Cultivar é uma alternativa para ampliar a adoção da leguminosa na alimentação
Além da soja comum, de grãos da cor bege, existem outros tipos da leguminosa de colorido, formatos variados e com características bem específicas. Em 2019 a Embrapa, em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e a Fundação Triângulo, lançou a BRSMG 715A, uma cultivar de soja preta, com o objetivo de oferecer uma alternativa para ampliar a adoção da leguminosa na alimentação humana, mantendo o seu potencial produtivo na lavoura.
Segundo o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa, Décio Luiz Gazzoni, além da cor, diversas propriedades funcionais diferenciam a soja preta das cultivares comerciais, tais como: teor mais elevado de proteína (o que a torna mais nutritiva), facilidade de cozimento, sabor agradável, de acordo com os testes efetuados, maior proporção de ácidos graxos monoinsaturados, o que confere maior estabilidade oxidativa, e o fato de ser rica em antocianinas (que conferem a cor preta), as quais são antioxidantes naturais.
“O fato de essa cultivar haver sido desenvolvida com coloração preta não foi por acaso, uma vez que a estratégia subjacente é utilizá-la como sucedâneo parcial ou total do feijão preto na feijoada”, comenta.
Gazzoni, que também é membro fundador do Conselho Agro Sustentável e do Comitê Estratégico Soja Brasil, informa que, no primeiro ano de cultivo, o objetivo foi produzir sementes para as novas safras, enquanto se observava o mercado. “O mais promissor, até agora, é o do Oriente, em especial a Coreia do Sul, que tem demonstrado interesse, por conta de hábitos milenares dos povos asiáticos no uso de soja na produção de alimentos, aliado às características de alimento funcional dessa cultivar de soja”, conta.
Benefícios
O pesquisador informa que o consumo de soja preta é comum na Ásia, como alimento saudável, além de ser usada na medicina popular há séculos, sendo rica em proteínas, lipídios, minerais e isoflavonas. No entanto, o que a diferencia são os pigmentos pretos no tegumento da semente, constituídos por polifenóis como antocianidinas e flavonoides, que contribuem para a capacidade antioxidante da soja preta.
De acordo com Gazzoni, um estudo demonstrou que o consumo de soja preta (35% da dieta), por 10 semanas, em ratas ovariectomizadas, aumentou a atividade antioxidante, inibindo o estresse oxidativo e melhorando os perfis lipídicos, resultando na redução dos fatores de risco associados às doenças cardiovasculares (DCV). Esse artigo pode ser acessado em http://bitly.ws/qz8z.
Já outro estudo, realizado com cobaias, comprovou que a administração oral de extrato de soja preta em ratos, a 50 e 100 mg/kg de peso corporal, durante 14 dias, reduziu o risco de DCV ao melhorar a circulação sanguínea através da inibição da agregação plaquetária e de formação de trombos (http://bitly.ws/qz8I).
Estudos
Por sua vez, o médico Miguel Alves Pereira Jr., de Londrina, PR, diz que também há pesquisas científicas conduzidas com populações humanas. “Em um dos estudos, realizado na Coreia do Sul, foi relatado que a suplementação de extrato de soja preta (2,5 g / dia), por oito semanas, diminuiu o acúmulo de gordura visceral e os perfis lipídicos plasmáticos em adultos com excesso de peso (http://bitly.ws/qz8Z)”, menciona.
O médico cita outra pesquisa foi conduzida pelo grupo da dra. Yoko Yamashita, da Universidade de Kobe (http://bitly.ws/qz7n). “Nesse estudo, os cientistas investigaram o efeito do consumo de soja preta na função vascular e estresse oxidativo, associado às concentrações de polifenóis em mulheres saudáveis”, relata o médico.
Conforme explica, a diminuição da idade vascular foi observada em 33 dos 44 voluntários que completaram o estudo de oito semanas. “Observou-se melhora da rigidez vascular, aumentando o nível de NO2 e NO3 na secreção urinária, e diminuindo os marcadores de estresse oxidativo. Para quem gosta de química, os marcadores utilizados foram 8-hidroxi-2′-desoxiguanosina, hexanoil-lisina e mieloperoxidase”, diz o médico.
Ele acrescenta que o estudo também mostrou que a concentração de 12 polifenóis, presentes na soja preta, aumentou no plasma e na urina da população em teste, como função direta do consumo da soja preta. A conclusão do estudo foi que o consumo de soja preta melhorou a função vascular, através do aumento do óxido nítrico e diminuição do estresse oxidativo, acompanhado pelo aumento das concentrações de polifenóis em mulheres saudáveis.