Em todo o mundo, a desnutrição de micronutrientes, que atinge principalmente países em desenvolvimento, tem efeitos desastrosos para a saúde e, consequentemente, para a economia das nações. A carência de vitaminas e minerais essenciais — a chamada fome oculta — compromete o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, bem como seu sistema imunológico, durante sua formação, nos primeiros anos de vida.
O Consenso de Copenhague 2012, painel internacional composto por cinco dos maiores especialistas do mundo em desenvolvimento e bem-estar social, quatro deles ganhadores do Prêmio Nobel, elegeu soluções para a deficiência de micronutrientes como prioridade número um para o desenvolvimento e bem-estar social global.
Adição de micronutrientes
A fortificação de alimentos básicos é considerada uma das estratégias mais baratas e eficazes para o combate à desnutrição de micronutrientes. Os Estados Unidos e a Europa fortificam alimentos básicos desde os anos 1940, a fim de garantir uma boa saúde da população. Comparada aos suplementos vitamínicos em gotas ou comprimidos, a fortificação tem a vantagem de ter custo menor e aceitação mais fácil, já que passa a fazer parte da dieta e não requer mudanças de hábitos da população.
Investimentos nessa área possibilitariam a mais de cem de milhões de crianças em todo o mundo começar suas vidas livres de atrofias e subnutrição. E os benefícios se estendem por toda a vida: o corpo e os músculos crescem mais rápido, as capacidades cognitivas se expandem, e o rendimento e a freqüência escolar melhoram.
Tecnologia
O Brasil já dispõe do Super Arroz, um dos maiores programas de fortificação de alimentos do mundo, criado pela PAT H e pela GAIN, instituições globais sem fins lucrativos. A tecnologia produz grãos feitos de farinha de arroz, vitaminas e minerais que, misturados com o arroz tradicional, fornecem um terço das necessidade diárias de micronutrientes essenciais como o ferro, a vitamina A, o ácido fólico e o zinco.
O trabalho de fortificação com o Super Arroz já foi implantado com sucesso na Índia e no Camboja, países que recebem o produto gratuitamente. A PAT H transfere a tecnologia e doa arroz para os projetos pilotos, que, no Brasil, foram implantados nas cidades de Sobral (CE), Indaiatuba (SP), Dourados (MS) e Vespasiano (MG). A empresa divulga o projeto e procura parceiros. A Adorella, pastifício de Indaiatuba, faz a extrusão do arroz (molda a pasta com as vitaminas em formato de arroz) e a Urbano, empresa arrozeira de Jaraguá do Sul, vai fazer a mistura na proporção de 1/100 , ensacar e vender o produto em supermercados, ainda este ano. Será a primeira vez que a PAT H fará o comércio do arroz.
O programa pretende atingir 10 milhões de pessoas, principalmente em situações de risco, até 2014, diz Peiman Milani, um dos responsáveis pelo projeto no Brasil. O arroz é um dos melhores alimentos a serem fortificados porque faz parte da dieta da maioria da população mundial, especialmente da brasileira. Mais de 30 estudos em dez países, incluindo o Brasil, indicam que o consumo do Super Arroz, numa proporção de mistura 1 por 100, ajuda a preencher as lacunas da dieta, melhorar a saúde e prevenir a subnutrição em crianças e mulheres, os mais atingidos com a deficiência de micronutrientes.