Pesquisa aponta que as linhagens maternas das abelhas de Santa Catarina são 100% africanas
Pesquisa realizada pela Epagri investigou a origem genética das abelhas (Apis mellifera L.) existentes atualmente em Santa Catarina e mostrou que as abelhas europeias praticamente desapareceram do território catarinense. Em termos práticos, o estudo permite inferir que a dispersão das abelhas africanizadas se deu mais por substituição do que por cruzamentos com a subespécie europeia e não estimula iniciativas de importação de abelhas europeias com o objetivo de melhorar as abelhas existentes ou reduzir a agressividade, a exemplo do que vem sendo feito na Argentina e Uruguai, uma vez que a seleção natural atua claramente a favor das africanas.
Migração das europeias
O estudo também verificou que não ocorre migração de abelhas europeias da Argentina para o território catarinense, como se suspeitava anteriormente. Cerca de 30% das amostras são da região Oeste de Santa Catarina, próxima ao território argentino, que tem o mesmo padrão do restante do Estado.
A pesquisa baseou-se em um levantamento de amostras coletadas das operárias destas abelhas nas diferentes regiões do Estado. O estudo analisou o DNA presente nas mitocôndrias, que são organelas presentes no citoplasma das células e que os filhos herdam sempre das mães, permitindo, então, que se identifiquem as linhagens maternas. Verificou-se que todos os 110 indivíduos analisados tinham linhagens maternas de origem africana. Assim, o genoma europeu, ao menos de origem materna, praticamente desapareceu do território catarinense.
Origem
Até 1956, as abelhas que existiam no Brasil eram de origem europeia. Naquele ano, algumas rainhas de uma raça africana que estavam sendo criadas experimentalmente em Rio Claro, no interior de São Paulo, escaparam acidentalmente. As abelhas africanas que escaparam cruzaram com as europeias gerando um poli-híbrido conhecido como abelha africanizada.
Este poli-híbrido herdou várias características da raça africana, entre elas maior resistência, alta produtividade e maior comportamento defensivo, o que lhes rendeu a fama de “abelhas assassinas”.
Atualmente, as abelhas africanizadas – por serem mais competitivas – se dispersaram por grande parte da América do Sul e América Central, além de regiões da América do Norte.
A presença de linhagem materna africana não está relacionada diretamente com o comportamento defensivo, uma vez que esta característica é controlada por genes presentes no núcleo das células. Apenas indica que o genoma africano aparenta ser muito mais competitivo no ambiente analisado.
Estudos evolutivos
Estudos de linhagens maternas e paternas usam partes do DNA que não sofrem recombinação no processo sexual e, portanto, permitem avaliações evolutivas de longo prazo. “Estudos desse tipo permitiram, por exemplo, traçar a dispersão da espécie humana no planeta, a partir de uma região do norte da África”, lembra o pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Videira, Marco Antonio Dalbo, destacando outro exemplo no estudo feito com a população brasileira, que identificou que mais de 80% dos indivíduos classificados como brancos tinham linhagens maternas indígenas ou africanas. Neste caso, o “branqueamento” se deu por casamentos sucessivos com homens de origem europeia.
No caso dos humanos, é possível seguir as linhagens paternas através do DNA do cromossomo Y. No caso das abelhas, que não apresentam cromossomos sexuais, só é possível analisar as linhagens maternas.