Cultivo de forragem verde hidropônica traz inúmeros benefícios ambientais, como economia de água e uso da terra, e redução de emissões de gás metano
Um dos maiores desafios para os pecuaristas é o temido período de seca, onde há menos incidência de chuvas e, com isso, uma menor oferta de pasto para os animais.
Pequenos e médios produtores acabam sendo os maiores afetados, uma vez que ficam mais expostos à falta de previsibilidade em relação ao volume de pastagem, o que afeta na hora da decisão de aumentar sua produção.
Pensando em reduzir esse risco, a Biofeed aposta na produção de forragem hidropônica em sistema vertical em ambiente climatizado. A proposta garante pasto de alta qualidade nutricional, menor impacto ambiental, e com oferta o ano inteiro.
“Nosos objetivo é ajudar o pequeno e médio produtor a ter previsibilidade para aumentar sua produção”, diz Renato dos Santos, fundador e dono da Biofeed, em entrevista à Revista A Lavoura.
Ele conta que o sistema de produção já é muito utilizado em países da Europa, como a Holanda, que possui grande produção agropecuária, com destaque para o gado de leite, mesmo enfrentando baixas temperaturas durante o período de inverno.
Como funciona
Em bandejas com água empilhadas em prateleiras são colocadas as sementes, pré selecionadas e germinadas, de milho, aveia e cevada.
O processo de cultivo de hidroponia vertical é totalmente feito em ambiente climatizado e controlado, com luz artificial de led. Em apenas sete dias após o cultivo o pasto já fica pronto para o consumo.
“Não usamos nenhum tipo de defensivo, apenas água e luz”, pontua Santos.
O fundador da BioFeed lembra ainda que há uma economia gigante de água utilizada no processo, em comparação ao cultivo tradicional de forragem.
“Reutilizamos cerca de 98% de toda água (…) Além disso, instalamos painéis fotovoltaicos que abastecem as luzes de led, o que representa maior economia nos custos com energia”, afirma.
A forragem produzida é indicada para alimentação de gado de corte e leite, equinos, ovinos, caprinos, suínos, aves, coelhos, entre outros animais.
Menor necessidade de área de pastagem
Atualmente, a companhia já construiu três unidades de produção no Brasil, uma em São Paulo, uma no Rio Grande do Sul, e outra no Distrito Federal, em Brasília.
O pecuarista interessado na forragem hidropônica pode aderir ao sistema de cotas de produção da Biofeed, garantindo uma produção mensal com uma redução de custo de 30% na compra dos produtos.
Existe também a possibilidade de contratação de um projeto dedicado e exclusivo que pode ser instalado na propriedade.
Outra vantagem, segundo Santos, é a economia de área, que pode ser “até 100 vezes menor que a necessária para a produção convencional de forragem”.
Isso permite aos produtores, principalmente os pequenos e médios, otimizar o uso do espaço e reduzir a dependência de grandes áreas de pastagem.
A prática está alinhada ao conceito de pecuária intensiva, que consiste em rebanhos maiores em menos espaço de terra. Hoje, no Brasil, a pecuária extensiva, com criação de gado solto por grandes áreas de pasto, representa 95% da criação de animais.
No caso do Polo de Produção DF, por exemplo, são utilizados 4 hectares com capacidade de produzir 80,2 toneladas de forragem por dia.
“Em uma conta simples, com uma produção de 80 mil quilos dia, é o suficiente para alimentar 5.300 cabeças de gado”, estima Santos.
Qualidades nutricionais e bem-estar animal
A forragem verde hidropônica é um alimento fresco e com teor super concentrado de vitaminas, nutrientes e minerais por ser um broto, pontua Santos.
“Isso também significa redução de custos para o pecuarista que não vai precisar comparar suplementos para alimentação animal”, diz
A economia nas despesas para fabricação ou compra de ração (proteinado) pode ser mais de 50%, segundo a Biofeed.
Além disso, os brotos, considerados superalimentos, podem proporcionar um ganho expressivo no rendimento da carcaça e produção de leite. Santos também destaca o aumento na imunidade do rebanho, evitando doenças, e do bem-estar animal.
“Há uma redução na necessidade de antibióticos, pois aumenta a imunidade dos animais, reduz, por exemplo, a incidência de mastite em vacas leiteiras, e de cólicas em equinos”.
A forragem possui 90% de digestibilidade, uma vez que é rica em proteína bruta (PB) e nutrientes digestivos totais (NDT).
Menos emissão de metano
“Hoje há estudos que comprovam que o consumo desses brotos diminui a ruminação, uma vez que melhoram muito a digestibilidade, o que reduz enormemente a emissão de gás metano”, afirma Santos.
O gás metano (CH4) é emitido pelos bovinos devido à fermentação entérica que ocorre no processo digestivo dos animais. Assim como o gás carbônico (CO2) e o óxido nitroso (N2O), é responsável pelo efeito estufa, que intensificado, gera o aquecimento global.
Depois de ingeridos pelos bovinos, os alimentos vão para o rúmen, órgão do aparelho digestivo, onde micro-organismos ajudam na digestão por meio da fermentação, produzindo também o gás metano, que é emitido para a atmosfera a partir da eructação (arroto) dos animais.
O assunto é cada vez mais relevante para a pecuária brasileira, uma vez que o Brasil aderiu ao Pacto Mundial do Metano na COP26, realizada na Escócia em 2021, no qual se comprometeu a reduzir a emissão desse gás..
Segundo dados do Observatório do Clima, 70,5% das emissões nacionais de metano são originadas da agropecuária, sendo 90% oriundas da fermentação entérica dos bovinos.