Uma correta avaliação do momento certo da colheita pode aumentar o aproveitamento dos grãos
Para garantir uma colheita de sucesso na cafeicultura, os produtores devem estar atentos a algumas regras de manejo e cuidados especiais em cada etapa da produção. Antes e depois da colheita existem regras que devem ser seguidas para garantir a qualidade dos grãos. A colheita precoce, por exemplo, pode prejudicar a produção em até 20%. Segundo Sérgio Maurício Lopes Donzeles, pesquisador da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), antes da colheita, o produtor deve realizar algumas práticas preventivas.
Para ele, o cafeicultor deve fazer uma arruação leve com rodo ou rastelo para evitar a retirada de restos de adubo e a terra das raízes, deixando-as desprotegidas do sol; reformar as estradas e corredores nas lavouras, adquirir materiais necessários para colheita: panos, sacos, lonas, peneiras, balaios, rodos, etc.; limpar as tulhas e os terreiros retirando restos de café da safra anterior e consertar rachaduras e gretas; verificar o sistema de abastecimento de água que será utilizado nas instalações; fazer a revisão e manutenção de equipamentos, além da limpeza dos lavadores e descascadores dos terreiros utilizando uma vassoura hidráulica. Ele deve também realizar uma higienização com água e hipoclorito de sódio na proporção de 1 litro para 100 litros de água e, por último, fazer a revisão dos veículos de transporte.
Diferentes fases
“As lavouras de café do Brasil apresentam mais de uma floração. No mesmo ciclo produtivo, o cafeeiro produz frutos com diferentes fases de desenvolvimento e maturação. Sabe-se que a máxima qualidade do fruto é alcançada no estágio de cereja, ponto ideal de colheita. O café colhido precocemente provoca prejuízo no tipo e na bebida, podendo atingir um índice de 20% de perda em relação ao rendimento final. No entanto, quanto mais tempo o café permanecer na árvore ou no chão, maior será a incidência de grãos ardidos, causando perda de massa seca e qualidade”, pondera o pesquisador. Por isso, ele recomenda que o agricultor faça uma amostragem de cada lavoura para decidir sobre quando começar a colheita. Para a realização dessa amostragem, Donzeles explica que o produtor deve colher quatro plantas por talhão ou lavoura e levar para o terreiro. Dali, retira-se uma amostragem de café para, na contagem dos grãos, saber a porcentagem de grãos verdes. Recomenda-se o início da colheita quando, no mínimo, 80% dos grãos estiverem maduros.
Grãos diferentes, sabores diferentes
“O ideal para se colher um café de qualidade é que o percentual de grãos verdes for igual ou inferior a 5%. Uma amostragem bem feita dá uma ideia exata do grau de maturação, pois os grãos verdes ficam escondidos nas folhas e os vermelhos ou amarelos se sobressaem em virtude do contraste das cores, passando, às vezes, uma falsa idéia sobre o ponto de maturação do fruto”, alerta Donzeles. Ainda de acordo com o pesquisador, depois da colheita o café deve ser levado para o lavador. Nesses equipamentos, após a abanação, o café é transportado em uma bica de jogo, onde ocorrerá a separação de impurezas grosseiras. Em seguida, os “frutos boias” (constituídos pelo café seco, frutos passas e quase secos, chochos e mal granados, verdes e maduros com apenas uma semente desenvolvida) flutuam sobre a água sendo transportados para a primeira saída. Já os frutos mais pesados, constituídos pelos frutos verdes e maduros, são transportados por um fluxo ascendente de água que força a passagem deles por uma abertura que se comunica com a segunda caixa lateral. Isso permite a recondução dos frutos para a superfície da água e seu transporte para a segunda saída lateral.
Separação dos frutos
Ainda segundo Sérgio Donzeles, depois da separação, os cafés “boia” e cereja devem ser secos separadamente por apresentarem teores de umidades diferentes. No preparo por “via seca”, o fruto é seco na forma integral, sem separar os frutos verdes dos cerejas, dando origem aos cafés denominados coco, terreiro ou natural. Já o processamento por via úmida dá origem aos cafés cerejas descascados, desmucilados e despolpados. Neste processo, a fração de frutos cerejas e verdes entram no descascador mecânico onde é realizada a separação dos frutos verdes e da polpa presentes nos grãos cerejas. Além disso, ocorre a separação dos grãos constituídos pelo endosperma, pergaminho e uma quantidade remanescente de mucilagem, o que dará origem aos cafés descascados. Eles apresentam como vantagem, quando bem preparados, um café de bebida fina, encorpada e com sabor natural. Para a obtenção do café tipo cereja desmucilado e despolpado, o restante da mucilagem aderida ao pergaminho é retirado mecanicamente em desmucilador ou em tanque de fermentação.
O processamento por via úmida é muito utilizado por produtores da América Central, México, Colômbia, Quênia e África e, quando bem preparado, o café apresentará bebida suave, mole ou estritamente mole, independentemente da região produtora. Outras vantagens deste método são a diminuição da área do terreiro (redução de 60% do volume) e a redução no tempo de secagem, não só por ser um café uniforme, mas por apresentar teor de água mais baixo (em torno de 50%).
A caracterização de cafés despolpados na Zona da Mata, em Minas Gerais, quando seguida de cuidados adicionais durante a secagem, promove a melhoria da qualidade e o aumento da rentabilidade para os cafeicultores. O despolpamento em regiões tradicionalmente produtoras de cafés de bebida rio, além de aumentar a rapidez e melhorar os cuidados durante o processamento, melhora a qualidade da bebida em razão da não utilização de cafés infectados do chão ou cafés muito maduros, ainda moles ou secos na árvore, cuja senescência pode propiciar a infecção microbiana.