Equinócio marca o início da estação
Em relógios solares de igrejas barrocas há uma frase latina sobre o passar das horas: vulnerant omnes, ultima necat. Todas ferem, a última mata. As marcas mais universais da passagem do tempo são as estações. Não as horas. Este 23 de setembro é equinócio de primavera. Acaba o tempo do inverno. Aqui, no Peru, Namíbia, Angola ou Timor.
Na região intertropical ,o clima é um relógio: chove no verão e o auge da seca é no inverno. Ele não é caótico, nem é essa incerteza toda apregoada por alguns. Nos cenários mais catastróficos sobre o clima, nunca nenhum “especialista” anunciou mudanças no regime de chuvas ou nas estações. A dinâmica da atmosfera é movida por quantidades colossais de energia solar e sua absorção, sobretudo, nos oceanos.
A Terra tem quatro estações por duas razões: seu eixo de rotação é inclinado 23° 27’ minutos e se mantém paralelo a si mesmo. Se fosse perpendicular, não haveria estações. Só um gradiente de calor entre polos e equador.
No equinócio, faça chuva ou sol, o dia dura 12 horas. A noite também. No Brasil, Europa, Austrália, Japão, Canadá e Polo Sul. No planeta. São as leis da natureza. Equinócio: do latim aequinoctĭu, igualdade de dias e noites. Sinal de equilíbrio, tão necessário ao Brasil, sobretudo aos guardiões da Lei.
Todo dia, o sol nasce a Leste e se põe a Oeste. No equinócio, ele nasce no Leste. Ele marca exatamente no horizonte o ponto cardeal Leste. E se põe no ponto cardeal Oeste. Bom para calibrar bússolas! E para observar da janela lateral e marcar esses dois pontos de referência no horizonte: Leste e Oeste.
No equinócio, o sol a pino traça no solo a linha do Equador. Postes não terão sombra ao meio dia na região equatorial, como em Macapá. Ali será possível ver o disco solar no fundo de um poço ao meio-dia, algo impossível em Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, onde o sol nunca chega a pino.
Por seis meses, desde o equinócio de outono, o sol andou a pino na zona tropical do hemisfério Norte. Deslocou-se até o Trópico de Câncer e agora retornou ao Equador. Do equinócio de primavera em diante, se deslocará para o Sul até o Trópico de Capricórnio, no solstício de verão.
A beleza dos ciclos celestes no trabalho rural segue o tempo da natureza. Com a primavera, chegam as chuvas. O produtor prepara máquinas, sementes e planeja. Semeia com esperança. Velhinhos do Restelo vaticinam com pragas apocalípticas, terrorismo verde e terríveis mudanças climáticas. E todo ano cresce a produtividade. O Brasil plantará, de novo, a maior safra de grãos de sua história. O agro vive no tempo da inovação e da ciência.
Cada hora vivida, deixa sua marca. Cabe viver bem todas as horas, boas ou más. As horas ferem. Não permitir ferimentos letais, bons ou maus. Retardar a última. Narrativas são narrativas. Já dizia o padre Vieira: os discursos dos que não viram, são discursos. Os discursos dos que viram, profecias.