Embrapa recomenda a cultivar Super N para o Semiárido, com alta produtividade e boa adaptação climática à região
Super N é a cultivar de feijão guandu adaptada às condições do Semiárido brasileiro selecionada por pesquisadores da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) mais adequada a proporcionar aos produtores maior economia com a alimentação dos rebanhos de caprinos, ovinos e até bovinos.
Após três anos de avaliação das cultivares do guandu já disponíveis no mercado, a Super N se mostrou a mais indicada para a região, com produtividade média de matéria seca de forragem acima de 6,2 mil quilos por hectare (kg/ha).
Fernando Guedes, pesquisador da Embrapa que liderou o trabalho, explica que a pesquisa foi realizada a campo em áreas experimentais de parceiros da Embrapa em três locais diferentes: Sobral (CE), Boa Viagem (CE) e Sumé (PB).
Os três apresentam clima semiárido quente, com período chuvoso de fevereiro a junho, com pluviosidade média variando entre 400 e 800 mm.
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Testes comparativos com várias cultivares mostraram que a Super N apresentou melhor produtividade e boa adaptação climática Foto Fernando Guedes/Embrapa/Divulgação
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Cultivares comerciais
Segundo o pesquisador, foram estudadas quatro cultivares comerciais (já disponíveis no mercado) e 17 genótipos experimentais elites (materiais com potencial para se tornarem cultivares comerciais).
“Foram avaliadas três principais características: dias de florescimento, altura da planta e estimativa da produtividade de grãos. O intuito foi identificar os genótipos mais estáveis frente às mudanças do ambiente”, conta Guedes.
Ele ressalta que os 21 genótipos (quatro comerciais e 17 experimentais de elite) apresentaram produtividade média de matéria seca de forragem entre 4,6 mil e 9 mil kg/ha.
“Em outras pesquisas, a cultivar de guandu Taipeiro, com possibilidade de uso no Semiárido, produziu 2,49 mil kg/ha. Assim, os genótipos estudados pelos pesquisadores da Embrapa superaram em mais de 2 mil kg/ha a produtividade do guandu Taipeiro”, salienta o especialista.
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Leguminosa originária da África, feijão guandu se adaptou ao Brasil e é fonte de fibras e proteínas para alimentação humana e animal Foto Fernando Guedes/Embrapa/Divulgação
Super N é mais produtiva
Ele completa que todas as quatro cultivares comerciais avaliadas apresentaram produtividade média de matéria seca acima de 5 mil kg por hectare. Mas, as que melhor se adaptaram às condições ambientais do Semiárido foram as cultivares Super N e Iapar 43.
“Ambas com produtividade média de matéria seca acima de 5,7 mil kg/ha, além de maior produtividade de grãos. Nesse aspecto, a Super N é 16% mais produtiva que a Iapar 43”, revela.
A pesquisa conduzida pela Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) contou com a parceria da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), dos campi de Boa Viagem e de Crateús do Instituto Federal do Ceará (IFCE) e do campus de Sumé (PB) da Universidade Federal de Campina Grande (UFGC).
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Melhoramento do guandu
De acordo com o pesquisador da Embrapa, o melhoramento genético do feijão guandu teve início ainda na década de 1970, pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Embrapa Cerrados (DF), Embrapa Pecuária Sudeste SP) e Embrapa Semiárido (PE), além de algumas empresas privadas, que desenvolveram plantas para fornecimento de grãos, forragem e adubo verde. No entanto, as condições ambientais dessas regiões são diferentes das encontradas no Semiárido brasileiro.
“No Sudeste, o guandu começou a ser usado para rotação de culturas, tanto com o amendoim quanto com a cana-de-açúcar. Ele entrava na entressafra para melhorar o solo, em áreas para produção de grãos para consumo humano. O guandu também está muito presente nos quintais das residências por sua característica quase perene, produzindo por até quatro anos, sem necessidade de replantio”, explica Guedes.
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As folhas são o principal produto para alimentação animal, junto com os grãos. Os galhos e a casca da vagem são secundários Foto Fernando Guedes/Embrapa/Divulgação
Produtor de caprinos e ovinos
O professor da UFCG Ranoel Gonçalves acompanhou o trabalho do experimento em Sumé, na Paraíba. Ele considera importante para o produtor de caprinos e ovinos a recomendação de uma cultivar de feijão guandu adaptada às condições do Semiárido.
“Algumas cultivares foram desenvolvidas para outras regiões e, com esse programa de pesquisa, teremos genótipos de fato adaptados porque as etapas do melhoramento genético foram realizadas na região foco. Ao fim do programa, pretendemos ter várias cultivares de feijão guandu que atendam às necessidades reais dos produtores de caprinos e ovinos do Semiárido”, anuncia.
Gonçalves ressalta que a região de Sumé concentra um dos maiores rebanhos de caprinos leiteiros do Brasil, com a presença de diversos laticínios, e a parceria com a Embrapa para desenvolver os experimentos, possibilita aproximação com esses produtores de leite e a avaliação da aceitação das cultivares por eles.
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Validação em propriedades maiores
Fernando Guedes destaca ainda que, a partir deste ano, a pesquisa deve atuar na validação em propriedades maiores.
“Após essa etapa, serão realizados dias de campo para produtores interessados e divulgadas formas de adquirir as sementes. Posteriormente, o programa de melhoramento genético pretende lançar cultivares de guandu que superem a cultivar que está sendo recomendada”, reforça.
Feijão guandu: nutritivo e versátil
O feijão guandu, também conhecido como andu, é uma leguminosa nativa da África que se adaptou bem ao solo e clima brasileiros. A planta é cultivada em diversas regiões do Brasil, com destaque para os estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia e Piauí.
Pode ser usado tanto para consumo humano quanto na alimentação dos rebanhos de caprinos, ovinos, bovinos e aves, fornecendo proteína e energia aos animais. A planta inteira também pode servir de forragem para o gado.
O guandu é um arbusto que pode atingir até 4 metros de altura, com raízes profundas e ramificadas que fixam nitrogênio no solo, enriquecendo-o para outros cultivos.
Seus grãos são ricos em proteínas, fibras, vitaminas e minerais. Na alimentação dos ruminantes, incrementa a qualidade proteica, que geralmente é suprida com o uso de farelos de soja e milho, que possuem custo mais elevado.
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Também conhecido como andu, o feijão guandu se adaptou bem ao solo e clima brasileiros Foto Fernando Guedes/Embrapa/Divulgação
Redução dos custos de concentrado
“Com o guandu, você tem uma forrageira leguminosa que ajuda a diminuir os custos de concentrado. E você balanceia a alimentação dos animais com teor nutritivo mais elevado, principalmente proteína, tanto folhas, quanto grãos”, explica Fernando Guedes.
Ele ressalta que as folhas são o principal produto para essa alimentação, junto com os grãos. Os galhos e a casca da vagem são secundários.
“O galho é muito lenhoso. A casca é a preferida, mas fornece apenas fibra,” relata.
O especialista da Embrapa afirma ainda que o guandu pode ser inserido na alimentação dos animais como feno.
“Mas, nesse caso, é preciso cortar e colocar um dia e meio no sol. Para oferecer como silagem, o feijão guandu precisa ser misturado com outras culturas anuais para conseguir um equilíbrio, uma vez que é uma leguminosa que possui alto índice de proteína”, orienta o pesquisador.