Através da inovação, startup visa observar, proteger e transformar o mundo ao nosso redor (Foto: Divulgação)
Unir tecnologia de ponta e empatia com o objetivo de aumentar a segurança, trazer mais motoristas para casa e reduzir custos para empresas. Essa é a proposta da Panthe-On.( https://www.panthe-on.com/) startup que íntegra o SNASH, ecossistema de inovação apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
“Por meio da visão computacional, observamos, compreendemos e ajudamos pessoas e empresas a evoluírem. A startup foi inspirada na morada dos deuses que, das alturas, observavam a humanidade e contribuíam para seu desenvolvimento. Assim como eles, nossa empresa se posiciona nas ‘nuvens’ da tecnologia”, explica o desginer gráfico, co-fundador e CEO da Panthe-On, Pedro Portugal.
Dentre as soluções de impacto desenvolvidas pela empresa, e destacada pelo executivo, está o Bino, uma tecnologia que combina inteligência artificial e visão computacional para aumentar a segurança nas estradas e reduzir custos. O aplicativo utiliza a câmera do celular para analisar, em tempo real, os sinais de fadiga do motorista, como piscar dos olhos, movimentos da cabeça e outros comportamentos que indicam cansaço. A partir daí, um algoritmo avançado processa essas informações e emite alertas quando detecta sinais de sonolência, ajudando a prevenir acidentes.
Em entrevista à Revista A Lavoura, o CEO fala um pouco mais sobre os projetos, futuro e como a conexão contínua e aplicação das soluções da empresa, em cada projeto, transformam tecnologia em inovação com propósito, promovendo e criando impactos reais.
A Lavoura: Pedro, fale um pouco sobre quais são os principais objetivos da startup?
Pedro Portugal: Nosso objetivo é bem claro: que nenhuma família receba aquele telefonema trágico. Sempre dissemos que nosso sucesso se mede em “heróis que voltam para casa”, e é exatamente isso. Temos metas comerciais, claro – queremos chegar a 150 mil veículos até 2029 – mas o que realmente nos move é diferente. É aquela ansiedade que você sente quando alguém demora para chegar em casa. Queremos que ela simplesmente não exista. O objetivo é usar tecnologia para salvar vidas, sem complicar a rotina de quem já trabalha tanto.

O CEO da Panthe-On, Pedro Portugal. Foto: Divulgação
A Lavoura: Como surgiu a ideia de criar a Panthe-on?
Pedro Portugal: A história começou de forma inesperada. Eu e minha sócia, a engenheira de produção e COO da empresa, Babi Nuines, nos encontramos em 2019, quando ganhamos um cluster num hackathon. Inicialmente, desenvolvemos soluções de ESG para a Gerdau. Anos depois, vi uma notícia: “A cada 7 minutos, um brasileiro morre nas estradas” e me fez pensar no meu avô Manduca – ele era caminhoneiro e meu herói de infância. Uma vez ele chegou em casa contando que quase dormiu no volante, que foi por pouco. Comentei com a Babi e ela disse: “Pedro, nós temos conhecimento técnico para atacar esse problema”. Foi quando tudo fez sentido. Não era sobre criar mais uma startup – era sobre usar nossos conhecimentos para resolver algo que me tocava pessoalmente.
A Lavoura: Como, em sua opinião, as soluções da empresa impactam na sociedade?
Pedro Portugal: Já nos ligaram dizendo: “O app salvou minha vida ontem. Estava cochilando e o alerta me acordou.” Esse homem tem dois filhos pequenos. Quando você ouve isso, percebe que não está apenas reduzindo números numa planilha – está mantendo famílias inteiras. Há também o impacto econômico: quando uma transportadora evita um acidente, ela não perde R$130 mil, não para a operação, não demite funcionários. É um efeito cascata que fortalece toda a cadeia, especialmente as pequenas empresas que são a espinha dorsal do transporte brasileiro.
A Lavoura: Podemos dizer, então, que além de original, o projeto é pioneiro. Diante disso, qual a importância das ações da empresa para o desenvolvimento do segmento?
Pedro Portugal: Estamos provocando uma transformação no mercado. Antes, videotelemetria era privilégio de grandes empresas, com instalações complexas e contratos caros. Tentamos então uma nova proposta: “Por que não usar o celular que já está no painel?” Parece óbvio agora, mas isso força o setor a repensar suas estratégias. Vemos concorrentes mudando abordagens, seguradoras criando novos produtos. É interessante porque não se trata apenas do crescimento da Panthe-On – estamos movimentando um setor inteiro para ser mais acessível e humanizado.
A Lavoura: Sendo assim, como você avalia o cenário atual do setor e quais as perspectivas para o futuro?
Pedro Portugal: O setor vive uma contradição: movimenta 9% do PIB, mas ainda opera com práticas dos anos 80. Motoristas dirigem 12 horas seguidas porque “sempre foi assim”, empresas consideram normal perder um caminhão por mês em acidentes. Mas está mudando. Vemos uma nova geração assumindo transportadoras familiares e querendo inovar. As seguradoras estão descobrindo que prevenir é mais rentável que indenizar. Acreditamos que em cinco anos, empresas sem tecnologia preventiva estarão fora do mercado.
A Lavoura: Na sua visão, quais os principais desafios do segmento?
Pedro Portugal: O maior desafio é cultural: muitas pessoas acreditam que acidentes fazem “parte do risco”. Já ouvimos muito: “Sempre foi assim, faz parte do negócio.” Mas não faz! Outro obstáculo é a desconfiança com novas tecnologias. Motoristas experientes acham que é “frescura”, que vão ser vigiados. Por isso enfatizamos que somos parceiros, não fiscais. Há também a questão financeira: transportadoras pequenas não têm recursos para grandes investimentos, mesmo que nossa solução custe menos que uma multa grave. Mas o que mais nos frustra é quando alguém diz: “Adorei a ideia, mas vou esperar para ver se funciona.” e sempre respondemos: “Enquanto esperamos, quantas vidas se perdem?”
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A COO da empresa, Babi Nuines. Foto: Divulgação
A Lavoura: Quais foram os principais aprendizados na jornada de vocês desde o hackathon até hoje?
Pedro Portugal: O maior aprendizado foi entender que tecnologia sozinha não resolve nada – você precisa conquistar a confiança das pessoas. No começo, focávamos muito no “como” da tecnologia, mas descobrimos que o “porquê” é muito mais importante. Outro ponto crucial foi validar o mercado real. Nossa prova de conceito com parceiros nos ensinou mais em três meses do que um ano de desenvolvimento em laboratório. A Babi sempre diz que “o cliente não quer sua solução, ele quer seu problema resolvido” – e isso mudou completamente nossa abordagem. Erramos muito também, principalmente tentando agradar todo mundo de uma vez. Aprendemos a focar.
A Lavoura. Como vocês conseguiram desenvolver uma solução tão avançada usando apenas o smartphone?
Pedro Portugal: A virada de chave foi perceber que o smartphone já tem tudo que precisamos: câmera de alta qualidade, processamento local e conectividade. Desenvolvemos algoritmos de visão computacional específicos para detectar micro-expressões faciais que indicam fadiga – coisas como frequência de piscadas, posição das pálpebras, movimentos da cabeça. O diferencial é que tudo roda localmente no aparelho, respeitando a privacidade do motorista. Não enviamos imagens para nenhum servidor. É como ter um co-piloto invisível que conhece os sinais de cansaço melhor que você mesmo. A tecnologia existe há anos, mas ninguém tinha aplicado dessa forma simples no transporte brasileiro.
A Lavoura: Como vocês lidam com a pressão de saber que estão trabalhando com algo que literalmente salva vidas?
Pedro Portugal: É uma responsabilidade imensa, não vou mentir. Tem dias que acordamos pensando: “E se o algoritmo falhar?” Mas a Babi me lembra que a alternativa é não fazer nada, e isso definitivamente custa vidas. Transformamos essa pressão em combustível – cada linha de código é revisada pensando que pode ser a diferença entre uma família inteira ou uma tragédia. Quando recebemos aquele feedback do motorista que foi salvo pelo app, percebemos que vale cada noite em claro, cada “não” de investidor, cada bug que precisamos corrigir. A pressão nos fez criar uma equipe mais unida e um produto mais robusto.







