Maior desafio da produção orgânica de leite é substituir os métodos convencionais, mantendo a produtividade das fazendas. Para converter solos e pastagens, por exemplo, são necessários aproximadamente 12 meses
A conversão do sistema convencional de produção de leite e derivados para o orgânico não é uma tarefa simples e leva em torno de 18 meses para ser concluído. O produtor precisa estar disposto e preparado para as mudanças e os desafios que terá pela frente, segundo orienta a equipe da Unidade Pecuária Sudeste (SP), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
A substituição de métodos tradicionais por alternativos faz parte desse processo e, para converter tanto o solo quanto as pastagens, que dura aproximadamente 12 meses, o produtor rural deve abrir mão do uso de fertilizantes químicos e de defensivos químicos, e passar a utilizar compostos orgânicos na recuperação da fertilidade da terra.
Em seguida, de acordo com a Embrapa, vem a etapa de conversão dos animais que leva, no mínimo, seis meses. Para isso, o pecuarista precisa trocar a medicação alopática por fitoterápica ou homeopática. No primeiro caso, a alopatia pode ser usada apenas em casos de riscos de morte do animal e com o dobro do período de carência do medicamento.
A alimentação das vacas também deve ser, em sua maioria, orgânica. Nesse caso, é permitido apenas 15% da ingestão de alimentos convencionais. Grãos e demais insumos transgênicos são estritamente proibidos.
Recomendações técnicas
Proprietário de uma fazenda leiteira convencional, no município de Guaranésia (Minas Gerais), o pecuarista Caio Rivetti está nesse processo de mudança, substituindo os insumos das pastagens e a caminha para a conversão dos animais. Ele acredita que as pesquisas e o uso de tecnologias nesse segmento vão contribuir, cada vez mais, para reduzir os custos de produção no modelo orgânico.
O engenheiro agrônomo Artur Chinelato de Camargo, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, explica que os conhecimentos e as recomendações técnicas básicas são, praticamente, os mesmos para o convencional e o orgânico, sendo que a base para manter a produtividade é ter um pasto de alta qualidade, para alimentar o rebanho e fazer, gradualmente, o melhoramento genético das vacas.
“A ordenha, irrigação, altura de entrada e saída dos animais dos piquetes de pastagem, os princípios são os mesmos. O que muda são as restrições do modelo orgânico”, ressalta Camargo, que é mestre em Nutrição e Produção Animal e doutor em Ciências Biológicas na área de Biologia Vegetal.
Assista ao vídeo da entrevista com o pecuarista Caio Rivetti!
Dicas do especialista
Segundo o pesquisador Artur Chinelato de Camargo, o bem-estar animal deve estar no topo das preocupações do produtor, considerando as práticas de manejo racionais, com foco no respeito ao animal, fazendo com que se tornem uma rotina diária da fazenda.
Oferecer dieta balanceada e em quantidade adequada para as vacas, disponibilizar água de qualidade em bebedouros, que devem ser periodicamente limpos, ofertar sombra nas pastagens e no entorno dos currais para diminuir o estresse calórico, controlar ecto e endoparasitas, entre outras, também são medidas recomendadas.
O agrônomo ainda faz um alerta importante ao pecuarista que pensa em entrar no ramo dos orgânicos: assegurar mercado para seus produtos, considerando que essa garantia é essencial, levando em conta que o custo de produção ainda é mais alto em comparação ao modelo convencional.
Para estimular a produção de leite orgânico de forma sustentável e rentável, a Embrapa Pecuária Sudeste e a Secretaria de Inovação e Negócios/Escritório de Campinas (SP) têm apoiado a formação de um cluster nessa área. Além do desenvolvimento de pesquisas, são realizados cursos de capacitação continuada.
Estratégia
Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste, o agrônomo André Luiz Monteiro Novo – também mestre e doutor em Engenharia de Produção – defende a proximidade entre pesquisa, extensão rural e cadeia produtiva como estratégia eficaz para o crescimento da pecuária leiteira orgânica no País.
Visando isso, 42 produtores e técnicos concluíram, recentemente, um treinamento em pecuária leiteira orgânica, que começou em abril deste ano. Foi a segunda capacitação realizada pela estatal, em parceria com a Fazenda Nata da Serra, de Serra Negra (SP), primeira propriedade orgânica participante do programa Balde Cheio, que é mantido pela Embrapa.
Com a formação desse grupo, mais de 80 pessoas de vários Estados brasileiro, foram capacitadas entre os anos de 2018 e 2019. O curso, além de orientar os interessados em iniciar esse tipo de produção, contribui com os produtores e técnicos que já produzem leite orgânico.
Em 2020, a Empresa Brasileira de Pequisa Agropecuária deve oferecer um novo curso de pecuária leiteira orgânica.