Especialista explica o funcionamento e ensina como proteger a flora intestinal de seu animal
A microbiota, também chamada de flora intestinal, é a junção de milhões de microrganismos que habitam o trato gastrointestinal e, assim como nos humanos, cada vez mais, a microbiota dos pets é considerada o “segundo cérebro”.
A zootecnista e mestre em nutrição animal, Aline Motta, da Cão Integral, lembra que tem até aquela brincadeira de falar que quando alguém fica nervoso dá dor de barriga. “Então, esse é o seu segundo cérebro respondendo ao seu nervosismo. Com os animais, não é diferente”, explica.
De acordo com a especialista, a microbiota tem um papel importante em processos metabólicos, fisiológicos, nutricionais e imunológicos, sendo estabelecida depois do parto e, a partir daí, é muito dinâmica em seu desenvolvimento.
“Durante a vida do indivíduo, há uma expansão em termos de riqueza e diversidade, que é influenciada pelo ambiente, condições de saúde e alimentação, e que, em estágios tardios da vida, mostra um declínio em diversidade e também em dinamismo”, detalha.
Funcionalidade
Conforme explica, a microbiota intestinal proporciona a fermentação de substrato não digerido, como as fibras dietéticas e do muco intestinal. “Essa fermentação favorece o crescimento de microrganismos e também a produção de ácidos graxos de cadeia curta (SCFA) e de gases”, afirma e acrescenta que alguns dos SCFA produzidos são o butirato, propionato e acetato.
De acordo com a zootecnista, os SCFA são importantes para as células epiteliais do intestino e regulam funções diversas como no impacto da motilidade intestinal, no fortalecimento das barreiras intestinais e também do metabolismo do hospedeiro (neste caso, cães ou gatos).
“A falta deles está associada a problemas como síndrome do intestino irritável, permeabilidade intestinal, má absorção de nutrientes e inflamação local”, informa.
Estudos recentes mostram que, em particular, o butirato também está ligado a funções imuno-modulatórias, ao gerar energia para as células, e muito se fala em seu poder apoptótico (morte celular programada) de células ligadas ao câncer de cólon retal (em humanos).
Ainda conforme estudos, o acetato regula o metabolismo em tecidos extra intestinais, como no controle de colesterol e triglicérides, e o propionato está mais envolvido em processos no fígado e na sinalização da saciedade.
“O intestino tem muitas células imunes e elas interagem ativamente com a composição da microbiota, por isso, a falta ou o desequilíbrio desses microrganismos causa permeabilidade intestinal, que podem gerar outros problemas para o animal”, observa Aline.
Ela acrescenta que, quando importantes bactérias estão ausentes ou se apresentam em menor quantidade no organismo do animal, esse desequilíbrio é um gatilho para a inflamação e essa constante pode levar a problemas crônicos, como doença inflamatória intestinal, alergias de pele, otite, sistema imunológico enfraquecido, diabetes e até mesmo depressão.
Problemas
Aline afirma que o desequilíbrio da microbiota, chamado de disbiose, pode ser causado por fator genético, tipo de parto, pelo fato de o animal ter recebido o aleitamento materno, estilo de vida, como por exemplo a exposição ao solo (a exposição a ácidos húmicos e fúlvicos contribui para uma microbiota rica), excesso de medicações sem o devido controle e o tipo de alimentação.
“Dietas ricas em açúcares, baixa em fibras e rica em aditivos podem influenciar a um estado disbiótico”, esclarece e lembra que são inúmeros os problemas oriundos da disfunção da microbiota.
“Também podemos relacionar a inflamação e a permeabilidade intestinal, que vai causar a baixa absorção de nutrientes, excesso de gases, animais com fezes amolecidas e animais suscetíveis a constantes infecções e inflamações, como por exemplo alergias e otites de repetição”, destaca.
A especialista menciona que alguns sinais clássicos de disbiose são borborigmos (barulhos intestinais), excesso de gases, expansão abdominal, fezes amolecidas, com muco e com forte odor. “Os sintomas podem aparecer em conjunto ou não”, completa.
Controle
Uma das formas de manter o equilíbrio, tanto da microbiota quanto do trato intestinal dos animais, é através do uso de probióticos. Por definição, Aline informa que “probióticos são microrganismos vivos e que quando administrados no tendem a de trazer benefícios a saúde do hospedeiro”.
“É preciso pensar nessa definição ao se administrar probióticos, ou seja, você está colocando organismos vivos dentro do corpo do seu animal e é por isso que ela deve ser feita com orientação profissional”, orienta. “A administração de probióticos tem o poder de modificar a microbiota intestinal e nem sempre isso é positivo ou indicado, vide os casos de super crescimento bacteriano”, diz
Outra forma são os prebióticos, que não são organismos vivos, mas fibras não digeridas que vão ajudar na modulação da microbiota. “São como ‘adubo’ para o crescimento de uma microbiota saudável”, resume.
Aline cita como exemplo de prebióticos os Mananoligossacarídeos (MOS) e os Fruto-oligossacarídeos (FOS), ou mesmo a levedura de cerveja, que pode contribuir com o crescimento de boas bactérias intestinais em detrimento das bactérias ruins.“Estes, também, não devem ser dados sem orientação, pois cada indivíduo terá uma indicação específica”, orienta.
Tratamentos
Para tratar o desequilíbrio na flora intestinal, Aline sugere ajustes na dieta, com a indicação de alimentos aos quais o animal tenha maior tolerância, baixa fermentação, além de utilização de nutracêuticos para o controle da inflamação.
“Além disso, o suporte com prébioticos, probióticos, Bio MAMPS, entre outros, auxiliam no restabelecimento da microbiota”, exemplifica, mas alerta que, em alguns casos, tratamentos mais sérios como o transplante fecal podem também ser indicados.
Porém, ela ressalta que apenas a administração de probióticos não é o suficiente para o reequilíbrio da microbiota. “Também não adianta dar comida sem um balanceamento correto, é preciso manter uma dieta rica em fibras, com uma inserção de pouca quantidade de alimentos frescos, cerca de 10% na dieta seca ou uma dieta caseira apropriadamente balanceada”, ensina.
Para concluir, Aline lembra que um hábito de vida saudável, sem o uso indiscriminado de medicações ou inseticidas desnecessários, com atividade física para estimular o movimento intestinal, são pontos chave para uma microbiota rica e saudável. “A higiene bucal também é importante. Manter os destes limpos contribui para que não haja formação de placa e tártaro e migração de bactérias ruins para o intestino”, finaliza a especialista.