Bioprotetor promove qualidade sensorial à bebida, valorizando a safra de café em 30%, no mínimo
Um fungo do bem que combate outros fungos prejudiciais à qualidade do café. Uma combinação de enzimas capaz de acelerar o processo de retirada da polpa do café.
Duas soluções biotecnológicas desenvolvidas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) que garantem sustentabilidade e ainda mais qualidade e produtividade ao agronegócio café.
O ‘fungo do bem’, na vida real da ciência, se chama Cladosporium cladosporioides e, no dia a dia do produtor rural, pode valorizar a safra em no mínimo 30%, principalmente porque influencia diretamente na qualidade sensorial da bebida.
Tipo benéfico
“Após vários trabalhos para identificar e controlar fungos que interferiam negativamente na qualidade do café, descobrimos um tipo que não era prejudicial. Ao contrário, ele se destacava por estar sempre associado a bebidas de qualidade”, afirma Sara Chalfoun, responsável pela pesquisa na Epamig, que contou com a parceria de Carlos Pimenta, da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Os resultados demonstraram que além de eliminar os agentes que causam o mofo nos grãos de café, principalmente em regiões úmidas, o uso do bioprotetor não onera o investimento, porque custa o mesmo que produtos químicos, o equivalente ao valor de três sacas por hectare.
Desde 2004, quando os pesquisadores conseguiram isolar esse fungo, a tecnologia está patenteada. Afinal, o uso de bioprodutos é uma crescente demanda do mercado, sempre em busca de soluções sustentáveis que resultem em maior produtividade e mais qualidade.
Enzima para despolpa do café
Atenta aos novos desafios, Sara Chalfoun, pesquisadora de café há quarenta anos, desenvolveu também um desmucilador enzimático que foi patenteado em 2010 por Epamig/Ufla/Fapemig e inventores. Essa combinação de enzimas elimina a polpa do café em duas horas e meia, enquanto o processo tradicional leva 72 horas. Otimizando o processo pós-colheita, o produtor consegue comercializar mais rapidamente a safra. Além disso, evita problemas com mudanças climáticas”, explica Chalfoun.
Enquanto em países como México, Colômbia e Quênia a retirada da polpa do café — chamada despolpa ou desmucilagem — é bastante utilizada para preparar o café após a colheita. No Brasil, os produtores ainda optam pela secagem do fruto no terreiro. Mas a opção entre os dois métodos pode interferir na qualidade da bebida.
“A desmucilagem evita a fermentação do fruto, e, com isso, aumenta a possibilidade de o produtor obter melhor padrão da bebida. Além disso, secar o café no terreiro requer uma área grande, e o processo é demorado. Usando o método da despolpa, o tempo cai para mais da metade, e, com a combinação de enzimas que desenvolvemos, gasta-se apenas duas horas e meia”, detalha a pesquisadora.
Por isso, as pesquisas indicam que o processamento usando meio úmido é mais adequado, e, também, sustentável. A própria mistura de enzimas e micro-organismos, previamente selecionados, purifica a água. “Com isso, cria-se um ciclo, no qual a água resultante dos processos de lavagem do café pode ser reutilizada na própria lavoura, em sistemas de irrigação ou, ainda, ser devolvida ao meio ambiente, isenta de toxicidades”, destaca Sara Chalfoun.