Especialistas dão dicas para ajudar os agricultores no manejo mais assertivo (Foto: Shutterstock/Divulgação)
Os defensivos, fundamentais na produção agrícola, exercem o papel de proteção das lavouras aos ataques de insetos, plantas daninhas e doenças que atingem o ciclo das culturas. Estes produtos podem ser classificados como sintéticos químicos (fungicidas, herbicidas, inseticidas, acaricidas, nematicidas e bactericidas), ou biológicos, que são desenvolvidos a partir de organismos ou substâncias naturais.
Entretanto, mesmo com tantas opções de produtos no mercado, o suporte fitossanitário ainda é insuficiente para algumas culturas e isso gera muitas dúvidas à classe produtora. De acordo com José Orlando Sartori, consultor de assuntos regulatórios da Ascenza, esse tema gera dúvidas por duas razões básicas.
A primeira delas, segundo ele, é pela falta de produtos registrados, legalizados ou recomendados para o controle de pragas, principalmente de pequenas culturas, como, por exemplo, cebolinha, salsinha, aveia, centeio, acerola e tantas outras.
“Isso induz o agricultor a usar produtos aprovados para outro grupo de culturas para conseguir produzir. Quando a gente fala principalmente de hortaliças e frutas, é um universo que tem muitas espécies e é praticamente impossível classificar todas”, destaca.
A segunda razão, de acordo com o especialista, é pelo uso inadequado dos produtos, ou seja, quando o agricultor não se atenta à dose máxima recomendada ou ao limite de aplicações. “Outro agravante é não respeitar o intervalo de segurança, também conhecido por período de carência, que nada mais é do que o intervalo em dias entre a última aplicação até a colheita do produto”, acrescenta Sartori.
Registro
Conforme explica a gerente de assuntos regulatórios da companhia no Brasil, Manuela Dodo, para que haja o registro de um novo defensivo para uma cultura, é necessário que a empresa fabricante comprove sua eficácia e apresente todos os estudos com limite máximo de resíduo.
“Todo esse processo necessita de investimento relativamente alto e também demanda tempo para os estudos. Esses dois fatores são os principais nessa dificuldade de abranger uma bula de um produto para diferentes culturas”, comenta.
Para tentar resolver essa questão, em 2010, o Governo Federal publicou uma resolução que estabelece procedimentos para as Culturas Com Suporte Sanitário Insuficiente (CSFI). A partir de então, houve uma divisão em sete grupos: frutíferas com casca comestível e casca não comestível, hortaliças folhosas e ervas aromáticas, raízes de tubérculos, leguminosas e oleaginosas e cereais.
Com base nesses sete grupos, houve uma subdivisão em 17 subgrupos e determinou-se a nomeação de uma cultura que representasse as outras nessas divisões. Dessa forma, ficou definido para essas “representantes” que todos os estudos de resíduos e os laudos de eficácia feitos nela se aplicariam às demais de cada subgrupo.
A alface, por exemplo, é uma cultura representativa do subgrupo das hortaliças folhosas. Os estudos de resíduo realizados para ela suportam o registro também para acelga, agrião, rúcula, chicória e outras, pela similaridade, tanto de aplicação quanto de ciclo. “Dessa forma, o governo conseguiu resolver esse problema de culturas importantes, que, pela questão do custo e por não terem áreas expressivas, ficavam em segundo plano”, observa o consultor.
Recomendações
Para evitar o uso incorreto dos defensivos nas lavouras, o produtor deve seguir alguns pontos importantes. O primeiro passo é utilizar produtos autorizados pela Anvisa. Além disso, é fundamental seguir a indicação para cada cultura respeitando a dose recomendada, bem como o número máximo de aplicações e o intervalo de segurança.
Ao ignorar alguns desses parâmetros, a probabilidade de o plantio apresentar um resíduo acima do limite é grande e isso pode gerar sérias consequências. “Legalmente, se isso ocorrer, essa cultura que apresenta resíduo acima do limite deveria ser destruída, pois não está apta à comercialização e consumo. Então, estaria trazendo um dano econômico enorme para o produtor e nem sempre ele tem consciência disso”, avalia Sartori.
Outro fator importante para seguir corretamente os protocolos de aplicação, é a questão da rastreabilidade, algo que é cada vez mais exigido e valorizado pelo mercado. Por exemplo, hoje muitas redes de supermercado exigem e exibem o QR Code nos alimentos, que fornece aos clientes informações completas sobre a origem daquele produto.
“Tudo se movimenta em busca de segurança alimentar, cujo grande objetivo é garantir que o produto final convencional seja entregue dentro dos níveis estabelecidos”, complementa a engenheira agrônoma e gerente de marketing da Ascenza, Patricia Cesarino.
Convencional x Orgânico
O manejo orgânico é uma realidade e uma prática que tem conquistado um importante nicho de mercado. Contudo, esse modelo de produção que não utiliza defensivos químicos e é praticado em áreas menores, dificulta a produção em grande escala.
“Por outro lado, o manejo convencional, que segue as boas práticas agrícolas respeitando o uso correto de aplicação defensivos, que utiliza produtos legalizados, consegue obter maior produtividade na agricultura de alta escala e, consequentemente, gera maior oferta ao comércio”, aponta Manuela.
Ela destaca ainda que, seguindo os níveis de segurança e respeitando o limite de resíduo estabelecido, é possível ter um produto seguro para que o cliente final possa consumi-lo e com um preço mais acessível.
Na avaliação de Patrícia, sabendo a diferença entre produção orgânica e convencional, é importante destacar que são atividades distintas e que, na prática, uma não substituirá a outra, afinal são modelos de produções diferentes. “Existe espaço para as duas práticas, e elas podem e devem coexistir. Isso é muito produtivo”, finaliza.