Há 90 anos, uma mutação genética natural fez surgir em Jundiaí, interior de São Paulo a variedade típica da região que hoje é conhecida como Terra da Uva
A uva niagara rosada de Jundiahy agora tem o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG), na categoria Indicação de Procedência (IP).
A escrita com as letras “h” e “y” se explica porque, no passado, entre o final do século 19 e início do século 20, essa variedade de uva era cultivada numa imensa área de terra que se chamava Jundiahy. Depois, os municípios foram desmembrados – Jundiaí, Louveira, Itupeva, Jarinu e Itatiba.
A região, então chamada Jundiahy, iniciou sua viticultura em setembro de 1887. Em 1933, pela primeira vez, três cachos de uvas rosadas surgiram em meio às dezenas de outros brancos da variedade niagara branca.
Essa mutação somática natural de um cacho rosado nascer a partir da variedade niagara branca, deu origem à niagara rosada – e iria diferenciar as uvas de Jundiaí de todas as outras do mundo.
Marco
Os cachos rosados diferenciados foram encontrados pelo viticultor Aurélio Franzini, nos vinhedos de propriedade de Antônio Carbonari localizados no bairro Traviú, em Jundiaí. Esse acontecimento é o marco que traria para a cidade o título de Terra da Uva e ser considerada o berço da niagara rosada.
Hoje, a variedade típica da região é motivo de muita celebração pelos produtores, habitantes das cidades do entorno e um número crescente de turistas.
Surgimento e transformação
Da interpretação agronômica, a uva niagara rosada é o resultado de uma mutação somática, a partir da variedade niagara branca, cultivar americana introduzida no Brasil por Benedito Marengo por volta de 1894 e que apareceu em Jundiaí no ano de 1910, pelas mãos dos produtores Roberto Carbonari, pai e filho.
O surgimento da variedade rosada é considerado um dos momentos mais importantes da história da cidade de Jundiaí e de seu entorno, pois a partir desse acontecimento, bacelos de niagara rosada foram distribuídos a outros produtores da região, que passaram a adotá-la como a principal variedade cultivada.
A típica cultivar pode ser encarada como responsável pela transformação dos municípios da região pelo grande movimento agrícola, comercial e industrial que ocasionou e que hoje reflete a história de Jundiaí como notório e tradicional centro produtor de uva.
Notoriedade reconhecida
O prefeito Luiz Fernando Machado destaca que o reconhecimento da uva niagara rosada, como Indicação de Procedência, é um grande ganho para o agricultor da região. “Não é sem motivo que nossa cidade é nacionalmente conhecida como a ‘Terra da Uva’, uma vez que é responsável por 30% da produção de fruta no Estado de São Paulo”.
Eduardo Alvarez, gestor de Agronegócio, Abastecimento e Turismo de Jundiaí, lembra que apesar dessa variedade de uva ser produzida em outras regiões brasileiras, a qualidade da niagara rosada de Jundiaí é reconhecida nacionalmente. “E isso é nitidamente percebido na Ceasa, por exemplo, onde há grande procura pela uva de Jundiaí”.
Reconhecimento e turismo na região
Segundo o auditor fiscal do Ministério da Agricultura e Pecuária, Francisco José Mitidieri, o caderno de especificações da produção, criado durante o processo, será fundamental para que os produtores interessados em se beneficiar do reconhecimento cultivem a uva dentro dos padrões estabelecidos.
“Essa grafia com ‘y’ foi o ponto de união dos municípios que produzem a uva atualmente. Eles se reconhecem como membros daquele território, por produzirem a uva niagara rosada, terem colonização parecida e na mesma época e, também, cultivarem no mesmo solo”, afirmou.
Rene José Tomasetto, presidente da Associação Agrícola de Jundiaí, explica que os cinco municípios contemplados reúnem entre 700 e 800 produtores de uva.
“A ideia é atrair mais turistas à região e despertar o interesse pela niagara rosada de Jundiahy, que compreende todas essas cidades e, com certeza, vai estimular muito todos os produtores rurais”.