Focados no equilíbrio de ecossistemas, de forma que possa ser evitado o uso de produtos tóxicos e agressivos para as plantas, “remédios homeopáticos” podem ser aplicados na agricultura orgânica
Pesticidas, fertilizantes e agroquímicos, quando usados em larga escala na agricultura, podem contaminar os alimentos que chegam à mesa do consumidor. Proporcionalmente ao uso dessas substâncias tóxicas nas produções agrícolas, podem surgir doenças crônicas, que causam sequelas irreversíveis aos seres humanos e também aos animais.
O alerta é da pesquisadora Eliete Maria Madeira Fagundes, doutora em Homeopatia e precursora no tratamento de ecossistemas no Brasil, além de professora em cursos de Ciência da Homeopatia, desde 1986, em instituições de ensino superior.
De acordo com a especialista, o uso indiscriminado de defensivos agrícolas, além de contaminar solos e águas, pode alterar o DNA mitocondrial das plantas. Para reverter casos de mutação genética, por exemplo, Eliete cita a existência de tratamentos naturais, que podem recuperar os danos já causados, bem como evitar o uso desses produtos, ativando (ou reativando) o potencial genético de plantas agrícolas.
Uma dessas alternativas – focadas no equilíbrio de ecossistemas, de forma que possa ser evitado o uso de produtos tóxicos agressivos para as produções agrícolas e ainda controlar a ação de pragas e doenças – envolve o emprego de “remédios homeopáticos”. Segundo a doutora, com a técnica da homeopatia na agricultura, todos esses herbicidas e pesticidas poderão ser substituídos, paulatinamente, em médio e longo prazos.
“Tenho como um dos principais objetivos de vida essa difusão, que iniciei há mais de 30 anos, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa, levando a milhares de pequenos agricultores essa possibilidade [da aplicação da homeopatia na agricultura]”, diz a professora.
Regulamentação
No Brasil, a homeopatia é uma tecnologia sustentável e sua utilização na agricultura orgânica é permitida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), conforme consta na Instrução Normativa n° 17 (IN 17 de 18/6/2014), sem restrição de uso.
Ainda segundo Eliete, o sistema homeopático, cujo paradigma é ancorada na Lei de Semelhança, poderá ser utilizado na harmonização do DNA desequilibrado pelas agressões epigenéticas ou patogenéticas do meio. Quando estimulado, ele voltará ao padrão original, de forma mais saudável.
Ainda de acordo com a doutora em em Homeopatia, o resultado efetivo dessa harmonização será observado somente na geração seguinte, caso o grau de mutação já esteja aprofundado.
Em 2003, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Fundação Banco do Brasil certificaram a homeopatia na agricultura como Tecnologia Social.
Segundo o Ministério da Saúde, a Lei dos Semelhantes (Similia Similibus Curantur) diz “que as substâncias existentes na natureza (de origem vegetal, mineral e animal) têm a potencialidade de curar os mesmos sintomas que são capazes de produzir, ou seja, se uma pessoa ingerir doses tóxicas de uma determinada substância, irá apresentar alguns sintomas”. E é com base nesse conceito que a homeopatia se expandiu para a agricultura, com foco no tratamento de plantas.
Alimentos mais saudáveis
Para a especialista, levar aos pratos dos brasileiros alimentos baratos e mais saudáveis é o maior presente que pode ser fornecido às próximas gerações.
“Seguindo os ensinamentos do pai da medicina, Hipócrates: ‘Que teu alimento seja teu remédio e que teu remédio seja teu alimento’, comprova-se na prática que essa é a maneira mais eficiente de preservar e prevenir todo tipo de adoecimentos.”
Eliete reafirma que animais, águas, plantas e solos poderão ser harmonizados com o tratamento homeopático, seguindo as circunstâncias específicas.
“A revolução tecnológica, com o uso de remédios homeopáticos, já está iniciando nas lavouras de café do sul de Minas. Pequenos, médios e grandes produtores de café já estão deixando os agrotóxicos e melhorando a qualidade do produto com os tratamentos homeopáticos.”
Um pouco de história
A homeopatia foi iniciada na Alemanha com o trabalho de Samuel Hahnemann que, insatisfeito com sua profissão de médico e com a pobreza das formas de tratamento das doenças pela alopatia, decidiu abandonar a medicina oficial. Descobriu pelos seus estudos, em 1796, que “o semelhante cura o semelhante” – a primeira lei do tratamento que passou a desenvolver.
O relato está descrito no “Caderno de Homeopatia”, publicado pelo Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias, vinculado à Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais.
O documento descreve que as demais leis, que regem a homeopatia, envolvem a experimentação de doses mínimas (dinamizadas a partir de 1816) de substâncias em organismos sadios, ou seja, o teste de um preparado homeopático de cada vez. É exemplo de semelhança: o veneno da cobra na vacina, que pode recuperar a pessoa picada por cobra, assim como por aranha, entre outras.
Hahnemann passou, então, a fazer experiências e descobriu as formas de fazer os preparados que chamou de Homeopatia. A
partir de 1816 além de diluir passou a agitar (sucussionar) denominando o processo “dinamização”. No Brasil, conforme e UFV, a homeopatia, de modo mais amplo, chegou em 1840.
Difusão no Brasil
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), porém, os laboratórios internacionais dominaram os mercados com produtos químicos (remédios de farmácia) e praticamente varreram, da mente dos brasileiros, as formas tradicionais de tratamento. Essa cultura, no entanto, foi preservada, o que motivou a Universidade Federal de Viçosa, nos anos de 1990, a iniciar a divulgação da homeopatia, que passou a ser denominada como “altas diluições” no ambiente científico.
Segundo a instituição de ensino superior, como prática popular, a homeopatia tem base legal na Instrução Normativa nº 7 publicada no Diário Oficial da União (19/5/99), que estabelece as normas da produção orgânica no Brasil e recomenda a aplicação da
homeopatia pelos produtores rurais.
Conforme a UFV, a homeopatia no meio rural é tida como proposta “libertadora e humanitária”. Acesse o Caderno de Homeopatia da Universidade Federal de Viçosa, elaborado a partir de relatos de produtores de orgânicos da Região da Vertente do
Caparaó (MG), clicando aqui! Nesse material, é possível conferir várias dicas de preparos homeopáticos tanto para plantas quanto para animais.
História na agricultura
O primeiro relato do uso da homeopatia na agricultura é de 1846, conforme descrito no livro “Patogenesia Brasileira” de Benoit Jules Mure, médico francês responsável por introduzir a homeopatia no Brasil. Nessa publicação, ele descreve o desenvolvimento de um medicamento homeopático para utilizar nas lavouras de batata e prevenir das doenças que na época assolavam as lavouras diminuindo a produtividade.
De acordo com informações do site Homeopatia Rural, com o passar dos tempos foram surgindo outros pesquisadores dedicados ao tema, em todo mundo, principalmente na Índia e Europa. Naquela época, o objetivo era o mesmo de hoje: prevenir e controlar doenças e insetos, estimular a fisiologia das plantas, proporcionando boas safras com redução de químicos.
Após o trabalho de Mure, o uso da homeopatia na agricultura, no Brasil, foi retomado pelo professor Vicente Casali, da Universidade Federal de Viçosa MG, ainda na década de 90. Os primeiros trabalhos foram dedicados a conhecer as alterações que as homeopatias provocavam nas plantas. Depois disso, começaram os estudos sobre a aplicação agronômica dessa técnica nas lavouras.
Com o avanço das pesquisas, os trabalhos com a homeopatia cresceram rapidamente, tanto no meio científico quanto na prática de campo. Atualmente, diversas instituições de pesquisa e ensino tem profissionais que pesquisam o tema.