A IA auxilia na promoção do uso eficiente de água, identificando práticas agrícolas que reduzem o consumo hídrico sem comprometer a produtividade, e premite prever crises, como secas ou escassez alimentar, ajudando governos a antecipar soluções (Foto: Fabiano Bastos/Embrapa)
A água é essencial para a produção de alimentos, representando 72% de toda a retirada de água doce no mundo. No entanto, sua disponibilidade está cada vez mais em risco devido às crescentes demandas alimentares e às mudanças climáticas. Nesse cenário, a Inteligência Artificial (IA) surge como uma ferramenta crucial para enfrentar os desafios de segurança hídrica e alimentar, promovendo soluções sustentáveis e otimizadas.
Um relatório recente do Fórum Econômico Mundial, elaborado pelo Conselho Global para a Segurança Alimentar e Hídrica, destaca a criação de um framework inovador chamado food-water stack (sistema alimentar-hídrico, em tradução livre).
Esse modelo utiliza dados integrados e IA para melhorar a tomada de decisão sobre o uso de recursos hídricos na agricultura, ajudando a mitigar crises futuras e promovendo práticas mais resilientes.
O food-water stack propõe consolidar dados de diversas fontes — locais, nacionais e internacionais — para criar um panorama integrado de sistemas alimentares e hídricos.
Segundo Usha Rao-Monari e Ranveer Chandra, co-presidente do conselho, “com acesso aberto a dados, inteligência artificial e análises preditivas, temos as ferramentas necessárias para projetar sistemas alimentares e hídricos resilientes e justos, criando uma mudança real”.
Uso eficiente da água e de recursos
Essa abordagem, segundo o relatório, permite prever crises, como secas ou escassez alimentar, ajudando governos a antecipar soluções e otimizar a gestão de recursos, analisando padrões climáticos, disponibilidade hídrica e práticas agrícolas para recomendar as culturas mais adequadas a cada região.
Além disso, pode colaborar para direcionar melhor os investimentos necessários, que permitam que instituições financeiras priorizem áreas de maior impacto, como infraestrutura de irrigação, com base em dados consolidados.
Além disso, o relatório destaca casos de aplicação do framework em diferentes países, mostrando como governos têm utilizado a IA para enfrentar desafios locais.
Em áreas vulneráveis à seca, por exemplo, o sistema foi empregado para prever períodos críticos e implementar sistemas de irrigação inteligentes, reduzindo o desperdício e aumentando a eficiência.
Em outra frente, agricultores em regiões de alta variabilidade climática estão utilizando dados para adaptar suas práticas, escolhendo culturas mais resistentes e otimizando o uso de insumos.
A IA também auxilia na promoção do uso eficiente de água, identificando práticas agrícolas que reduzem o consumo hídrico sem comprometer a produtividade.
Além disso, ferramentas preditivas ajudam agricultores a adaptar suas atividades às condições climáticas em constante mudança, e análises em tempo real minimizam perdas durante o cultivo e a distribuição.
Recomedações aos governos
O relatório também sugere passos concretos para governos e organizações implementarem esse framework.
Entre as recomendações estão o desenvolvimento de infraestruturas de dados para unificar fontes de informação existentes e criar protocolos para compartilhamento de dados; a promoção de colaboração multissetorial, envolvendo governos, setor privado, agricultores e comunidades locais no planejamento e execução de soluções.
Além disso, o relatório destaca a garantia de acesso aberto aos dados, com uma plataforma neutra que assegure a privacidade e facilite a contribuição de diferentes partes; e o investimento em capacitação e educação, preparando uma nova geração de líderes e agricultores para aproveitar o potencial da IA e de soluções tecnológicas.
A abordagem também promove a inclusão social e a sustentabilidade ambiental.
Ao adotar esse sistema, de acordo com o documento, é possível criar sistemas alimentares e hídricos mais justos, garantindo o bem-estar das gerações atuais e futuras.
Contudo, os autores destacam que a transformação dessas práticas dependerá do compromisso contínuo de governos, setor privado e sociedade civil em adotar soluções baseadas em dados e inovação, promovendo uma revolução sustentável para o futuro do planeta.