Produtora rural vence etapa estadual do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios
De norte a sul do país, encontramos histórias de empreendedores, que dão lições de perseverança, inovação e dedicação na realização do sonho de ter o próprio negócio. O Sebrae não só incentiva como também reconhece esses relatos , pois acredita que as histórias bem sucedidas podem servir de exemplo e inspiração para milhares de outras pessoas que pensam em começar, ou já estão à frente de um empreendimento.
Uma das iniciativas neste sentido é o Prêmio Mulher de Negócios, que avalia histórias de sucesso de mulheres empreendedoras — um público que vem crescendo cada vez mais no país. De acordo com a pesquisa Global Entrepreunership Monitor (GEM) de 2013, a participação feminina nos empreendimentos iniciais no Brasil já chega a 52,2%. E elas estão em todos os segmentos e locais, tanto no meio urbano quanto no rural.
Histórias inspiradoras
Uma das histórias mais recentes e inspiradoras é a da vencedora da categoria Produtora Rural, na etapa estadual do Prêmio, no Rio de Janeiro. A trajetória da cafeicultora Mônica Raposo Campos, do município de Varre-Sai, na região Noroeste do estado, mostra que, com determinação e força de vontade, uma mulher pode provocar uma reviravolta positiva na própria vida, realizar sonhos e construir um futuro promissor.
Mônica nasceu na zona rural de Bom Jesus do Itabapoana. Aos 16 anos, casou-se com um produtor de café e foi morar em Varre-Sai, município vizinho. Teve três filhos e sua rotina era cuidar da casa e da família. Não participava dos negócios, nem ajudava na lavoura. Para o marido, a mulher deveria se dedicar apenas aos assuntos domésticos.
Mudança de vida
Sua vida começou a mudar em 2008. Sem concordar com algumas ações do marido, que estava muito endividado, ela se divorciou. Com 30 anos, assumiu uma propriedade de 11 hectares, onde 80% do terreno correspondiam à plantação de café, e uma dívida de aproximadamente R$ 120 mil.
Ela tinha então duas opções: vender o terreno para quitar a dívida e comprar uma casa com o dinheiro que sobrasse ou arregaçar as mangas, lutar para sustentar a família e quitar as dívidas. Ficou com a segunda opção: mesmo sem saber nada sobre lavoura, foi à luta. A produtora rural não tinha funcionários, máquinas, instrumentos de trabalho, celeiro e nem terreiro para secar o café.
Começou a frequentar reuniões sobre agricultura. Pediu apoio aos vizinhos. Aprendeu a cuidar da lavoura e, a partir da busca constante por informações, diversificou a produção, plantando milho e feijão. Como não tinha dinheiro para pagar mão de obra, a família e os vizinhos a ajudaram na colheita. Apesar do esforço, alguns parentes e pessoas próximas não acreditavam que ela iria prosperar, pois achavam que a dívida era impagável e ela perderia o sítio.
Superação e dedicação
Mônica trabalhou duro e colheu 400 sacas de café, em um período em que o preço da saca estava bom. Já no primeiro ano, pagou toda a dívida ao banco, mas fez alguns pequenos empréstimos para alcançar o montante. Com muita perseverança, conduziu o seu negócio e passou a tomar decisões compartilhadas com o filho, o genro e um vizinho, também produtor agrícola, com o qual realiza parcerias, decide sobre a permuta de equipamentos e ferramentas e ainda faz a colheita em conjunto.
Condução do negócio e resultados
Com a variação do preço das sacas de café, milho e feijão, decidiu continuar a diversificar o negócio, com a criação de suínos, galinhas poedeiras e uma horta. Realizou diversas melhorias na propriedade, a partir dos ensinamentos do projeto PAIS (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável) — tecnologia social que reúne técnicas simples de produção agroecológica e de promoção do desenvolvimento sustentável. E foi por meio desse projeto que conheceu o Sebrae/RJ, em 2010.
Depois de muita dedicação ao trabalho, Mônica conseguiu saldar o restante das dívidas. Em 2010, comprou uma bicicleta. Em 2012, uma moto, equipamentos e material de trabalho. Em 2013, comprou carro novo, reformou a casa e construiu o celeiro. Agora, planeja fazer o terreiro para a secagem do café.
Atualmente, Mônica planta diversos legumes, verduras e hortaliças, utilizando recursos naturais e adução com composto orgânico (a casca do café é misturada ao esterco da galinha). Vende esses produtos, e também ovos caipiras, para o programa de merenda escolar, na feira e no comércio local.
Realiza o controle financeiro de forma simples: separa as notas fiscais das despesas de cada atividade; anota o que é vendido mensalmente ou ao final de cada safra; realiza a contabilidade para saber qual atividade obteve melhor resultado. Avalia os resultados pela produtividade como um todo, compara a receita com os anos anteriores e, de acordo com o faturamento, uma parte é reservada para investimentos (como ampliações na propriedade e aquisição de equipamentos, por exemplo) e a outra parte é aplicada, para ser utilizada em algum momento de necessidade.
Relacionamento com clientes e mercado
Mônica é muito ativa e dinâmica. Além de se relacionar muito bem com seus clientes, participa das reuniões na associação de produtores rurais da localidade e recebe orientação de técnicos da Emater (Empresa responsável pela assistência técnica e extensão rural no Estado do Rio de Janeiro) para obter informações, a fim de melhorar o manejo da produção.
A conquista do prêmio
Numa das visitas para acompanhamento da produção, o especialista em pequenos negócios do Sebrae/RJ entregou à Mônica um panfleto sobre o prêmio. Ela não quis se inscrever, pois achou que não ganharia. Incentivada pela irmã, mudou de ideia e fez a inscrição, relatando a sua historia.
Aos 36 anos, com as mãos cheias de calos da colheita do café, Mônica conquistou o prêmio Sebrae Mulher de Negócios e a admiração de muitos pela história de superação e coragem. E se orgulha em servir de exemplo e ter a oportunidade de mostrar que a mulher não precisa ficar apenas “dirigindo” fogão ou depender do marido.
A vencedora da etapa estadual foi à Brasília para disputar a categoria nacional. Conheceu diversas mulheres com histórias semelhantes e fez muitos contatos. Voltou para Varre-Sai com a satisfação de ver seu trabalho reconhecido e com a experiência de ser vitoriosa nos negócios.
Sobre o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios
Realizado anualmente, o prêmio é uma parceria entre o Sebrae, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), a Federação das Associações de Mulheres de Negócios e Profissionais do Brasil (BPW) e a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ).
Desde 2004, quando teve início a premiação, vem crescendo o número de mulheres empreendedoras que relatam suas histórias de sucesso e compartilham suas trajetórias empresariais. Em 2013, apenas no estado do Rio de Janeiro, foram realizadas foram realizadas 398 inscrições.
Dirigido para mulheres com mais de 18 anos, o prêmio tem três categorias: Pequenos Negócios, Produtora Rural e Microempreendedora Individual. O faturamento não pode ultrapassar o valor de R$ 3 milhões e seiscentos mil reais, conforme o Estatuto Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte.
O prêmio é composto de duas etapas: estadual e nacional. São escolhidas até três vencedoras estaduais (uma para cada categoria). As histórias selecionadas pela comissão julgadora passam por um processo de avaliação, que tem como base os fundamentos de excelência do Modelo de Excelência da Gestão® (MEG). Vários critérios (ver quadro ao lado) são utilizados para avaliação dos relatos, entre eles superação e participação ativa nos negócios. As informações apresentadas pelas candidatas são examinadas por uma equipe técnica de avaliadores contratados pelo Sebrae, que visita as empresas com os relatos analisados, a fim de validar as informações descritas.
As vencedoras da etapa estadual recebem uma placa/troféu de reconhecimento, um certificado de premiação, direito ao selo de vencedora e um curso ministrado pelo Sebrae ou 16 horas de técnicas de consultoria em gestão. Além disso, vão à Brasília para participar da etapa nacional, onde têm a possibilidade de ganhar uma viagem internacional no formato de missão técnica.
As inscrições para o prêmio podem ser feitas pelo site www.mulherdenegocios.sebrae.com.br ou ainda por meio do preenchimento de uma ficha disponível em todas as unidades do Sebrae.
Elizabeth Quimas de Oliveira e Mara Cristian Godoy Silva – Analistas do Sebrae/RJ
Critérios de julgamento do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios
- Superação
- Visão de futuro
- Ideias inovadoras e adaptação às novas tendências
- Atuação democrática, transparente, inspiradora e motivadora
- Participação ativa nos negócios, perseverança e superação dos desafios
- Ambiente participativo e agradável para quem trabalho no seu negócio
- Estabelecimento de relacionamentos duradouros com os clientes
- Preocupação com a preservação do meio ambiente e da cultura da sua região
- Estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento das atividades
- Lições aprendidas (por meio de experimentações, erros cometidos ou compartilhamento de informações)
- Crescimento dos resultados obtidos
- Contribuição para o desenvolvimento de outras empreendedoras