A produção de vinhos finos na região parecia improvável — até que a família Maturano decidiu olhar para a região com outros olhos (Foto: Robson Oliveira/Vinícola Maturano/Divulgação)
Apesar das paisagens e natureza exuberantes, a cidade de Teresópolis, no Rio de Janeiro, foi por anos um potencial turístico negligenciado.
Agora, um empreendimento 100% familiar começa a mudar esse cenário. A Vinícola Maturano, inaugurada ao público em novembro de 2025, nasce com a ambição de reposicionar a cidade na rota do turismo rural e de alto valor agregado.
“Somos uma empresa 100% familiar, aqui os únicos sócios somos eu, meu pai Marcelo e minha mãe a Fernanda”, conta Manuela Maturano, sócia do empreendimento, em entrevista à Revista A Lavoura.
O terroir fluminense

Formação de montanhas favorece condições climáticas perfeitas para a produção de uvas na propriedade. Foto: Vinícola Maturano/Divulgação
A produção de vinhos finos na região parecia improvável — até que a família Maturano decidiu olhar para a região com outros olhos.
O projeto começou a ser concebido em 2020, teve sua construção iniciada em 2022 e foi concluído em outubro deste ano. Mesmo antes da abertura ao público, a vinícola já operava plenamente como indústria.
O segredo está na técnica da dupla poda, que permite deslocar a colheita para outono e inverno, época mais seca na região.
“O professor Murilo Regina criou uma técnica de dupla poda em que é possível retardar um pouco o ciclo da videira”, explica Manuela.
Em Teresópolis, o método encontrou condições ideais graças a um fenômeno natural.
Manuela conta que o pai, Marcelo, piloto e estudioso de climatologia, sempre observou o efeito do Morro Grande.
“Ele percebia que aquela formação funcionava como uma espécie de barreira climática”. E, que a partir disso, criava-se um microclima único que, segundo ela, “pode ser comparado a de regiões vitivinícolas europeias”.
A vinícola possui três áreas de cultivo — Campanha, Vale Alpino e Monte Belo — todas equipadas com estações meteorológicas próprias.
São hoje 29 hectares plantados e já produtivos, e a meta é chegar a 50 hectares até 2030. Além de variedades como Syrah, Cabernet Franc e Sauvignon Blanc, a família testa outras doze cultivares, entre elas uma joia: a uva Maturano, trazida da Itália em parceria com a Pesagro Rio, que coincidentemente tem o nome da família.
“Há mais de 500 anos a uva tem esse nome”.
Uma das muitas coincidências que rondam a história da família.
Raízes centenárias e o reencontro com a própria história
A escolha por Teresópolis tem a ver com pertencimento. “A família realmente é localizada em Teresópolis há mais de 100 anos”, lembra Manuela.
A história ganhou contornos ainda mais simbólicos quando, ao comprar a segunda área — hoje a maior do projeto — descobriram no cartório que ela já fora do seu bisavô, Manoel Maturano, que chegou na cidade em 1924.
A decisão de investir no Rio, e não no tradicional Rio Grande do Sul, também veio do coração.
A paixão do patriarca Marcelo Maturano pelo vinho percorreu mais de 200 vinícolas ao redor do mundo e acabou guiando toda a família.
“Conheci a primeira vinícola com oito anos de idade, muito antes de eu poder provar álcool, eu já conhecia todo o processo”, conta Manuela.
Em 2018, durante um ano sabático nos Estados Unidos, o pai finalmente decidiu transformar esse amor em projeto — e encontrou no enoturismo a chave para desenvolver Teresópolis.
“Ele viu através do vinho uma coisa que tinha valor agregado alinhada a algo que ele sempre teve paixão”, resume.
Segundo Manuela, a ideia da vinícola também tem o intuito de desenvolver o turismo rural da região e gerar um impacto positivo na terra escolhida pelos antepassados.
Pouco mais de duas semanas após abrir as portas, o efeito na economia local já é perceptível.
“O ticket médio dos comerciantes e restaurantes locais deles já subiu consideravelmente”, contam amigos donos de restaurantes, segundo Manuela.
E a resposta dos turistas tem surpreendido. “Eles perguntam se a pessoa esteve na vinícola e a resposta, surpreendentemente, sempre é sim”.
Para 2028, o complexo deve chegar a 250 funcionários. Além disso, a vinícola impulsiona uma cadeia de serviços, motoristas de táxi, hospedagens locais, restaurantes e produtores rurais.
“É todo um ecossistema que está sendo gerado através desse nicho de turismo”, afirma.
A Maturano também prepara uma estufa com cerca 2 mil m² para seu projeto
“KM Zero”, que mostrará ao visitante como se produz hortaliças — uma experiência educativa, especialmente para quem nunca colheu sequer um pé de alface.
“A sociedade está muito afastada daquela cadeia de produção e do que ela come no dia a dia”, observa Manuela.

Em 2018, durante um ano sabático nos Estados Unidos, Marcelo Maturano finalmente decidiu transformar esse amor em projeto — e encontrou no enoturismo a chave para desenvolver Teresópolis. Foto: Vinícola Maturano/Divulgação
Como visitar
A reserva é totalmente digital pelo site vinicolamaturano.com.
Existem seis experiências disponíveis e a reserva pode ser 100% efetuada pelo site. Há tours nos vinhedos, experiências gastronômicas, passeio 4×4 e atividades de educação agrícola.
Redação A Lavoura








