Barcaça Seca Café, idealizada pela Embrapa Rondônia, é prática e seu custo viável para o produtor rural
Praticidade de operação que garanta a qualidade do café na hora de secá-lo, após a colheita, aliada a um custo viável aos produtores no campo. Qual cafeicultor brasileiro não gostaria de ter todas estas vantagens juntas e ao mesmo tempo? Nem é preciso ir muito longe para descobrir que isto já é uma realidade, graças ao desenvolvimento da Barcaça Seca Café, idealizada e construída pela Embrapa Rondônia.
A estrutura, que encobre o terreiro, possui facilidade de manuseio por meio de cobertura móvel, que pode ser adaptada a qualquer espaço de cimento convencional, tradicional em propriedades que cultivam o café no País. Além desta base, o mecanismo é composto por uma estrutura metálica e telhas de plástico transparentes ou lona de plástico.
“Este terreiro é uma tecnologia viável para o produtor, pois diminui mão de obra. É um processo de secagem com qualidade e de baixo custo e ecologicamente sustentável, pois utiliza a luz do sol”, explica Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia e responsável pela nova tecnologia.
Segundo ele, a Barcaça Seca Café é uma boa alternativa aos cafeicultores por ser ecologicamente sustentável, se comparada aos métodos mais usados por este segmento, que são o terreiro suspenso, o de cimento, a estufa e o secador a lenha de fogo indireto. A nova tecnologia demonstrou ser eficiente e acessível para aqueles que desejam aprimorar a qualidade do café produzido em terras brasileiras.
Custos de operação
Com custo operacional de 13 reais por saca, em média, a estrutura móvel oferece uma secagem homogênea e sem fermentação, proporcionando um produto de boa qualidade de bebida. Para que seja possível uma comparação, o pesquisador calcula o custo médio também de outros métodos de secagem do café.
O secador a lenha de fogo direto ou indireto apresenta um custo aproximado de 17 reais por saca, por exemplo. Apesar de ser um sistema de alto rendimento, o secador mecânico, de lenha ou carvão, demanda maior investimento no momento da aquisição, necessita de combustível, lenha ou carvão, o que pode ser um problema em regiões onde esta matéria-prima não é abundante, pontua oidealizador da Barcaça Seca Café.
Alves ressalta ainda que o grão obtido por este sistema mais antigo é de baixa qualidade, principalmente quando são respeitadas as recomendações técnicas de secagem, como a temperatura adequada, e se utiliza fornalha de fogo direto, o que lança fumaça na massa do produto.
A secagem terceirizada no operador do secador mecânico custa, em média, 25 reais por saca. Sua desvantagem é a grande distância dos pontos de secagem até a propriedade rural, além do uso indiscriminado de altas temperaturas, que costumam ultrapassar os 200°C, bem acima da recomendada, entre 35°C e 40°C, gerando um café de baixíssima qualidade.
Outros comparativos
O terreiro suspenso coberto, explica Alves, fornece um café de qualidade, mas o processo é mais lento e apresenta um custo quase 30% superior ao da Barcaça Seca Café. Os gastos da operação da secagem no terreiro de cimento, por sua vez, são compatíveis aos da estrutura móvel da Embrapa, mas o contato dos grãos com a chuva, após iniciado o processo, pode facilitar a proliferação de fungos e a fermentação, o que deprecia a qualidade da bebida.
As estufas com coberturas plásticas transparentes vêm se tornando cada vez mais populares por proporcionarem uma secagem de qualidade. Entretanto, o pesquisador alerta para um problema de saúde: “O trabalhador tende a sofrer efeitos do estresse de temperatura interna superior a 50°C. Isto torna o ambiente desagradável e insalubre nos momentos de manejo do café, principalmente nos horários de alta radiação solar. Já a Barcaça Seca Café não traz este problema, porque a cobertura móvel facilita o momento da movimentação dos frutos e grãos durante o processo de secagem”, compara o pesquisador da Embrapa Rondônia.
Custos de instalação
A estrutura móvel da Barcaça tem custo de instalação superior ao terreiro suspenso e ao de cimento tradicional, mas Alves garante que as vantagens com a redução de mão de obra, a facilidade de operação, a garantia de qualidade em um processo de secagem com temperatura adequada e viável, até mesmo ao pequeno produtor, são as principais vantagens da estrutura em relação ao custo-benefício.
Para justificar, o pesquisador exemplifica: um pequeno produtor, com área de seis hectares de café e produtividade média de 50 sacas por hectare, teria uma produção de 500 sacas por safra. Considerando o custo de secagem médio de 25 reais por saca de café beneficiado, resultaria no total de R$12,5 mil em serviço terceirizado em secadores mecânicos.
Já o custo estimado de secagem por meio da Barcaça Seca Café é de 13 reais por saca beneficiada, o que proporciona uma economia de quase 50%. “O cenário fica ainda melhor se pensarmos que o próprio produtor pode realizar o processo de secagem incorporando este valor à sua renda. A economia poderia amortizar o investimento na Barcaça Seca Café em poucos anos. Além disto, com a produção de café com qualidade, há grande possibilidade de valor agregado na hora de vender o grão”, afirma o idealizador do projeto.
Mais vantagens
A redução do uso de mão de obra no manuseio da Barcaça Seca Café é outra vantagem a ser considerada, destaca Alves. “Com a tecnologia, não é necessário fazer a amontoa do café nos períodos de chuva, ou mesmo durante a noite. O telhado móvel permite cobrir e descobrir o terreiro; já as roldanas, localizadas na base do mecanismo, oferecem leveza à grande estrutura e são necessárias apenas duas horas diárias de mão de obra, durante os quatro primeiros dias e uma hora para os demais.”
O pesquisador também relata outro benefício para o cafeicultor: a utilização de energia solar, que oferece a secagem em temperatura próxima à ideal e sem gerar poluentes. O equipamento permite ainda a secagem de grãos, como arroz, feijão, entre outros.
Pensada para os pequenos e médios produtores, que poderiam escalonar sua colheita conforme o avanço do índice de maturação dos frutos nos diferentes talhões, a Barcaça Seca Café se adequa muito bem ao grande produtor, que trabalha com cafés diferenciados, uma vez que ela proporcionaria uma segregação do café em pequenos lotes, separação que não seria possível com um secador mecânico convencional, garante Alves.
Fonte: Com informações de Renata Silva, da Embrapa Rondônia
Receita de Sucesso
Família de cafeicultores vira referência
Com produção totalmente familiar, café produzido no município mineiro de Espera Feliz coleciona prêmios em concursos e conquista mercado internacional
Família que planta unida permanece unida. A receita parece simples, mas é bem difícil nos dias de hoje, principalmente diante da dificuldade de manter a sucessão familiar no campo. Mas isto não serve para alguns cafeicultores do município de Espera Feliz, na região da Zona da Mata de Minas Gerais. O plantio do grão dos Lacerda, na propriedade rural Forquilha do Rio, virou referência de qualidade nacional e internacional.
Eles não escondem o segredo: trabalho em família, condições climáticas da região e auxílio da Empresa de Assistência Técnica Rural do Estado (Emater-MG). Logo os frutos desta união vieram: uma coleção de prêmios pela qualidade do café e a exportação do produto para o mercado externo.
A produção cafeeira da família Lacerda atravessa gerações por mais de seis décadas. Tudo começou com o pai de Onofre Alves de Lacerda e, atualmente, continua nas mãos dos filhos dele e de seus cônjuges, além da participação de netos. Ao todo, são 15 pessoas atuando em uma área de 19 hectares, com aproximadamente 12 hectares de pés de café, e altitude, em média, de 1.280 metros.
“Temos uma série de fatores que influenciam na qualidade do nosso café. O clima, o solo, a altitude e o trabalho em família são alguns deles. Também tem o cuidado no momento da finalização da produção, com mão de obra qualificada, e o carinho pelo nosso trabalho. Fazemos tudo com muita dedicação”, destaca o produtor José Alexandre Abreu de Lacerda, filho do senhor Onofre.
Parceria de sucesso
O diferencial da qualidade do café produzido na fazenda Forquilha do Rio começou a chamar atenção nas primeiras participações em etapas do “Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais”, realizado pela Emater-MG. “Percebemos o potencial do produto e começamos a enviar amostras do café para o concurso. O resultado foi excelente: boas colocações em concursos regionais, estaduais e até nacionalmente”, ressalta Júlio de Paula Barros, técnico do órgão, que presta assistência técnica na propriedade da família há 28 anos.
A produção trouxe vários títulos para os Lacerda, entre eles o primeiro lugar no 9º Concurso Nacional ABI C de Qualidade do Café (2012), na Categoria Microlote. No Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais já são três anos seguidos como vencedor da Etapa Muriaé e da Etapa Regional Matas de Minas, além da primeira colocação na Etapa Estadual 2012 na categoria Cereja Descascada.
O trabalho em família é tão bem sucedido que a cada concurso vai um membro para representá-la. Seja o senhor Onofre, José Alexandre ou Greciano Lacerda Moura (genro do patriarca), o sentimento de realização é sempre o mesmo. “Sem o apoio da Emater-MG não teríamos alcançado e nem descoberto toda esta qualidade do nosso café. É uma parceira indispensável, com um profissional (o extensionista Júlio de Paula Barros) extremamente dedicado. Ele ajuda a selecionar os melhores lotes e enviar para análise. Acompanha nossa produção de perto e oferece toda assistência necessária”, relata José Alexandre.
“Primeiro, iniciamos um trabalho com foco na produção e na produtividade. Com respostas positivas, passamos a focar na qualidade. Para manter a qualidade do grão, também apostamos na análise do solo, cujo processo garante a adubação correta. A partir da análise, fazemos a recomendação para os períodos em que a lavoura deverá receber cuidados especiais”, informa o extensionista da Emater-MG.
Mercado Internacional
Japão, Estados Unidos, Noruega e Alemanha são alguns dos países compradores no café produzido em Espera Feliz. Com o destaque alcançado nos concursos de qualidade, representantes de variados mercados têm procurado a família Lacerda para adquirir a produção de aproximadamente 400 sacas por ano.
A exportação cafeeira, hoje, representa um aumento na renda familiar. Ao comercializar o grão, por causa dos “atravessadores da região”, a saca costuma ser negociada, em média, por 430 reais. Já no mercado internacional, os Lacerda conseguem comercializar por 950 reais, mais que o dobro.
“Estamos com uma demanda muito grande, que mal estamos conseguindo atender. Recebemos recentemente interessados do Japão e temos possíveis compradores de diversos países”, conta José Alexandre.
Turistas apreciadores
A qualidade do café da fazenda Forquilha do Rio também atrai a atenção de turistas e apreciadores. Muitas pessoas vão à propriedade para conhecer a produção cafeeira de perto. No local, os visitantes podem degustar a bebida com grão torrado na hora e aproveitar para comprar e levar para casa aquele que é considerado um dos melhores cafés de Minas Gerais.