O CEO da empresa, José Damico (na foto) explica que a solução da startup se baseia em três pilares: integração simplificada de dados; uso de algoritmos específicos que podem ser customizados pelo cliente; e democratização do conhecimento por meio de inteligência artificial generativa (Foto: Reprodução/Linkedin)
Fundada em 2015 por dois engenheiros de software que não tinham raízes no campo, a SciCrop nasceu como a primeira startup de inteligência artificial e analíticos voltada ao agronegócio na América Latina.
Hoje, às vésperas de completar 10 anos, a empresa lança uma plataforma que promete reinventar a forma como produtores e empresas do setor tomam decisões, utilizando algoritmos para previsão de safras, controle de pragas, otimização da irrigação e planejamento logístico.
“Nós somos uma empresa de inteligência artificial e analíticos no agronegócio. Uma startup que está completando 10 anos agora, em novembro”, conta, em entervista à Revista A Lavoura, José Damico, CEO e cofundador da empresa ao lado de Renato Ferraz.
A trajetória da empresa — que integra o SNASH, hub de startups apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura — mistura erros e acertos, prêmios, investimentos e muitas adaptações. Em 2016, apenas um ano após a fundação, a SciCrop recebeu o prêmio da Apex e foi levada ao Google e à Universidade de Berkeley, onde teve contato direto com vice-presidentes da big tech.
“Isso foi muito importante para consolidar a visão que estava se tornando a SciCrop. Em 2017, nos tornamos a primeira startup do agro a ser incubada no Google for Startups aqui no Brasil”, relembra Damico.
Da API aos grandes clientes
Em 2017, a empresa criou a SciCrop API, uma biblioteca com centenas de algoritmos para previsão de safra, otimização logística, integração de dados e imagens de satélite. A ideia, porém, não decolou como esperado.
“A gente acredita piamente nessa ideia equivocada, que as empresas vão querer uma previsão safra, vão querer uma otimização logística, vão entrar num site, vão ver o algoritmo e vão importar esse algoritmo para o sistema deles. Nada, isso não aconteceu, falhou miseravelmente”, admite.
A virada veio quando os sócios começaram a transformar a API em produtos específicos, como o WebFarms, voltado para risco de crédito, e ferramentas de monitoramento meteorológico.
Grandes clientes chegaram, como BTG, Santander, Banco do Brasil, além de multinacionais como John Deere, LDC, Nestlé e Cargill. Ainda assim, o modelo exigia muita customização.
“Os clientes passaram realmente a confiar na SciCrop como uma empresa com autoridade em AI e analíticas. Mas com muita customização, as custas de muita customização nossa”, explica Damico.
Infinity Stack
Em 2024, após investimento de R$ 2 bilhões, a SciCrop interrompeu projetos anteriores para desenvolver uma nova plataforma chamada Infinity Stack, lançada em dezembro do ano passado.
“A gente cria a primeira plataforma de IA e agentes de inteligência artificial para o agronegócio”, resume o fundador.
A tecnologia se baseia em três pilares: integração simplificada de dados; uso de algoritmos específicos que podem ser customizados pelo cliente; e democratização do conhecimento por meio de inteligência artificial generativa.
Na prática, o sistema permite que empresas integrem dados de diferentes origens — de satélites a ERPs agrícolas —, apliquem modelos de previsão e consultem resultados via ferramentas de uso cotidiano, como o Microsoft Teams.
“Foi uma plataforma feita para resolver o que a gente entende que eram os três grandes problemas do agronegócio: integração de dados, necessidade de algoritmos específicos e a democratização do conhecimento”, afirma.
Além disso, a plataforma pode ser instalada na infraestrutura de cada cliente, respeitando diferentes padrões de tecnologia.
Mesmo com a inovação, a SciCrop se deparou com a resistência de alguns clientes, que preferem soluções para problemas imediatos.
Para lidar com isso, a empresa criou a metodologia Discovery, uma espécie de consultoria rápida que ajuda a mapear prioridades de inteligência artificial dentro de empresas do agro.
“Em muitas empresas fazemos um “discovery”, em que o nosso time fica dois dias para explicar como a empresa vai usar o Infinity Stack”, conta.
Segundo Damico, a plataforma é indicada para médios e grandes produtores e empresas.
“É aplicável para aquele tipo de produtor que tem uma unidade sob responsabilidade da família, mas que já possui um conglomerado, com 20 pessoas, e já contrata um Office 365. Esse seria o perfil do menor cliente, mas a verdade é que a gente atende médias e grandes empresas mesmo”, explica.