Com uma visão comprometida com a sustentabilidade, a Hakkuna promete oferecer ao mercado uma alternativa eficiente com base nos pequenos, mas poderosos, insetos (Foto: Divulgação)
Em Piracicaba, no interior de São Paulo, a startup Hakkuna, fundada por Luiz Filipe Carvalho, espera inovar no segmento de suplementos proteicos, com um produto feita a partir de grilos.
Em entrevista à Revista A Lavoura, Luiz Filipe compartilhou a trajetória da empresa e os desafios enfrentados no mercado brasileiro.
Engenheiro de materiais de formação, ele fundou a HaKkuna no final de 2015, após reencontrar um amigo da faculdade e participar de um programa de aceleração de startups.
“Queria uma fonte de proteína mais natural, mais sustentável, de qualidade boa para eu consumir”, explica.
“Os insetos são, hoje, os animais mais eficientes que existem para converter o que eles comem para a proteína”, ressalta o empresário. Além disso, a empresa aposta na aceitação crescente de consumidores preocupados com o meio ambiente e a qualidade nutricional.
“Eles já são tratados como uma superfood”, destaca.
Início da jornada
Ao descobrir a Exoprotein, uma startup americana que fazia barras de proteína com pó de grilo, e ao ler um estudo da FAO sobre insetos como fonte de segurança alimentar, Luiz Filipe decidiu investir na criação de grilos.
Inicialmente, ele comprou matrizes de grilo e começou a criar os insetos na própria república onde morava. “Chamava uns amigos para comer grilo”, conta.
A partir daí, ele então desidratou alguns insetos, fez uma farinha e criou uma granola caseira, que levou para academias e lojas de suplementos para testar a aceitação do produto.
“Vi que poderia virar um negócio”, disse ele, após receber feedback positivo de uma dona de loja que quis vender seu produto.
Crescimento e desafios
A empresa se desenvolveu aos poucos, participando de vários programas de aceleração e obtendo um aporte da FAPESP em 2020.
“Conseguimos um aporte deles, um projeto que chama PIPE, que eles, a fundo perdido, dão capital para empresas que estão nascendo”, explicou o empresário.
Já com um convênio com a Esalq, a Hakkuna começou a desenvolver sua base científica e tecnológica.
No entanto, a falta de matéria-prima no Brasil levou a empresa a criar seus próprios insetos. “A gente viu que deveria criar os próprios insetos, pela falta da matéria-prima”, afirmou.
Importar grilos era inviável economicamente, com custos que chegavam a 35 dólares o quilo, enquanto a produção local era mais barata, explica.
Além do mercado de suplementos para humanos, a Hakkuna identificou uma demanda interessante no mercado pet
“Alguns animais têm alergias a proteínas tradicionais, então é interessante porque o inseto é hipoalergênico para cachorros”, diz Luiz Filipe.
A empresa está em fase de formatação de parcerias com empresas de alimentos para pets e pretende lançar produtos em co-branding e hoje faz parte do SNASH – Hub de Startups apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura.
Barreiras regulatórias
Atualmente, o maior desafio da Hakuna é a regulação para consumo humano no Brasil, que ainda envolve um processo complicado.
Segundo Luiz Filipe, a Anvisa exige registros rigorosos e caros para novos ingredientes – como está classificado o grilo.
“Hoje o tempo médio da regulação na Anvisa está girando em torno de 478 dias”.
Apesar dos desafios, o empresário e sua equipe continuam otimistas.
“O sonho da Hakkuna está aqui. Em algum momento nós vamos ser essa marca de suplementos e alimentos”, afirma.
Enquanto isso, a empresa busca parcerias estratégicas e investimentos para superar as barreiras e expandir sua produção. “Estamos apostando hoje no mercado de capital de risco”, conclui Luiz Filipe.
Redação A Lavoura