Empresas investem em soluções sustentáveis para mitigar esses riscos e preservar a segurança dos ecossistemas (Foto: Divulgação)
O debate sobre a segurança de insumos agrícolas, nos últimos anos, tem sido destaque nas discussões sobre sustentabilidade e saúde pública. Um dos componentes que mais geram preocupação dentre os adjuvantes é o nonilfenol etoxilado, substância química amplamente utilizada por sua capacidade de melhorar a eficácia dos defensivos agrícolas.
Embora tenha bom desempenho no campo, seus efeitos em longo prazo são alarmantes, tanto para os ecossistemas, quanto para os seres humanos. Diversos estudos indicam que o nonilfenol etoxilado tem potencial carcinogênico, podendo alterar o funcionamento das células e, com o tempo, aumentar o risco de desenvolvimento de câncer.
Além disso, como disruptor endócrino, ele interfere nos sistemas hormonais, afetando a saúde reprodutiva e aumentando a vulnerabilidade a doenças hormonais, como o câncer de mama e doenças metabólicas. “Essas preocupações são particularmente graves em regiões agrícolas, onde trabalhadores e comunidades locais ficam expostos a altos níveis dessas substâncias”, alerta o químico responsável na Sell Agro, Marcelo Hilário.
No entanto, conforme explica o especialista, os problemas vão além da saúde humana, uma vez que o nonilfenol etoxilado tem uma alta persistência no meio ambiente, o que significa que ele não se degrada facilmente, acumulando-se nos solos e corpos d’água, gerando um risco elevado para a biodiversidade, afetando de forma negativa os ecossistemas aquáticos e a microbiota do solo.
Perigos
Estudo conduzido pela Agência Europeia de Substâncias Químicas (ECHA), constatou que o nonilfenol etoxilado é altamente tóxico para organismos aquáticos, pois ele interfere no sistema hormonal de peixes e anfíbios, causando deformidades, comprometendo a reprodução e afetando a capacidade de crescimento desses animais.
“Esse impacto em ecossistemas aquáticos pode levar a desequilíbrios graves nas cadeias alimentares, resultando na redução da biodiversidade e no colapso de habitats essenciais”, reforça o químico.
No solo, essa substância altera a microbiota, a comunidade de microrganismos essenciais para a ciclagem de nutrientes. “A degradação da diversidade microbiana afeta processos vitais, como a fixação de nitrogênio e a decomposição de matéria orgânica, reduzindo a fertilidade dos solos agrícolas e, consequentemente, a produtividade das colheitas. Isso gera um efeito cascata na cadeia produtiva, que pode impactar diretamente os agricultores”, explica.
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O futuro do segmento
No entanto, conforme destaca Hilário, a crescente conscientização sobre esses problemas tem levado a indústria agrícola a buscar alternativas mais seguras e sustentáveis para a formulação de seus produtos, movimento que, consequentemente, também gera reflexos econômicos positivos.
Na avaliação do especialista, o uso de produtos sustentáveis reduz os custos de remediação ambiental e diminui a necessidade de medidas de mitigação de impactos negativos. “Além disso, o consumidor final, cada vez mais consciente das questões ambientais, tende a valorizar produtos que estejam alinhados com boas práticas de sustentabilidade”, acrescenta.
Com o avanço da ciência e a pressão crescente por práticas mais sustentáveis, espera-se que a substituição de produtos como o nonilfenol etoxilado se torne uma norma no setor agrícola. Regulamentações mais rigorosas em várias partes do mundo, como as diretrizes da União Europeia, já estão restringindo o uso de substâncias perigosas, e o mercado está respondendo com inovação e desenvolvimento de novas tecnologias.
Para Hilário, o caminho para uma agricultura mais segura e sustentável pode ser desafiador, mas os avanços no setor mostram que é possível preservar o futuro sem comprometer a produtividade. “Acredito que o futuro da agricultura depende de soluções inovadoras que protejam o solo, a água e as pessoas. É nosso compromisso continuar desenvolvendo produtos que reflitam essa visão de longo prazo”, conclui o químico.