A BRS Terena tem sabor doce, baixa acidez e boa conservação pós-colheita e produtividade média de 1,2 kg por planta, podendo chegar a 1,8 kg em algumas safras
Alta produtividade, sabor mais doce, baixa acidez e longa conservação pós-colheita são as principais características da nova cultivar de amora-preta desenvolvida pela Embrapa.
A BRS Terena é focada ao mercado de consumo in natura, trazendo vantagens a agricultores e consumidores.
Maria do Carmo Bassols Raseira, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado (RS) e coordenadora do projeto de melhoramento de amoras-pretas, destaca que a BRS Terena produz, em média, 1,2 kg por planta, com picos de produção de até 1,8 kg, proporcionando aos produtores um potencial de lucro líquido em torno de R$ 30 mil por hectare.
“ Além disso, a cultivar recém lançada traz vantagens operacionais, como menor densidade de espinhos em relação à cultivar Tupy, o que facilita o manejo e a colheita”, salienta.
A pesquisadora ressalta que BRS Terena é uma excelente opção para produtores que querem investir no mercado de frutas frescas.
“Seu sabor mais doce do que ácido e o tempo de prateleira prolongado fazem com que as frutas da nova cultivar sejam mais atrativas ao mercado”, afirma.
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Diferenciais em sabor e qualidade pós-colheita
O sabor é um dos principais destaques da BRS Terena. Comparada a outras cultivares, como a BRS Tupy, a Terena apresenta um sabor doce-ácido, com teor de sólidos solúveis (Brix) de 10,3º, superior aos 8,9º da Tupy e aos 9,5º da BRS Cainguá.
“O mais importante é que a proporção de açúcar em relação à acidez (responsável pela sensação doce ao paladar) é quase o dobro do obtido na cultivar Tupy. Isso se traduz em uma fruta mais doce, ideal para o consumo in natura, que atende à preferência do mercado brasileiro por frutas de menor acidez”, explica Maria do Carmo.
Segundo a especialista, outro diferencial é a capacidade de conservação. Em testes realizados no Laboratório de Fisiologia de Pós-colheita da Embrapa Clima Temperado, a nova cultivar manteve sabor, cor e firmeza durante 10 dias de armazenamento refrigerado, enquanto outras cultivares apresentaram maior degradação nesse período. As frutas observadas foram colhidas com ponto de maturação comercial. “Como o experimento foi por dez dias, pode ser que ainda conserve por mais tempo”, analisa a pesquisadora.
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Adaptação e regiões indicadas para cultivo
A nova cultivar é indicada para as regiões Sul e Sudeste e algumas áreas do Nordeste do Brasil, onde já existem cultivos de amoreira-preta, podendo atingir altas produtividades.
Andrea de Rossi, pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho (RS) que lidera os experimentos para validação da cultivar em Vacaria (RS), na região dos Campos de Cima da Serra, confirma que a cultivar atingiu produções de 1,8 kg/planta na média de quatro safras avaliadas, superando a Tupy em algumas condições.
Onde comprar mudas
As mudas da BRS Terena estão disponíveis para compra em viveiros licenciados, como o Frutplan Mudas, em Pelotas (RS), e o Guatambu Viveiro de Mudas, em Ipuiúna (MG).
Como parte da tradição do programa de melhoramento genético, o nome da cultivar homenageia os povos indígenas brasileiros, neste caso, o povo Terena. É resultado de uma parceria entre dois centros de pesquisa da Embrapa localizados no Rio Grande do Sul: Embrapa Clima Temperado e Embrapa Uva e Vinho.
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Melhoramento genético de amoreiras-pretas
O desenvolvimento da BRS Terena é resultado de décadas de pesquisa da Embrapa, que começou a introduzir amoreiras-pretas no Brasil nos anos 1970. As primeiras cultivares de amoreira-preta, de origem norte-americana, foram introduzidas no Brasil em 1972, com a implantação da primeira coleção semi-comercial em 1974, no município de Canguçu (RS).
A primeira cultivar lançada, a partir do melhoramento, foi a Ébano, em 1981, embora o programa de melhoramento genético tenha sido registrado oficialmente apenas em 1983, com o lançamento da segunda cultivar, a Negrita.
Desde então, o programa lançou as cultivares Guarani (1988), Tupy (1988) – ainda a mais cultivada no Brasil -, Caingangue (1992), BRS Xavante (2002) e, mais recentemente, a BRS Xingu (2015), a BRS Cainguá (2018), a BRS Ticuna (2023) e a BRS Karajá (2024).
A Tupy, por exemplo, ainda é a cultivar mais plantada no Brasil, graças à sua adaptação ao manejo diferenciado para a colheita programada (escalonamento para época mais lucrativa ao produtor) e à produtividade. No entanto, novas cultivares, como a BRS Terena, trazem avanços importantes, como sabor mais doce, maior conservação e facilidade de manejo.
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Atualmente, a Embrapa dispõe de cinco cultivares de amoreira-preta lançadas nos últimos dez anos e licenciadas junto a viveiristas para comercialização de mudas.
Segundo a pesquisadora Maria do Carmo, o trabalho de melhoramento segue em andamento na busca por reunir várias características numa única cultivar. “A ideia também é ofertar diferentes cultivares, algumas mais precoces e outras mais tardias do que a Tupy, de maneira a ampliar o período de colheita”, explica.
Com relação ao sabor, o objetivo da pesquisa é desenvolver materiais com relação açúcar-acidez mais alta com foco no mercado in natura. “O mercado brasileiro prefere sabor mais doce”, afirma a profissional.
Maria do Carmos complementa que, “além disso, o programa de melhoramento busca aliar outra característica relevante ao campo: a ausência de espinhos, reduzindo dificuldades na colheita”.
Porém, de acordo com a pesquisadora, a maioria das variedades sem espinhos possui sabor amargo predominante, sendo mais adequadas à indústria, como é o caso das cultivares Ébano e BRS Xavante. “A BRS Karajá tem sabor menos amargo, mas ainda não chegamos no que queríamos. A cada geração, vamos avançando um pouco mais”, conta.
O trabalho da pesquisa também busca o desenvolvimento de cultivares remontantes ou reflorescentes – que podem produzir no outono e no verão, mesmo sem tratamento especial -, como ocorre com a Tupy.
A especialista destaca que além disso, também são valorizados aspectos como tamanho da fruta, resistência a doenças, produtividade igual ou maior do que a Tupy, tamanho pequeno das sementes, firmeza e conservação pós-colheita.
Amora-preta BRS Xingu (2015)
Desenvolvida para condições de inverno ameno, destaca-se por sua maturação mais tardia do que a Tupy, que permite estender o período de colheita em duas semanas, em média.
Em avaliações durante seis safras, também apresentou produção média de 800g a mais de frutas por planta do que a cultivar Tupy, considerada referência.
A firmeza garante boa conservação pós-colheita. É indicada para os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, na região Sudeste; e Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, na região Sul.
A BRS Xingu pode ser utilizada para comercialização in natura ou para elaboração de doces, principalmente geleias, desidratados, sucos, iogurtes e sorvetes.
Amora-preta BRS Cainguá (2019)
Tem excelente aceitação para o consumo in natura devido à ótima aparência e ao equilíbrio entre acidez e açúcar.
Precisa de 200 a 300 horas de acúmulo de frio hibernal (temperaturas iguais ou menores que 7,2 °C) para apresentar uma boa produção. Foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com outras instituições.
Amora-preta BRS Ticuna (2023)
Cultivar altamente produtiva destinada ao processamento, como opção para a produção de geleias e sucos, por apresentar alta acidez.
Um hectare pode render até 20 toneladas de frutas, sendo considerada uma das cultivares mais produtivas, o que faz superar a cultivar referência que é a BRS Tupy.
É resistente a doenças e indicada para o cultivo em sistema orgânico, sendo necessário o controle de ferrugem e cuidados com a mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) e com a Drosófila da Asa Manchada (Drosophila suzukii). É adaptada aos estados da região Sul do Brasil.
Amora-preta BRS Karajá (2024)
Cultivar sem espinhos, o que facilita o manejo, mas com moderada acidez.
Suas frutas, de coloração preto-avermelhada, são de tamanho médio – massa média de 4,5 g por fruta – e formato ovalado, com sabor doce-ácido levemente amargo.
São recomendadas para congelamento, processamento ou consumo fresco. A produção média é de 1,4 kg por planta.
Amora-preta BRS Terena (2024)
Com características como sabor mais doce, longa conservação e fácil manejo, representa um avanço significativo para o cultivo de amoreiras-pretas no Brasil e promete ser uma aliada importante para produtores em busca de qualidade e lucro.
Com produção média de 1,2 kg por planta, com picos de produção de até 1,8 kg, a BRS Terena oferece aos produtores um potencial de lucro líquido superior a R$ 30 mil por hectare, além de vantagens operacionais, como menor densidade de espinhos, que facilita o manejo e a colheita.
Fontes: Embrapa Uva e Vinho e Embrapa Clima Temperado
Foto abertura: Nova cultivar de amora BRS Terena Foto Silvio Alves/Embrapa/ Divulgação