A pecuária de corte, que gera emprego e renda para bilhões de pessoas em todo o mundo, vem ganhando destaque pelos impactos negativos causados ao meio ambiente. Isso decorre do sistema extensivo de produção adotado na maioria das regiões produtoras, que consome uma grande quantidade de recursos naturais, principalmente terra e água.
De acordo com o último senso do IBGE (2006), o rebanho brasileiro soma cerca de 169,9 milhões de cabeças, espalhadas em mais de 170 milhões de hectares com pastagens. No Brasil, a pecuária bovina se caracteriza pelo sistema extensivo de produção, o que intensifica impactos ambientais como a destruição de biomas como o cerrado e a Amazônia, a degradação do solo e a emissão de gases do efeito estufa (GEE). Com relação a este último item, a preocupação com o aquecimento global estimulou as investigações sobre as emissões de GEE.
Resultados
Um dos principais resultados é que a pecuária bovina comercial contribui com cerca de 11% das emissões globais causadas pela ação do homem. Os gases emitidos por esta atividade são principalmente o metano (CH4), gerado pela fermentação entérica e pelas fezes do animal, e o óxido nitroso (N2O), proveniente das fezes. Em solo brasileiro, esta atividade é a segunda principal emissora de GEE, perdendo apenas para o desmatamento. Especialistas apontam que uma das formas de mitigar os impactos ambientais é a intensificação da produção através da melhora da qualidade do alimento fornecido aos animais. No caso particular das emissões de GEE isto ocorre porque melhora o processo ruminal e diminui o tempo de vida do animal.
“No entanto, para produtores do setor, o fato de modificar o sistema, ou seja, promover a intensificação da produção bovina em benefício ambiental não necessariamente significará uma vantagem econômica”, afirma o economista Matheus Henrique Scaglia Pacheco de Almeida, que estudou essa problemática no Programa de Pós-graduação em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ). Sob orientação do professor Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES), o pesquisador avaliou, sob o ponto de vista econômico, o confinamento de animais em fase de terminação em cinco propriedades no Centro-Oeste brasileiro. A pesquisa apresentou também as mudanças nas emissões de GEE – desde a produção do alimento até o animal estar pronto para o abate – decorrentes do confinamento, de acordo com a metodologia do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Os resultados mostram que o confinamento dos animais na fase de terminação podem reduzir as emissões em 17%, passando de 41 kg de CO2 equivalente, por quilo de carne produzida (kg CO2 eq./kg carne) para 33 kg CO2 eq./kg carne. “Ficou claro também a redução promovida pela melhora no manejo do rebanho”, aponta Matheus. De acordo com o pesquisador, comparando o sistema menos eficiente em termos de emissões (a pasto e com animais de 21 meses) com o melhor (gados confinados, com 15 meses) registrou-se uma diferença de 33% na quantidade de CO2 eq/kg carne.
Se o aspecto ambiental ganha com o confinamento, os benefícios econômicos não são tidos como certos. “Entre outros fatores, o produtor dificilmente recebe todo o valor de mercado das emissões evitadas a partir da intensificação das atividades, uma vez que o processo de aprovação das chamadas Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) é custoso. Portanto, a intensificação da propriedade, por meio do confinamento dos animais em fase de terminação, mostrou-se economicamente inviável para a maioria das propriedades, quando comparadas ao sistema extensivo. Outro ponto que contribui para isso é o condicionamento do produtor à variação constante dos custos de mercado como, por exemplo, o preço da matéria prima da ração animal”, conclui o autor do trabalho.