Rainha absoluta das latas, a sardinha (Sardinella brasiliensis) responde por dois terços do mercado nacional de peixes em conserva, o qual faturou R$2,27 bilhões em 2009, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentação. No entanto, ao longo dos anos, tem-se registrado um declínio dos estoques naturais de sardinha. Em 1970, o Brasil pescou 135 mil toneladas da espécie. Já no ano passado, a captura somou pouco mais de 90 mil toneladas. Para assegurar a proteção da sua reprodução, foi instituído o período de defeso, cinco meses anuais em que a pesca é proibida.
Com o objetivo de responder a esse gargalo da indústria conserveira e ampliar o mercado consumidor de pescados em conserva, alcançando novos nichos, especialistas da Embrapa iniciaram o projeto “A matrinxã (Brycon cephalus) como alternativa à sardinha verdadeira (Sardinella brasiliensis) para enlatamento pela indústria de pescados”, e assim começar a testar essa e outras espécies de peixes propícias para a comercialização em lata.
“É um projeto abrangente que analisará a viabilidade econômica da produção, a aceitação do mercado consumidor, os processos tecnológicos de processamento da matrinxã e a transferência de boas práticas aos aquicultores interessados em produzir a espécie”, explica o analista Diego Neves que coordena o projeto ao lado da pesquisadora Patrícia Mochiaro, ambos da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO).
Nicho de mercado
“Caso a matrinxã se mostre mais onerosa que a sardinha, podemos inseri-la em outro nicho de mercado e testar outras espécies para substituir a sardinha-verdadeira”, informou Neves, apontando espécies conhecidas como sardinha- de-água-doce (Triportheus ssp., Hemiodus ssp., entre outras) como possíveis candidatas para a produção em conservas em substituição à espécie marinha.
Estudos indicam que a matrinxã apresenta crescimento precoce e boa conversão alimentar, chegando a atingir entre 800 gramas a 1,2 quilo em um ano, e possui características que a tornam indicada para agricultores familiares. “De acordo com a literatura, a matrinxã pode se tornar importante tanto para a indústria conserveira de pescado como para pequenos produtores que podem fazer o processamento por meio de cooperativas”, colocou o analista da Embrapa.