Instituição apresenta avanços que podem incentivar a diversificação produtiva e aumentar a renda dos pequenos agricultores (Foto: Divulgação Apta)
Atualmente, a alta qualidade dos grãos desta espécie tem atraído o interesse da indústria, sobretudo para a produção de blends utilizados em cafés espresso, cápsulas e outras bebidas.
Com o objetivo de estimular a diversificação das propriedades e incrementar a renda dos pequenos agricultores, a Apta Regional de Adamantina, em conjunto com o Centro de Café “Alcides Carvalho” do Instituto Agronômico (IAC-Apta), instituições de pesquisa vinculadas à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, desenvolve, há dez anos, pesquisas para selecionar clones de café robusta adaptados às condições paulistas.
O projeto visa impulsionar a produção local de cafés de alta qualidade, destinados à indústria de torrificação, blends para cafés expresso, cápsulas e bebidas “3 em 1”. Essa iniciativa não só oferece uma nova alternativa de renda para os pequenos agricultores do Oeste Paulista, mas também reduz os custos logísticos e agrega valor ao produto final.

Há dez anos, instituição desenvolve pesquisas para selecionar clones de café robusta adaptados às condições paulistas. Foto: Divulgação Apta
Segundo o pesquisador Fernando Takayuki Nakayama, atualmente, os maiores produtores dessa espécie são do Espírito Santo e de Rondônia, mas grande parte dessa produção é enviada para São Paulo para processamento e exportação. “Diante desse cenário, por que não produzir robusta em terras paulistas?”, questiona Nakayama.
O trabalho conta com a colaboração de cinco agricultores familiares do Oeste Paulista, uma região com condições ideais para o cultivo do robusta, com temperaturas médias de 23ºC e altitude de 400 metros. “Enquanto o café arábica necessita de altitudes mais elevadas – entre 1500 e 2000 metros –, o robusta oferece uma nova opção de renda para os pequenos agricultores da região de Adamantina. O projeto também conta com o apoio da empresa Treviolo Café, que financia as pesquisas”, explica o pesquisador.
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Panorama
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) apontam que, enquanto em 2016 os grãos robusta representavam cerca de 10% a 15% da produção, hoje essa proporção chega a 35% a 40%, com tendência de crescimento, tanto no Brasil quanto em mercados internacionais como Inglaterra e China.

Antes relegado à produção de café solúvel, agora o robusta faz parte de blends de alta qualidade. Foto: Divulgação Apta
“O café arábica sempre foi visto como o de alta qualidade, mas o robusta, antes relegado à produção de café solúvel, agora faz parte de blends de alta qualidade. Um exemplo marcante foi o lançamento, pela Nespresso em 2010, do Kazaar, um café intenso produzido com mais de 70% de robusta, demonstrando seu potencial”, complementa Nakayama.
Além da intensidade de sabor e da cremosidade, características que fazem do robusta um ingrediente valorizado na indústria de cápsulas e em produtos como os cafés “3 em 1”, o preço pago aos produtores paulistas tem aumentado. “Devido à melhor qualidade e à logística aprimorada – que elimina custos elevados de transporte das regiões produtoras do Espírito Santo e Rondônia – os produtores de São Paulo têm conseguido vender seus grãos a valores superiores à cotação geral”, afirma o pesquisador.
Entretanto, o manejo do café robusta ainda apresenta desafios. De acordo com o pesquisador, as plantas robusta vegetam mais e possuem um porte foliar mais denso, necessitando de maior mão de obra, além de uma colheita nem sempre totalmente mecanizada. “Por isso, estamos concentrando nossos esforços nos pequenos produtores, pois a colheita pode ser estocada e o produto comercializado no momento mais oportuno, tornando-se uma excelente alternativa na diversificação das propriedades”, conclui.