveis para produzir alimentos o ano todo e gerar renda para as famílias em ambientes escolares, familiares e comunitários.”
A executiva relata a evolução das hortas escolares para esse sistema aquapônico, já conhecido no Brasil, que combina a criação de peixes com a produção agrícola, em um sistema fechado, onde a água dos tanques circula com os dejetos dos peixes, nutre as raízes das plantas e retorna aos tanques por gravidade.
“A água a ser reposta é apenas a da evaporação e a energia necessária é mínima, apenas para fazer a água circular. A adubação é orgânica e não são produzidos efluentes”, garante ela.
Pela aquaponia, destaca Linda, o rendimento agrícola é, pelo menos, cinco vezes maior em comparação à agricultura convencional e em área equivalente, não requerendo “mão de obra pesada” e podendo ser operado por pessoas com deficiências físicas, mulheres e idosos.
“Introduzimos a aquaponia na Jamaica, há mais de dez anos, com o apoio da Agency for International Development (USAID). Atualmente, nossas unidades estão se expandindo com o apoio financeiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), entre outros bancos multilaterais de crédito, que oferecem juros acessíveis.”
A INMED, em contrapartida, “treina as pessoas para operarem, terem acesso a mercados e formarem suas próprias microempresas”.
Sustentabilidade e acessibilidade
Considerando sua experiência acumulada há décadas, Linda acredita que a aquaponia, dentre outros sistemas sustentáveis existentes em todo o planeta, pode colaborar diante de um cenário global de mudanças climáticas, desnutrição humana e déficit no desenvolvimento socioeconômico em países mais pobres ou ainda “em desenvolvimento”, como ainda é considerado o Brasil em âmbito mundial.
“A aquaponia não é uma invenção da INMED, até porque existe desde os tempos dos astecas. O que fizemos foi adaptá-la para que pessoas de baixa ou nenhuma instrução, ao operá-la, possam gerar renda. A aquaponia é resiliente às mudanças climáticas, pois não requer solo, utiliza pouca água e uma pequena célula fotovoltaica ativa o sistema.”
Conforme a executiva, a produção de peixes e hortaliças processadas por merendeiras abastece os refeitórios de escolas públicas com alimentação natural, rica em proteínas, minerais e fibras.
“Crianças bem alimentadas têm futuro. Essa é a fórmula INMED
de quebrar o perverso ciclo da pobreza e dar esperança de uma vida melhor às comunidades mais carentes”, reforça a doutora, mais uma vez.
União de civis e governos
A CEO da INMED Partnerhsips for Children, organização não governamental que completa 32 anos de história em 2018, ressalta que civis e governos, que desejam colaborar para um mundo com maior segurança alimentar, especialmente em nações mais carentes, precisam se unir, de forma responsável.
“A segurança alimentar em países pobres requer a colaboração entre o setor público e a iniciativa privada. Esse é o caminho para gerar prosperidade com recursos escassos. A partir de recursos financeiros da sociedade civil e da gestão pública, podemos construir uma sociedade mais humana e comunidades mais prósperas.”
Linda ainda ensina: “Ser grato pela oportunidade de doar a quem precisa é o que nos move e gerar oportunidade a quem precisa é o que nos gratifica”.
Colaboração do Brasil
Sobre o papel do País na produção global de alimentos, a executiva corrobora com a perspectiva de especialistas e instituições, como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO): “O Brasil é e será, sem dúvida, um dos protagonistas da solução da segurança alimentar do planeta”.
“A inovação e a tecnologia têm levado as propriedades rurais brasileiras a utilizarem técnicas de manejo exemplares, reduzindo e substituindo, consideravelmente, o uso de fertilizantes químicos nitrogenados e de pesticidas por controles biológicos de pragas”, comenta.
Ela afirma que esse cenário, no País, se deve às parcerias entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e companhias nacionais e multinacionais de produção e comercialização de sementes, fertilizantes e pesticidas.
“Todos são responsáveis por resultados surpreendentes, que transformaram a agricultura intensiva no Brasil em uma das mais avançadas do mundo”, sentencia.
Importância da agricultura familiar
Diante desse cenário nacional de evolução no campo, Linda ressalta o papel primordial da agricultura familiar, que é muito representativa e disseminada por todas as regiões brasileiras.
“De acordo com o último Censo Agropecuário 2017 (do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), a agricultura familiar é a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes. Além disso, é responsável pela renda de 40% da população economicamente ativa do País e por mais de 70% dos brasileiros ocupados no campo.”
Levando em conta a atual situação agrícola do País, a executiva afirma que, “se o Brasil tivesse somente a agricultura familiar, seria o oitavo maior produtor de alimentos do mundo”.
“Desenvolvendo a agricultura intensiva, o Brasil teria mais excedentes para alimentar o resto do mundo”, reforça a CEO.
Políticas públicas
Ciente da renovação na presidência da República e das cadeiras de governadores, senadores, deputados federais e estaduais, após as eleições de outubro deste ano no Brasil, Linda prefere reafirmar que o foco da INMED é trabalhar com políticas públicas, porém, destaca que “somos apolíticos”.
“Estamos no País há 25 anos e convivemos, portanto, com diferentes governos, sempre atuando como ponto de convergência entre a escola pública e a sociedade civil. Nossa proposta para a segurança alimentar nos aproxima da escola pública e, na área de segurança pública, nos aproxima de presos e presas de baixa periculosidade, sem instrução.”
Em presídios femininos, exemplifica a executiva, “a aquaponia pode gerar alimentos naturais e saudáveis para os refeitórios e renda para as presas, com possível redução das penas, além de sua ressocialização”.
Agenda no País
Em visita ao Brasil desde final do mês passado, a CEO da INMED informa “uma agenda pesada” – de 25 de novembro a 6 de dezembro –, com visitas às áreas de produção de cacau, em Tucumã (PA), e lançamento da terceira etapa do projeto “Ação Saudável”, em parceria com a Mondelez International Foundation, empresa responsável pela produção dos biscoitos Trakinas, Club Social, Chocooky e Bon Gouter, além das sobremesas da marca Royal.
Ela ainda visitará outros locais públicos, “visando à possível cooperação com investidores sociais por meio da INMED”.
Dra. Linda Pfeiffer também fará a apresentação do Projeto Aquaponics para governadores eleitos, prefeitos e empresários engajados com a modernização dos Estados brasileiros como um todo, durante a reunião anual do Movimento Brasil Competitivo (MBC), que será realizada na quarta-feira, dia 5 de dezembro, em São Paulo.
Para mais informações sobre o trabalho da INMED no Brasil e no mundo, acesse o site https://paracriancas.org.br.